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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Satélite

Ela caminha com passos leves, causando a destruição do caminho que deixa pra trás.

E o sol se dissipa, trasnformando a luz em sombras e o canto dos pássaros em um silêncio sinistro. Ela não sabe disso, mas é um satélite auto-destrutivo, ignorante de seus prórpios perigos.

E, mesmo que seus pés flutuem por sobre o chão, ela não se dá conta de que, enquanto andar alienada, só causará destruição.

Mesmo que o mundo pare de girar.

Mesmo que ela pare de respirar.

Mesmo que haja um modo de salvar o planeta destruído, há um motivo mais forte e misterioso que a inibe de estabilizar um lugar fixo e a mantém girando de planeta em planeta, destruindo qualquer forma de vida que possa um dia ter existido.

Um coração satélite que paira no espaço sideral, sem futuro definido.

Uma alma solta que caminha pelas ruínas que por ela foram concebidas.

Perdida nas trevas que ela produziu para si mesma.

Emudecer-se

Silenciei-me. E, se fiz isso, foi para melhor me expressar. Ora, e quem disse que o ser humano só deve expressar-se por palavras? Uma grande tolice. Se tu soubesses... Oh, se tu soubesses das palavras que jamais te direi por falta de vocabulário que as traduzam...
Não! Não me aches insana, não! Apenas saibas que meu silêncio nao significa um "estou entediada". É absolutamente o contrário! Meu silêncio diz tudo aquilo que minhas vãs palavras não sabem dizer. E, se acaso tem dúvidas, desafio-te a decifrar o meu olhar. E, se isso te parecer difícil, decifras então os meus textos, pois eles são os únicos que contém fragmentos da minha alma e, se os decifrares, acabará decifrando a mim também.

Silencio-me. E, se faço isso, é para poder conter minha língua nervosa e prender com os dentes minhas idéias insignificantes. Ouso então, nesse silêncio de sábia contemplação, sentir o mundo ao invés de descrevê-lo. Olhar com olhos famintos os variados cenários da vida cotidiana ao meu redor e escutar com precisão os sons que este velho mundo emite. Observo o mundo de diálogos violentos e crenças intolerantes que geram palavras ainda mais afiadas - como punhais banhadas em veneno que se escondem na saliva de todos os homens ignorantes.

Silenciar-me-ei. E, se farei isso, é para conhecer alguém que, ainda que exista dentro de mim e possa até mesmo ser eu, não conheço. Decifrarei comportamentos alheios que jamais preocupei-me em decifrar e, seguindo esse raciocínio, decifrarei a ti que, sem saber, silenciastes meu coração rebelde e acalmastes minha mente perturbada. E, devido ao meu repouso verbal e minha sorte duvidosa, perceberei que o silêncio é um modo mais sutil e agradável de traduzir os sentimentos que não são traduzíveis em palavras.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Triste óbito invernal

Ele se fora.

Eu sabia que chegaria essa hora, mas não é como se estivesse exatamente preparada para isso. Quer dizer, não posso agir como se simplesmente tivesse toda a paciência e compreensão do mundo para ficar calma quando um dos meus melhores amigos simplesmente resolve ir embora. E nem é como se ele resolvesse de livre arbítrio. É mais como um dever cíclico, uma regra inabalável. Como se estivesse previsto em algum livro dogmático, como se eu e ele tivéssemos de cumprir com uma regra que, além de cruel, também é estúpida e irrevogável.

Ele tinha de partir. E por isso, simplesmente se fora.

E há pessoas que não o queriam mais por perto. Pessoas que o odiavam, que não aguentavam mais sua personalidade forte e seus choros intermináveis. E por que ter de partir logo agora? Por que ter de ir?

"É o curso natural das coisas...", dizem os filósofos. Mas quem disse que definitivamente tem que ser assim? Ninguém disse. Ninguém precisa saber. As pessoas são simplesmente insensíveis a ponto de aceitar sem questionar a partida daquele que se faz tão necessário a todos nós.

E a pior parte, é que o imbecil se vai. Com um sorriso de descanso e alguns sinais de cansaço. Ele simplesmente se manda e nem faz questão de se despedir corretamente. Não, ele não é do tipo que se despede. Muito pelo contrário, ele vai saindo à francesa, sumindo delicadamente, escondendo-se em passos breves e silenciosos de modo sutil, inibindo quaisquer transtornos daqueles que estão tão acostumados à sua presença.

Ele se fora. E todos insistem em ficar felizes com isso.

Menos eu.

