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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Bad Reputation - Joan Jett

Eu não to nem aí sobre a minha reputação
Você está vivendo no passado, está é a nova geração
Uma garota pode fazer o que ela quer fazer e isso
É o que vou fazer
E eu não to nem aí pra minha má reputação


Oh não, eu não.


E eu não to nem aí pra minha reputação
Nunca disse que eu queria melhorar minha condição social
E eu apenas estou fazendo bem
Quando estou me divertindo
E eu não tenho que agradar ninguém
E eu não to nem aí
Sobre minha má reputação


Oh não, eu não.
Oh não, eu não.


Eu não tô nem ai
Sobre minha reputação
Eu nunca tive medo de qualquer desvio
E eu realmente não ligo
Se você pensa que eu sou estranha
Eu não vou mudar
E nunca vou estar nem ai
Sobre minha má reputação


Oh não, eu não
Oh não, eu não


Pedalem garotos !


E eu não to nem aí
Sobre minha reputação
O mundo está em perigo
Não há comunicação
E todos podem dizer
O que eles querem dizer
Seja como for isso nunca vai melhorar
Então, por que eu deveria me importar
Sobre minha má reputação?
Oh não, eu não.
Oh não, eu não.


Eu não to nem aí sobre minha má reputação
Você está vivendo no passado
Essa é uma nova geração
E eu apenas me sinto bem
Quando eu não tenho dor
E é assim que eu vou ficar
E eu não to nem aí
Sobre minha má reputação


Oh não, eu não
Oh não, não
Eu não, eu não

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O ovo e a Galinha - Clarice Lispector