E por que? Por que ele insiste em deixar claro que irá voltar quando nós dois - e todo mundo - sabe que isso vai demorar doze meses para acontecer de novo?
Por que ele precisa de descanso? Por que eu precisaria de descanso? Ele me bastava. E agora se fora, deixando-me jogada às flores inúteis da primavera. Como se isso pudesse, de alguma fora, servir de consolo para a minha saudade. Como se flores e bosques esverdeados fossem o suficiente para distrair-me da falta que ele me fará. Mas de certa forma ele tem um pouco de razão. Essas flores estúpidas e esse ar quente por muitas vezes tomam minha atenção de forma que esqueço completamente das sensações que ele me causa.

Mas não pretendo soar melancólica demais ou triste demais com a partida dele. Pelo contrário. Desa vez eu vou fazer diferente. Vou fazer de conta que nunca o conheci. Vou fazer de conta que nada foi real e me esbaldar nessa primavera, verão e outono que me esperam. É uma das minhas promessas anuais. Sempre é uma dessas promessas que eu faço.

Quer a verdade? Eu não me importo. Suma. Vá. Quem falou em saudade? ninguém irá sentir saudade. Ninguém sentiu. Ir embora é a melhor coisa que pode ser feita agora e eu não tenho absolutamente nada contra isso. Sério.


Mas já que estamos aqui, saiba que o pior de tudo, é sentir frio mesmo quando o inverno se vai. É carregar dentro de si a sensação de algo que se torna inexistente. É ter que esperar sem saber se aquilo realmente vai voltar, se aquilo realmente foi real. O mais difícil é ter que enfrentar o sol todos os dias esperando pela neve que não vai cair.

E isso, pouco a pouco, lentamente, se esvai. Como a estação que acaba num triste embalo cíclico duranto o alvorecer daquela que deverá nascer para que se possa esquecer da outra.

Fé oriental X Fé ocidental

Gostaria de fazer um breve esclarecimento a cerca do que supostamente foi lido no ultimo texto que postei sobre o consumo de carne. Primeiramente, não estou dispondo de esclarecimentos a cerca do vegetarianismo em si, mas da crença que a autora do livro se utilizou para basear seus argumentos.

Como todo bom ocidental cristão deve estar farto de saber, nós fomos ensinados a ter uma fé "cega", tanto pela nossa bíblia quanto pela igreja católica. Não foi criada nenhuma espécie de lei ou requerimento prévio de questionamento dos dogmas católicos, bem como quaisquer dúvidas a cerca de Deus. Sabemos que aqueles que assim procedem é porque são "homens de pouca fé" e assim o fazem por não terem se entregado de corpo e alma a Cristo, etc.
O fato é que, assim como eu, a grande maioria de ocidentais segue e acredita nessa tese por que faz parte da nossa cultura, faz parte de todo nosso ensinamento bíblico, de todo nosso escasso conhecimento católico e de tudo que não pode ser questionado no mundo. Sabemos que Deus queria que estudássemos e conhecêssemos a ele, mas somos "proibidos" de duvidar de sua existencia ou de questionar seus poderes, uma vez que nossa fé deve ser inabálavel e inquestionável.

Entretanto, na cultura oriental a coisa é um pouquinho diferente. As pessoas lá acreditam que Deus não é um ser simplesmente "inatingível e superior" a nós. Para eles, Deus está dentro de nós, Deus é "nós". E a partir desse conceito, temos que buscá-lo, temos que questioná-lo, estudá-lo, alcançá-lo na medida do possível. É como se no nosso auto-conhecimento, acábassemos por acabar conhecendo a Deus também porque logicamente Ele reside em nós.
Por esse motivo, podemos perceber a clara audácia de Ching Hai wu Shang Shih (sim, esse é o nome dela) ao dizer coisas da mesma espécie de "Por que então deveríamos adorar a Deus com fé cega?" ou " Temos o direito de exigir que Deus se apresente a nós e se faça conhecer". Não há nenhum satanismo escondido nas palavras da autora - a não ser que chineses, indianos, japoneses, etc. , tenham se tornado satanistas em uníssuno - sendo assim uma amostra unicamente de diferença cultural e, consequentemente, religiosa.

Sem mais delongas.

"Por que uma pessoa deve se tornar vegetariana" [2]

Nesta parte do livro, a autora resolveu por responder a dúvidas comuns de seus leitores. Particularmente, fiquei encantada com a força e a inteligência com que ela respondeu a grande maiora, mas teve uma em especial que prendeu minha atenção desde o ultimo fio do cabelo até as partículas que compõem meu dedo do pé.

"Pergunta: Que benefícios espirituais alcançamos por sermos vegetarianos?