De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo.
Olho o ovo com um só olhar. Imediatamente percebo que não se pode estar vendo um ovo. Ver o ovo nunca se mantêm no presente: mal vejo um ovo e já se torna ter visto o ovo há três milênios. – No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança de um ovo. – Só vê o ovo quem já o tiver visto. – Ao ver o ovo é tarde demais: ovo visto, ovo perdido. – Ver o ovo é a promessa de um dia chegar a ver o ovo. – Olhar curto e indivisível; se é que há pensamento; não há; há o ovo. – Olhar é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora. Ficarei com o ovo. – O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe.
Ver o ovo é impossível: o ovo é supervisível como há sons supersônicos. Ninguém é capaz de ver o ovo. O cão vê o ovo? Só as máquinas vêem o ovo. O guindaste vê o ovo. – Quando eu era antiga um ovo pousou no meu ombro. – O amor pelo ovo também não se sente. O amor pelo ovo é supersensível. A gente não sabe que ama o ovo. – Quando eu era antiga fui depositária do ovo e caminhei de leve para não entornar o silêncio do ovo. Quando morri, tiraram de mim o ovo com cuidado. Ainda estava vivo. – Só quem visse o mundo veria o ovo. Como o mundo o ovo é óbvio.
O ovo não existe mais. Como a luz de uma estrela já morta, o ovo propriamente dito não existe mais. – Você é perfeito, ovo. Você é branco. – A você dedico o começo. A você dedico a primeira vez.
Ao ovo dedico a nação chinesa.
O ovo é uma coisa suspensa. Nunca pousou. Quando pousa, não foi ele quem pousou. Foi uma coisa que ficou embaixo do ovo. – Olho o ovo na cozinha com atenção superficial para não quebrá-lo. Tomo o maior cuidado de não entendê-lo. Sendo impossível entendê-lo, sei que se eu o entender é porque estou errando. Entender é a prova do erro. Entendê-lo não é o modo de vê-lo. – Jamais pensar no ovo é um modo de tê-lo visto. – Será que sei do ovo? É quase certo que sei. Assim: existo, logo sei. – O que eu não sei do ovo é o que realmente importa. O que eu não sei do ovo me dá o ovo propriamente dito. – A Lua é habitada por ovos.
O ovo é uma exteriorização. Ter uma casca é dar-se.- O ovo desnuda a cozinha. Faz da mesa um plano inclinado. O ovo expõe. – Quem se aprofunda num ovo, quem vê mais do que a superfície do ovo, está querendo outra coisa: está com fome.
O ovo é a alma da galinha. A galinha desajeitada. O ovo certo. A galinha assustada. O ovo certo. Como um projétil parado. Pois ovo é ovo no espaço. Ovo sobre azul. – Eu te amo, ovo. Eu te amo como uma coisa nem sequer sabe que ama outra coisa. – Não toco nele. A aura de meus dedos é que vê o ovo. Não toco nele – Mas dedicar-me à visão do ovo seria morrer para a vida mundana, e eu preciso da gema e da clara. – O ovo me vê. O ovo me idealiza? O ovo me medita? Não, o ovo apenas me vê. É isento da compreensão que fere. – O ovo nunca lutou. Ele é um dom. – O ovo é invisível a olho nu. De ovo a ovo chega-se a Deus, que é invisível a olho nu. – O ovo terá sido talvez um triângulo que tanto rolou no espaço que foi se ovalando. – O ovo é basicamente um jarro? Terá sido o primeiro jarro moldado pelos etruscos ? Não. O ovo é originário da Macedônia. Lá foi calculado, fruto da mais penosa espontaneidade. Nas areias da Macedônia um homem com uma vara na mão desenhou-o. E depois apagou-o com o pé nu.
O ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por isso a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse os tempos a galinha existe. Mãe é para isso. – O ovo vive foragido por estar sempre adiantado demais para a sua época. – O ovo por enquanto será sempre revolucionário. – Ele vive dentro da galinha para que não o chamem de branco. O ovo é branco mesmo. Mas não pode ser chamado de branco. Não porque isso faça mal a ele, mas as pessoas que chamam ovo de branco, essas pessoas morrem para a vida. Chamar de branco aquilo que é branco pode destruir a humanidade. Uma vez um homem foi acusado de ser o que ele era, e foi chamado de Aquele Homem. Não tinham mentido: Ele era. Mas até hoje ainda não nos recuperamos, uns após outros. A lei geral para continuarmos vivos: pode-se dizer “um rosto bonito”, mas quem disser “O rosto”, morre; por ter esgotado o assunto.
Com o tempo, o ovo se tornou um ovo de galinha. Não o é. Mas, adotado, usa-lhe o sobrenome. – Deve-se dizer “o ovo da galinha”. Se eu disser apenas “o ovo”, esgota-se o assunto, e o mundo fica nu. – Em relação ao ovo, o perigo é que se descubra o que se poderia chamar de beleza, isto é, sua veracidade. A veracidade do ovo não é verossímil. Se descobrirem, podem querer obrigá-lo a se tornar retangular. O perigo não é para o ovo, ele não se tornaria retangular. (Nossa garantia é que ele não pode: não poder é a grande força do ovo: sua grandiosidade vem da grandeza de não poder, que se irradia como um não querer.) Mas quem lutasse por torná-lo retangular estaria perdendo a própria vida. O ovo nos expõe, portanto, em perigo. Nossa vantagem é que o ovo é invisível. E quanto aos iniciados, os iniciados disfarçam o ovo.
Quanto ao corpo da galinha, o corpo da galinha é a maior prova de que o ovo não existe. Basta olhar para a galinha para se tornar óbvio que o ovo é impossível de existir.
E a galinha? O ovo é o grande sacrifício da galinha. O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida. O ovo é o sonho inatingível da galinha. A galinha ama o ovo. Ela não sabe que existe o ovo. Se soubesse que tem em si mesma o ovo, perderia o estado de galinha. Ser galinha é a sobrevivência da galinha. Sobreviver é a salvação. Pois parece que viver não existe. Viver leva a morte. Então o que a galinha faz é estar permanentemente sobrevivendo. Sobreviver chama-se manter luta contra a vida que é mortal. Ser galinha é isso. A galinha tem o ar constrangido.
É necessário que a galinha não saiba que tem um ovo. Senão ela se salvaria como galinha, o que também não é garantido, mas perderia o ovo. Então ela não sabe. Para que o ovo use a galinha é que a galinha existe. Ela era só para se cumprir, mas gostou. O desarvoramento da galinha vem disso: gostar não fazia parte de nascer. Gostar de estar vivo dói. – Quanto a quem veio antes, foi o ovo que achou a galinha. A galinha não foi sequer chamada. A galinha é diretamente uma escolhida. – A galinha vive como em sonho. Não tem senso de realidade. Todo o susto da galinha é porque estão sempre interrompendo o seu devaneio. A galinha é um grande sono. – A galinha sofre de um mal desconhecido. O mal desconhecido é o ovo. – Ela não sabe se explicar: “ sei que o erro está em mim mesma”, ela chama de erro a vida, “não sei mais o que sinto”, etc.
“Etc., etc., etc.,” é o que cacareja o dia inteiro a galinha. A galinha tem muita vida interior. Para falar a verdade a galinha só tem mesmo é vida interior. A nossa visão de sua vida interior é o que chamamos de “galinha”. A vida interior na galinha consiste em agir como se entendesse. Qualquer ameaça e ela grita em escândalo feito uma doida. Tudo isso para que o ovo não se quebre dentro dela. Ovo que se quebra dentro de galinha é como sangue.
A galinha olha o horizonte. Como se da linha do horizonte é que viesse vindo um ovo. Fora de ser um meio de transporte para o ovo, a galinha é tonta, desocupada e míope. Como poderia a galinha se entender se ela é a contradição de um ovo? O ovo ainda é o mesmo que se originou na Macedônia. A galinha é sempre tragédia mais moderna. Está sempre inutilmente a par. E continua sendo redesenhada. Ainda não se achou a forma mais adequada para uma galinha. Enquanto meu vizinho atende ao telefone ele redesenha com lápis distraído a galinha. Mas para a galinha não há jeito: está na sua condição não servir a si própria. Sendo, porém, o seu destino mais importante que ela, e sendo o seu destino o ovo, a sua vida pessoal não nos interessa.
Dentro de si a galinha não reconhece o ovo, mas fora de si também não o reconhece. Quando a galinha vê o ovo pensa que está lidando com uma coisa impossível. É com o coração batendo, com o coração batendo tanto, ela não o reconhece.
De repente olho o ovo na cozinha e vejo nele a comida. Não o reconheço, e meu coração bate. A metamorfose está se fazendo em mim: começo a não poder mais enxergar o ovo. Fora de cada ovo particular, fora de cada ovo que se come, o ovo não existe. Já não consigo mais crer num ovo. Estou cada vez mais sem força de acreditar, estou morrendo, adeus, olhei demais um ovo e ele me foi adormecendo.
A galinha não queria sacrificar a sua vida. A que optou por querer ser “feliz”. A que não percebia que, se passasse a vida desenhando dentro de si como numa iluminura o ovo, ela estaria servindo. A que não sabia perder-se a si mesma. A que pensou que tinha penas de galinha para se cobrir por possuir pele preciosa, sem entender que as penas eram exclusivamente para suavizar, a travessia ao carregar o ovo, porque o sofrimento intenso poderia prejudicar o ovo. A que pensou que o prazer lhe era um dom, sem perceber que era para que ela se distraísse totalmente enquanto o ovo se faria. A que não sabia que “eu” é apenas uma das palavras que se desenham enquanto se atende ao telefone, mera tentativa de buscar forma mais adequada. A que pensou que “eu” significa ter um si-mesmo. As galinhas prejudiciais ao ovo são aquelas que são um “eu” sem trégua. Nelas o “eu” é tão constante que elas já não podem mais pronunciar a palavra “ovo”. Mas, quem sabe, era disso mesmo que o ovo precisava. Pois se elas não estivessem tão distraídas, se prestassem atenção à grande vida que se faz dentro delas, atrapalhariam o ovo.
Comecei a falar da galinha e há muito já não estou falando mais da galinha. Mas ainda estou falando do ovo.
E eis que não entendo o ovo. Só entendo o ovo quebrado: quebro-o na frigideira. É deste modo indireto que me ofereço à existência do ovo: meu sacrifício é reduzir-me à minha própria vida pessoal. Fiz do meu prazer e da minha dor o meu destino disfarçado. E ter apenas a própria vida é, para quem viu o ovo, um sacrifício. Como aqueles que, no convento, varrem o chão e lavam a roupa, servindo sem a glória de função maior, meu trabalho é o de viver os meus prazeres e as minhas dores. É necessário que eu tenha a modéstia de viver.
Pego mais um ovo na cozinha, quebro-lhe a casca e forma. E a partir deste instante exato nunca existiu um ovo. É absolutamente indispensável que eu seja uma ocupada e uma distraída. Sou indispensavelmente um dos que renegam. Faço parte da maçonaria dos que viram uma vez o ovo e o renegam como forma de protegê-lo. Somos os que se abstêm de destruir, e nisso se consomem. Nós, agentes disfarçados e distribuídos pelas funções menos reveladoras, nós às vezes nos reconhecemos. A um certo modo de olhar, há um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor. E então, não é necessário o disfarce: embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é necessário dissimular. Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque o amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor. E não é prêmio, por isso não envaidece, amor não é prêmio, é uma condição concedida exclusivamente para aqueles que, sem ele, corromperiam o ovo com a dor pessoal. Isso não faz do amor uma exceção honrosa; ele é exatamente concedido aos maus agentes, àqueles que atrapalhariam tudo se não lhes fosse permitido adivinhar vagamente.A todos os agentes são dadas muitas vantagens para que o ovo se faça. Não é o caso de se ter inveja pois, inclusive algumas das condições, piores do que as dos outros, são apenas as condições ideais para o ovo. Quanto ao prazer dos agentes, eles também o recebem sem orgulho. Austeramente vivem todos os prazeres: inclusive é o nosso sacrifício para que o ovo se faça. Já nos foi imposta, inclusive uma natureza adequada a muito prazer. O que facilita. Pelo menos torna menos penoso o prazer.
Há casos de agentes que se suicidam: acham insuficientes as pouquíssimas instruções recebidas e se sentem sem apoio. Houve o caso do agente que revelou publicamente ser agente porque lhe foi intolerável não ser compreendido, e ele não suportava mais não ter o respeito alheio: morreu atropelado quando saía de um restaurante. Houve um outro que nem precisou ser eliminado: ele próprio se consumiu lentamente na sua revolta, sua revolta veio quando ele descobriu que as duas ou três instruções recebidas não incluíam nenhuma explicação. Houve outro também eliminado, porque achava que “a verdade deve ser corajosamente dita”, e começou em primeiro lugar a procurá-la; dele se disse que morreu em nome da verdade com sua inocência; sua aparente coragem era tolice, e era ingênuo o seu desejo de lealdade, ele compreendera que ser leal não é coisa limpa, ser leal é ser desleal para com todo o resto. Esses casos extremos de morte não são por crueldade. É que há um trabalho, digamos cósmico, a ser feito, e os casos individuais infelizmente não podem ser levados em consideração. Para os que sucumbem e se tornam individuais é que existem as instituições, a caridade, a compreensão que não discrimina motivos, a nossa vida humana enfim.
Os ovos estalam na frigideira, e mergulhada no sonho preparo o café da manhã. Sem nenhum senso da realidade, grito pelas crianças que brotam de várias camas, arrastam cadeiras e comem, e o trabalho do dia amanhecido começa, gritado e rido e comido, clara e gema, alegria entre brigas, dia que é o nosso sal e nós somos o sal do dia, viver é extremamente tolerável, viver ocupa e distrai, viver faz rir.
E me faz sorrir no meu mistério. O meu mistério é que eu ser apenas um meio, e não um fim, tem-me dado a mais maliciosa das liberdades: não sou boba e aproveito. Inclusive, faço um mal aos outros que, francamente. O falso emprego que me deram para disfarçar a minha verdadeira função, pois aproveito o falso emprego e dele faço o meu verdadeiro; inclusive o dinheiro que me dão como diária para facilitar a minha vida de modo a que o ovo se faça, pois esse dinheiro eu tenho usado para outros fins, desvio de verba, ultimamente comprei ações na Brahma e estou rica. A isso tudo ainda chamo de ter a necessária modéstia de viver. E também o tempo que me deram, e que nos dão apenas para que no ócio honrado o ovo se faça, pois tenho usado esse tempo para prazeres ilícitos e dores ilícitas, inteiramente esquecida do ovo. Esta é a minha simplicidade.
Ou é isso mesmo que eles querem que me aconteça, exatamente para que o ovo se cumpra? É liberdade ou estou sendo mandada? Pois venho notando que tudo que é erro meu tem sido aproveitado. Minha revolta é que para eles eu não sou nada, eu sou apenas preciosa: eles cuidam de mim segundo por segundo, com a mais absoluta falta de amor; sou apenas preciosa. Com o dinheiro que me dão, ando ultimamente bebendo. Abuso de confiança? Mas é que ninguém sabe como se sente por dentro aquele cujo emprego consiste em fingir que está traindo, e que termina acreditando na própria traição. Cujo emprego consiste em diariamente esquecer. Aquele de quem é exigida a aparente desonra. Nem meu espelho reflete mais um rosto que seja meu. Ou sou um agente, ou é a traição mesmo.
Mas durmo o sono dos justos por saber que minha vida fútil não atrapalha a marcha do grande tempo. Pelo contrário: parece que é exigido de mim que eu seja extremamente fútil, é exigido de mim inclusive que eu durma como justo. Eles me querem preocupada e distraída, e não lhes importa como. Pois, com minha atenção errada e minha tolice grave, eu poderia atrapalhar o que se está fazendo através de mim. É que eu própria, eu propriamente dita, só tenho mesmo servido para atrapalhar. O que me revela que talvez eu seja um agente é a idéia de que meu destino me ultrapassa: pelo menos isso eles tiveram mesmo que me deixar adivinhar, eu era daqueles que fariam mal o trabalho se ao menos não adivinhassem um pouco; fizeram-me esquecer o que me deixaram adivinhar, mas vagamente ficou-me a noção de que meu destino me ultrapassa, e de que sou instrumento do trabalho deles. Mas de qualquer modo era só instrumento que eu poderia ser, pois o trabalho não poderia ser mesmo meu. Já experimentei me estabelecer por conta própria e não deu certo; ficou-me até hoje essa mão trêmula. Tivesse eu insistido um pouco mais e teria perdido para sempre a saúde. Desde então, desde essa malograda experiência, procuro raciocinar desse modo: que já me foi dado muito, que eles já me concederam tudo o que pode ser concedido; e que os outros agentes, muito superiores a mim, também trabalharam apenas para o que não sabiam. E com as mesmas pouquíssimas instruções. Já me foi dado muito; isto, por exemplo: uma vez ou outra, com o coração batendo pelo privilégio, eu pelo menos sei que não estou reconhecendo! Com o coração batendo de emoção, eu pelo menos não compreendo! Com o coração batendo de confiança, eu pelo menos não sei.
Mas e o ovo? Este é um dos subterfúgios deles: enquanto eu falava sobre o ovo, eu tinha esquecido do ovo. “Falai, falai”, instruíram-me eles. E o ovo fica inteiramente protegido por tantas palavras. Falai muito, é uma das instruções, estou tão cansada.
Por devoção ao ovo, eu o esqueci. Meu necessário esquecimento. Meu interesseiro esquecimento. Pois o ovo é um esquivo. Diante de minha adoração possessiva ele poderia retrair-se e nunca mais voltar. Mas se ele for esquecido. Se eu fizer o sacrifício de esquecê-lo. Se o ovo for impossível. Então – livre, delicado, sem mensagem alguma para mim – talvez uma vez ainda ele se locomova do espaço até esta janela que desde sempre deixei aberta. E de madrugada baixe no nosso edifício. Sereno até a cozinha. Iluminando-a de minha palidez.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Somewhere Over The Rainbow