Resposta: Fico feliz por perguntar dessa maneira, pois isso significa que se preocupa e se concentra apenas nos benefícios espirituais. A maioria se preocuparia com a saúde e a aparência, quando fala da dieta vegetariana. Uma dieta vegetariana, em aspectos espirituais, é muito limpa e não violenta. Não matarás. Quando Deus nos disse isso, não se referia aos humanos apenas; referia-se a todos os seres. Não disse Ele que criou todos os animais para que nos ajudassem? Não os colocou Ele sob nossos cuidados? Ele disse: Cuide deles. Reine sobre eles. Quando você reina sobre seus súditos, mata-os e come-os? Então, você se torna rei sem súditos ao seu redor? Agora, você compreende quando Deus disse isso. Devemos obedecer-Lhe. Não há necessidade de questioná-Lo. Ele falou claramente, mas quem melhor compreende Deus do que Deus? Então você precisa tornar-se Deus para compreender Deus. Eu o convido a ser como Ele novamente; seja você mesmo e ninguém mais. Meditar sobre Deus não significa adorá-Lo; significa que você se torna Deus. Você percebe que você e Deus são um. Eu e meu Pai somos um , não foi isso o que Jesus disse? Se Ele disse que Ele e Seu Pai são um, nós e Seu pai também podemos ser um, porque também somos filhos de Deus. E Jesus também disse que o que Ele faz, nós podemos fazer e ainda melhor. Então podemos até ser melhores do que Deus, quem sabe? Por que adoramos a Deus, quando não sabemos nada sobre Deus? Por que a fé cega? Primeiro precisamos saber o que estamos adorando, assim como precisamos conhecer antes do casamento, a mulher com quem vamos nos casar. Hoje em dia, é comum não casar sem antes namorar. Por que então deveríamos adorar a Deus com fé cega? Temos o direito de exigir que Deus se apresente a nós e se faça conhecer. Temos o direito de escolher qual Deus gostaríamos de seguir. Agora, você pode ver claramente que, pela Bíblia e por todas as razões científicas, econômicas e de compaixão, bem como para salvar o mundo, devemos ser vegetarianos. Foi dito em alguma pesquisa que, se o ocidente comesse uma refeição vegetariana, uma vez por semana apenas, a cada ano poderíamos salvar da fome dezesseis milhões de pessoas. Então seja um herói, seja vegetariano. Por todas essas razões, mesmo que não me sigam, que não pratiquem o mesmo método, por favor, sejam vegetarianos, pelo seu próprio bem, pelo bem do mundo."





"Por que as pessoas devem se tornar vegetarianas?"

"Desde o início da história registrada, podemos ver que os vegetais têm sido o alimento natural dos seres humanos. Antigas lendas gregas e hebraicas mencionam que as pessoas, originalmente, se alimentavam de frutas. Antigos sacerdotes egípcios jamais comeram carne. Muitos grandes filósofos gregos como Platão, Diógenes, Sócrates, pregavam o vegetarianismo.




Na Índia, Buda Shakyamuni enfatizava a importância da Ahimsa, o princípio de não fazer mal às coisas vivas, e advertia seus discípulos a não comerem carne, porque outros seres vivos passariam a ter medo deles. Buda fez as seguintes observações: “Comer carne é apenas um hábito adquirido. Não nascemos com este desejo.” , “Comendo carne, as pessoas eliminam suas sementes de Grande Misericórdia.” , “Comendo carne, as pessoas se matam e se comem umas às outras: nesta vida, eu devoro você; na próxima, você me devorará… e continuando sempre desta maneira. Como poderão ultrapassar os Três Reinos (da ilusão)?”



Muitos antigos taoístas, cristãos e judeus foram vegetarianos. Está registrado na Bíblia Sagrada. Deus disse: “Eis que vos tenho dado toda a erva que dá semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dá semente, ser-vos-á para mantimento.” (Gênesis 1:29) “E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento.” (Gênesis 1:30). Mais exemplos na Bíblia, proibindo o consumo de carne: “A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis.” (Gênesis 9:4). Deus disse: “Quem lhes ordenou que matassem o novilho e a cabra como oferendas para Mim? Lavem-se deste sangue inocente para que Eu possa ouvir suas preces, senão rejeitá-los-ei porque suas mãos estão cheias de sangue. Arrependam-se para que Eu possa perdoá-los.” São Paulo, um dos discípulos de Jesus, disse em sua carta aos romanos: “Bom é não comer carne nem beber vinho…” (Romanos 14:21)



Recentemente, historiadores descobriram muitos livros antigos que registraram novos aspectos na vida de Jesus e seus ensinamentos. Jesus disse: “As pessoas que tomam por alimento a carne dos animais tornar-se-ão seus próprios túmulos. Em verdade vos digo, o homem que mata será morto. O homem que mata seres vivos e come sua carne está comendo a carne de homens mortos.”