Em Algum Lugar Além do Arco-íris
Em algum lugar além do arco-íris
Bem lá no alto
E os sonhos
Que você sonhou
Se tornaram uma canção de ninar


Em algum lugar além do arco-íris
Os pássaros azuis voam
E os sonhos
Que você sonhou
Se tornam realidade


Algum dia
Eu queria que uma estrela
Atendesse meu pedido
Me levando para o além das nuvens
Deixando tudo para trás
Onde os problemas derretem
Como balas de limão
No topo das chaminés
É onde você vai me encontrar


Em algum lugar além do arco-íris
Os pássaros azuis voam
E os sonhos
Que você ousou
Oh, porque, oh porque eu não posso?


Bem, eu vejo
O verde das árvores
E rosas vermelhas também
Eu verei elas florescerem
Para nós
E eu penso comigo
Que mundo maravilhoso!


Bem, eu vejo
Céu azul
E nuvens brancas
O brilho do dia
Eu gosto do escuro
E penso comigo
Que mundo maravilhoso!



As cores do arco-íris
Tão lindas no céu
Estão também nos rostos
Das pessoas caminhando
Eu vejo amigos de mãos dadas
Dizendo: como você vai?
Eles realmente dizem
Eu amo você



Eu ouço bebês chorando
Eu vejo eles crescendo
Eles aprenderão mais
Do que realmente sabem
E eu penso comigo
Que mundo maravilhoso!


Algum dia
Eu queria que uma estrela
Atendesse meu pedido
Me levando para o além das nuvens
Deixando tudo para trás
Onde os problemas derretem
Como balas de limão
No topo das chaminés
É onde você vai me encontrar


Em algum lugar além do arco-íris
Bem lá em cima,
E os sonhos
Que você ousou
Oh, porque, oh porque eu não posso?

O abismo

Ele simplesmente está lá: impassível.

Chamando por mim, atraindo-me de todas as formas humanas possíveis.

E mesmo que eu resista, de certa maneira eu sinto que acabarei escorregando em direção a ele.

O tempo escorre lentamente pelos meus dedos e com ele se esvai as minhas possibilidades.

Dizem que só tentando poderemos saber se dará certo ou não.

Ok

Eu estou indo a direção de um abismo e me atirarei em queda livre.

Sem pára-quedas.

A única coisa que me sustentará é a esperança de conseguir voar sozinha.

É, eu consigo.

Summus Jus, Summa Injuria

Tradução: Supremo direito, suprema injustiça.

Hey, diga-me: você já pensou sobre isso?
Ah é mesmo, você não cogita nenhuma possibilidade de erro em meio aos seus consistentes argumentos.
Bem, desculpe a minha insolência, mas gostaria de poder exprimir minhas opiniões sem uma possibilidade de resposta sua – porque acredite: eu já decorei todas as suas possíveis argumentações.
Você é estúpido e ignorante. Possui um bom coração, tem bons sentimentos, mas infelizmente, isso não é o suficiente.

E sabe o que é pior?

O fato de que eu me importo. Por que, acredite ou não, um dia você foi a mais perfeita personificação do meu maior super herói. Você recebeu minha admiração e eu me espelhava no que você era e dizia. Nossas conversas eram engraçadas, leves.
Uma relação tão comum, tão simples como respirar e então foi como se a atmosfera tivesse sumido.
Você se curvou diante da manipulação do dinheiro e do poder. Sua ambição roubou a garra e a humilde felicidade que você tinha. E então, ao invés de elevar seus conhecimentos a um nível que elevasse também a sua alma, você estabeleceu um muro entre o “cômodo” e o “admirável”. Você se tornou mais uma de tantas dessas pessoas frias e infelizes e o pior é que você age como se fosse apenas uma vitima. E talvez seja.
Apesar de tudo, eu não o culpo, porque é essa atitude que a maioria das pessoas tomam, tentando achar um lugar fácil de se sobreviver nesse mundo violento e complicado. Então elas simplesmente assassinam o mínimo do bom-senso que deveriam ter e acabam se curvando, caindo e quebrando diante do que parece mais confortável.
Você e sua estúpida visão do mundo sugaram todas as mínimas possibilidades de uma suposta futura verdadeira felicidade.
E quer saber? Não importa o quanto você trabalhe ou o quanto conquiste mulheres ao redor do mundo, você continuará sendo infeliz.Porque mesmo que você seja inteligente ou rico, ainda continuará ignorante perante os seus sentimentos. Você não sabe o que é o amor, e você não conhece o significado da palavra “determinação”. Você se engana com pequenos instantes de um prazer plastificado, quase tão artificial quanto uma nota de 3 reais.
Entretanto, tudo isso não é suficiente para exterminar o que eu sinto por você. Eu ainda o admiro e ainda o amo, apesar de deixar isso adormecido para o meu próprio bem.
Eu sei que você vai sofrer e eu sei que você irá ascender socialmente muito rápido. Bem, uma coisa leva a outra. Você pode até alcançar seus objetivos, mas nunca vai se sentir inteiramente completo. Vai faltar aquela parte de você, que você mesmo ignorou. E talvez nesse dia, você se dê conta de tudo que eu falei. Ou talvez você simplesmente continue ignorando até que esteja dentro de um adorável caixão forte o suficiente para impedi-lo de agüentar a si mesmo por mais alguns anos. E daí ninguém vai se importar em saber sobre quem você foi ou o que você fez, porque você vai ter sido apenas mais um. Seus filhos provavelmente terão problemas de identidade e carência, e todas suas esposas provavelmente brigarão por seus bens, lembrando-se mais do seus carros do que de suas palavras.

Peço minhas mais humildes desculpas por não querer ter um futuro tão promissor quanto o seu. Peço desculpas também por querer jogar minha vida fora em uma profissão que eu amarei ou por não saber me vestir direito. E também me desculpe por não querer gastar meu tempo em busca de uma estúpida quantia de dinheiro mais alta do que a que eu necessito. Aliás, me desculpe por ser tão diferente de você e por querer fazer muito mais do que apenas me fechar no meu “cômodo mundinho”.

Sinceramente?

Pare de tentar me consertar, porque não sou eu que estou quebrada.

Equalize - Pitty

Às vezes se eu me distraio, se não me vigio um instante, me transporto pra perto de você. Já vi que não posso ficar tão solta: me vem logo aquele cheiro que passa de você pra mim num fluxo perfeito...

Enquanto você conversa e me beija ao mesmo tempo eu vejo as suas cores no seu olho tão de perto. Me balanço devagar, como quando você me embala, o ritmo rola fácil... Parece que foi ensaiado e eu acho que gosto mesmo de você, bem do jeito que você é.