Religiões indianas evitam o consumo de carne: “As pessoas não podem obter carne sem matar. A pessoa que fere seres sencientes, jamais será abençoada por Deus. Assim, evitem consumir carne!” (preceito hindu)



A escritura sagrada do Islã, Alcorão, proíbe “comer animais mortos, sangue e carne” .



Um grande Mestre Zen chinês, Han Shan Tzu, escreveu um poema, veementemente contra o consumo de carne: “Vá depressa ao mercado comprar carne e peixe para alimentar sua esposa e seus filhos. Mas por que a vida deles precisa ser tirada para sustentar a sua? É irracional, isto não lhe trará a afinidade com o céu, mas torná-lo-á escória do inferno!”



Muitos escritores, artistas, cientistas, filósofos famosos e homens ilustres foram vegetarianos. Estes abraçaram o vegetarianismo com entusiasmo: Buda Shakyamuni, Jesus Cristo, Virgílio, Horácio, Platão, Ovídio, Petrarca, Pitágoras, Sócrates. William Shakespeare, Voltaire, Sir Isaac Newton, Leonardo Da Vinci, Charles Darwin, Benjamin Franklin, Ralph Waldo Emerson, Henry David Thoreau, Emile Zola, Bertrand Russel, Richard Wagner, Percy Bysshe Shelley, H. G. Wells, Albert Einstein, Rabindranath Tagore, Léon Tolstói, George Bernard Shaw, Mahatma Gandhi, Albert Schweitzer, e mais recentemente, Paul Newman, Madonna, Princesa Diana, Lindsay Wagner, Paul McCartney e Candice Bergen, para mencionar alguns.



Albert Einstein disse: “Acho que a mudança e efeitos de purificação que a dieta vegetariana realiza na disposição dos seres humanos, são muito benéficos à humanidade; por isso, é tanto auspicioso quanto pacífico que as pessoas comuns escolham o vegetarianismo.” Isso tem sido o conselho comum de muitas figuras importantes e sábias através da história!"


- Texto retirado do livro "A chave para a iluminação imediata" - Ching Hai wu Shang Shih



sábado, 10 de setembro de 2011

Verdade seja dita:

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida. - Clarice Lispector

Inverno Polar

Em algum lugar dentro das minhas orbitas, circulam lagrimas não derramadas.

E, de repente, a luz acesa não serve mais como arma para afastar os monstros da escuridão.

Quando todas as almas descansam, a minha, inconformada e agitada, insiste em manter-se em constante movimento durante a noite inteira, impedindo-me de pregar o olho um segundo se quer.

Resta-me apenas pedir aos anjos que cuidem do meu sono febril e amorteçam a queda angustiante de minhas alegrias.

Esperar por ares que ha tempos não me envolvem e por felicidades que insistem em manter-se num futuro improvável e misterioso.

Oh, e por que eu insisto em discar teu numero e jogar meias palavras fora, mesmo sabendo que a minha garganta estará impossibilitada de falar?

Porque, no fundo, eu sei que é infinitamente mais reconfortante te prender a um telefone em silencio e me fazer acreditar que ainda te tenho, do que passar o dia inteiro sem ter qualquer espécie de ligação a ti.


 

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Limiar da escuridão

O ronronar do gato assusta-me em meio à escuridão sinistra daquela madrugada de um agosto estupidamente frio. Os dedos, congelados, acompanham o corpo num espasmo de sobressalto agoniante por libertação.
O ser, monstro talvez, olha-me com uma sabedoria prévia. Observa-me com olhos de quem me conhece desde há muito tempo. O que quer de mim? Não... não ouso perguntar-lhe.
Mas o zumbido, o leve ronco que assombra meus pesadelos, continua em uma constante melodia a embalar meu sono perturbado.
Os grandes, frios e curiosos olhos amarelos continuam a observar meus movimentos.
Então eu tive certeza. Eu tive plena certeza de que aquele animal sabia quem eu era.
Desde sempre, talvez.
Talvez...
Talvez não se importasse. Talvez quisesse apenas dividir o calor de meu corpo e aquecer-se junto de mim.
Ou talvez...
Não... Que me importa o talvez quando a suposição desconcerta meus pensamentos?

Morrerei... morrerei.