Eu vou equalizar você, pra uma freqüência que só a gente sabe.
Eu te transformei nessa canção, pra poder te gravar em mim.

Adoro essa sua cara de sono e o timbre da sua voz que fica me dizendo coisas tão malucas, e que quase me mata de rir quando tenta me convencer que eu só fiquei aqui porque nós dois somos iguais.Até parece que você já tinha o meu manual de instruções, porque você decifra os meus sonhos, porque você sabe o que eu gosto e porque quando você me abraça o mundo gira devagar...

E o tempo é só meu ele que registra a cena, de repente vira um filme todo em câmera lenta, e eu acho que gosto mesmo de você bem do jeito que você é.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Luzes, Natal e Chuva

Eu não consigo encontrar as palavras certas para descrever esse natal. Isso é estranho. Aliás, esse natal foi estranho.
É a primeira vez que eu não monto a árvore ou coloco o papai Noel na janela. É também, a primeira vez em que eu não me sinto culpada por isso.

Não compreendo.

Esse ano eu não fiz ninguém pôr as pequenas “luzinhas” na parede e nem fiquei esperando ansiosamente pela data. Não acordei com aquele frio na barriga e também não vi o filme “Esqueceram de mim” na sessão da tarde.
Mas como é que isso não me afetou? Por algum motivo eu estou acomodada com toda essa historia... Vi a minha família reunida, ganhei alguns presentes e passei o dia todo amaldiçoando o aquecimento global por ter me trazido essa temperatura irritante do verão. E, de quebra, ainda ganhei essa linda chuva no começo da madrugada.
Não posso dizer que foi o natal perfeito, mas chegou bem perto.
E agora, quando me disponho a pensar no assunto, percebo que muita coisa mudou desde o natal passado. Talvez seja por isso que eu estranhe tanto: eu não sou a mesma.
Eu sou um fantasma do que eu costumava ser.
E, cara, isso é tão bom, porque eu sempre esperei por esse momento.
E ele chegou assim, sem nem ser convidado, logo quando eu menos queria.
O primeiro natal em que eu não lamento por um ano quase terminado – ao contrário: fico feliz em lembrá-lo.
A chuva me fez bem, o natal me fez bem, as luzes das casas alheias me fez bem, os programas de natal na televisão me fizeram bem, o sorriso das minhas sobrinhas me fez bem, o panetone me fez bem... O simples fato de estar viva me faz bem.

Essa sou eu? Aquela garotinha nerd-melancólica está... Tranqüila?

Esse, definitivamente, é o natal mais estranho da minha vida.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Anacronismo




Ao que tudo indica, eu executo a arte de ter nascido na época errada.

É, acho que isso explica muita coisa. Quer dizer, eu nunca fui muito adepta de coisas modernas. Celulares, músicas, roupas, costumes, gírias, lugares, arquitetura, estilos, leis, comportamento e até mesmo fatores climáticos são algumas das coisas que sempre me deixaram instigada.

Sempre me senti deslocada na maioria dos lugares.

Talvez isso tenha contribuído para que eu fosse me refugiar nos livros e trocar uma vida real por meu mundo imaginário. É como se eu pertencesse a um outro tempo, a uma outra vida. Um lugar onde não exista a telecomunicação exagerada ou o uso constante da tecnologia. Um lugar que se parece muito com o século XVIII, usando roupas que se assemelham muito com vestido pesados e sombrios. Talvez eu pertença a uma época que valorize coisas que se banalizaram com o passar dos anos, como por exemplo, a beleza do conhecimento, a valorização da infância, o comportamento recatado, a sede de desvendar mistérios, o prazer da musica clássica ou da poesia antiga.

Queria poder voltar aos séculos passados e escolher um lugar que eu possa chamar de meu.Sem essa história de GPS, Computadores, Células Tronco, Malícia, Funck, Promiscuidade, Engarrafamento ou Ambição.

Queria poder andar pelas ruas sem essa violência exagerada ou essa poluição que me impede de respirar adequadamente.

Será que alguém pode me dar um motivo para ter nascido em uma época tão desastrosa?

Porque, sinceramente, isso é muito injusto.

1+2=0

Muitas pessoas haviam me dito que a conta teria esse resultado, mas eu ignorei.

Nunca gostei de matemática e nunca tive a mínima vontade de aprender a usa-la.

Quem diria que ela seria importante? Bem, aí está.

Matematicamente comprovado, 1+2 é igual a zero.

Zero.

Zero.

Zero.

Um grande, redondo, irritante e terrivelmente irreversível zero.

Odeio matemática.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Mais uma Divagação

“Se você quer divulgar algo, então divulgue a música! Dê importância a musica, faça marketing dela, promova o que nós tocamos e não a sua genitália”.– Joan Jett, no filme “The Runaways”

Essa é uma frase que ficará nas minhas preferidas.

Joan Jett podia ser bêbada, drogada, fumada, bissexual, selvagem e completamente irresponsável, mas ela tinha determinação. E hoje, se você procurar na wikipedia, ela esta na lista dos 100 melhores guitarristas do mundo. Ela foi uma das poucas mulheres que superaram as malditas barreiras da padronização masculina, tornando o rock adepto de mulheres também, sem falar que ela naturalmente se enquadra num dos maiores movimentos musicais feministas dos últimos tempos: Riot Grrrl –(http://pt.wikipedia.org/wiki/Riot_Grrrl) - .
Bom, não importa se ela foi boa moça ou não. O importante é que, depois de ter assistido esse filme, algo reacendeu dentro de mim. A revolta delas com o sistema machista, a rebeldia, a paixão pelo rock, a pressão de todo mundo que duvidava do sucesso, fez com que eu lembrasse do tempo em que queria tocar guitarra e ter uma banda ao melhor estilo violento da palavra. Pra falar a verdade, acho que toda garota já sonhou em ser uma guitarrista problemática e profunda, com coleiras de espinhos e roupas pretas, andando por ai com suas guitarras no corpo, uma maquiagem pesada nos olhos, o cabelo picotado e uma camiseta com um “Fuck you” bem grande e vermelho na frente.

A questão é que, não importa se você é politicamente correto. Isso não muda seu caráter ou afoga seus sonhos. O que realmente importa é você se dedicar ao que ama, é lutar pelo que quer, sem se deixar cair. Foi isso que as “Runaways” fizeram. Foi isso que todo grande líder fez e é isso que nós deveríamos fazer.

Audácia, onde está você?

sábado, 11 de dezembro de 2010

Sejamos Honestos

Eu não quero o seu bem.

E eu escrevo isso hoje, com a alma limpa e o coração leve, admitindo que eu não me importo com a sua felicidade. Não lhe desejo um bom ano novo e não espero que você tenha sorte. A verdade, bom, a verdade é que eu quero que você sofra. Quero que você sangre de tanta dor, quero que você não suporte estar vivo. Eu espero, com todo o meu amor, que você caia em um poço muito fundo e não consiga sair de lá sem seus próprios esforços.
Eu não quero saber de desculpas ou motivos altruístas. Eu não espero por nada que venha de você, nem mesmo um olhar.
Eu poderia desejar sua morte, mas eu não sou tão sádica. Ao contrário de você, eu tenho sentimentos. Por isso eu desejo tanto o seu mal. Eu quero que você se esfole até que suas veias estejam jogadas no chão sujo, eu espero que você rasteje nas sombras e sofra. Sofra! Pelo amor de Deus, sofra! Ao menos uma vez, se deixe sentir dor. Se deixe sofrer, se deixe ser triste.

Mas não, eu não desejo sua morte.

Por que apesar de tudo, eu quero que você esteja vivo daqui há algum tempo, quando tudo isso da dor já tiver passado e você tiver amadurecido e virado adulto, eu espero então que você olhe pra trás e se arrependa. Se arrependa de tudo, absolutamente tudo. Todo o tempo que desperdiçou fingindo ser alguém que não era. E eu espero, sinceramente, que você sofra de novo por ter sido burro. Eu quero que você aprenda da pior forma possível.
Nada mais justo, uma vez que você errou da pior forma possível.Ou será que eu deveria dizer “vocês”? Faz sentido. Quer dizer, já que isso nunca se passou singularmente. Não, sempre foi no plural.
Eu deveria ter me referido desde o começo a “vocês”.Sim, esse foi o meu erro: separar o que era inseparável. Duas partes bem distintas de mim, com nome, cpf e personalidades próprias.

Bem, eu não preciso de vocês.

Aliás, eu preciso.

Mas se eu vou ter que deixa-los ir, então terei que deixar-me ir também, doa o que doer.

E isso meus caros, se chama amor-próprio.

Bom, era isso. Até nunca mais e boa noite.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

De bobeira...

As vezes, quando eu to de saco cheio de tudo, gosto de ficar dando uma olhada nos livros ja lidos por mim. E eu fico ali, por horas, apenas me lembrando de como me sentia quando lia a história.
E bom, esses dias eu resolvi reler algumas partes do "Morro dos ventos uivantes" e consegui me lembrar do porquê de amar tanto essa história. Talvez seja o clima mórbido ou o humor sádico dos personagens. Principalmente o humor da Cathy. Por Deus, ela é um monstro egoísta e estúpido que desiste do Heatchcliff por causa de motivos idiotas que a levam a ter uma vida "mais fácil"! E o mais lindo, é que apesar de toda a maldade e a loucura, ela tem sentimentos.

Ela sofre.

Talvez isso que mais me encante no livro:todos os problemas psicológicos que ficam subentendidos no comportamento de cada personagem.

Então, devido a isso, vou postar o trecho lindo que eu li - e que, na minha humilde opinião, é a melhor coisa que a Cathy fala em todas as 428 páginas do livro.

"[...]Catherine tinha, naquela noite, um aspecto sombrio e nada comum, que
me fazia temer e profetizar algo terrível. Ficou irritada comigo, mas não
insistiu. Aparentemente mudando de assunto, continuou:
— Se eu estivesse no céu, Nelly, sentir-me-ia muito mal.
— É porque você não o merece — respondi. — Todos os pecadores se
sentiriam mal no céu.
— Mas não é por isso. Uma vez sonhei que estava lá.
— Já lhe disse que não quero saber dos seus sonhos, Srta. Catherine!
Vou para a cama — ameacei.

Ela riu e segurou-me, pois fiz menção de me levantar.

— Não é nada — disse ela. — Só lhe ia contar que para mim não
parecia ser o céu e que eu chorava desesperadamente, querendo voltar para a
terra. Os anjos ficaram tão zangados comigo, que me jogaram bem em cima
do Morro dos Ventos Uivantes, onde eu acordei soluçando de alegria. Isso
me servirá para explicar o meu segredo. Não tenho mais razão para casar com
Edgar Linton do que para estar no céu e, se esse homem perverso que é o
meu irmão não tivesse feito Heathcliff descer tanto, eu nem teria pensado
nisso. Mas agora eu me degradaria se casasse com Heathcliff, por isso ele
nunca há de saber o quanto o amo: e não porque ele seja belo, Nelly, mas por
ele ser mais eu do que eu própria. Não sei de que são feitas as nossas almas,
mas elas são iguais; e a de Linton é tão diferente da minha quanto um raio de
lua é diferente de um relâmpago, ou o fogo da geada.
[...]- Não sei expressar-me bem; mas, sem dúvida, você e todo o mundo têm noção de que há ou deverá haver uma existência para além de nós. Qual seria o sentido de eu ter sido criada, se estivesse contida apenas em mim mesma? Os grandes desgostos que tive foram os desgostos de Heathcliff, e eu senti cada um deles desde o início: o que me faz viver é ele. Se tudo o mais acabasse e ele permanecesse, eu continuaria a existir; e, se tudo o mais permanecesse e ele fosse aniquilado, eu não me sentiria mais parte do universo. Meu amor por Linton é como a folhagem de um bosque: o tempo o transformará, tenho a certeza, da mesma forma que o inverno transforma o arvoredo. O meu amor por Heathcliff lembra as rochas eternas: proporciona uma alegria pouco visível, mas é necessário. Nelly, eu sou Heathcliff! Ele está sempre, mas sempre, no meu pensamento; não como uma fonte de satisfação, que eu também não sou para mim mesma, mas como eu própria. Por isso, não torne a falar da nossa separação:ela é impossível e. . .

Fez uma pausa e escondeu o rosto nas pregas do meu vestido, mas eu a
afastei. Não tinha paciência com a sua falta de juízo!"



Sério, como alguém pôde ter escrito algo tão perfeito?

Feeling Sorry

We still live in the same town, well, don't we?
But I don't see you around anymore.
I go to all the same places, not even a trace of you...
Your days are numbered at 24.
And I'm getting bored waiting round for you,
We're not getting any younger, and I
Won't look back 'cause there's no use
It's time to move forward!

I feel no sympathy,
You lived inside a cave!
You barely get by the rest of us,
You're trying, there's no need to apologize,
I've got no time for feeling sorry!

I tried not to think of what might happen,
When your reality, finally, cuts through.
Well, as for me, I got out and I'm on the road.
The worst part it that this (THIS!), this could be you.
You know it too, you can't run from your shame!
You're not getting any younger, time,
Is passing by, but you waited awake...

It's time to roll over!

I feel no sympathy,
You lived inside a cave!
You barely get by the rest of us,
You're trying, there's no need to apologize,
I've got no time for feeling sorry!

And all the best lies,
They are told with fingers tied!
So cross them tight,
Won't you promise me tonight
If it's the last thing you do, you'll get out...

I feel no sympathy,
You lived inside a cave.
You barely get by the rest of us,
You're trying, there's no need to apologize,
I've got no time, I've got no time!

I feel no sympathy,
You lived inside a cave!
You barely get by the rest of us,
You're trying, there's no need to apologize,
Got no time!

I've got no time for feeling sorry!
I've got no time for feeling sorry!




E depois ainda me perguntam por que eu gosto tanto de Paramore...

sábado, 4 de dezembro de 2010

A carta


Querido Peter, escrevo-te essa carta, visando desabafar sobre algo que eu tenho certeza que tu entenderia: Eu nunca quis crescer.

Sabe, durante toda minha vida, abominei pessoas sérias, homens com terno e gravata, mulheres com a cara fechada, idosos frustrados, pastas de couro recheadas de papéis de escritório, trabalho chato, promiscuidade adulta, hipocrisia, adultério, comodismo, indiferença. Eu prometia a mim mesma, todas as noites, de que jamais me tornaria uma adulta, por não ter todas essas terríveis características que isso despertaria em mim. Mas, infelizmente, esse processo é inevitável - sempre foi.

Todos esses adultos que eu tanto repugnava, foram crianças não perturbadoras, assim como eu era até pouco tempo atrás. Todos eles sonhavam com um futuro diferente do adiquirido.

E agora eu me pergunto: Onde erramos?
Será, que assim como eu, eles também temeram a pessoa em que estavam se tornando? Será que se importaram? Tiveram escolha? Sofreram?
Talvez não. Talvez não tenham se quer percebido que mudaram, apenas foram se levando sem refletir sobre isso.

E isso é normal.

Apenas normal.

Então por que "normal" soa tão irritante pra mim? Não quero ser normal, porque os ditos "normais", na verdade, são todos anormais. Estão doentes.
E eu não quero adoecer também.

Oh, meu amigo, tenho tanto medo de tornar-me adepta da rotina daqueles que tanto critiquei! Queria não perder o encanto que há muito já perdi. Queria poder voltar a ter um terço dos pensamentos positivistas que costumava ter há algum tempo atrás.
Onde está você, querido Peter Pan, para vir me buscar e me tirar desse mundo cheio de pessoas malucas? Mas venha rápido, porque eu temo que não consiga suportar por muito tempo.

Esperarei ansiosamente por sua resposta.

Com carinho, Charlotte Leberton.