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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Bulimia Literária

Engulo meu futuro, na situação cômica de se estar desesperada. Estou desesperada. Estou gritando, morrendo, aos prantos por dentro. Como ninguém consegue ouvir o barulho, o apocalipse, a batida estrondosa que faz no fundo dos meus ossos? São surdos. Ou cegos. Mas dizem que o pior cego é aquele que não quer ver...

Mas estou desesperada. E preciso ser sincera, caso contrário a minha cota de ofensas a mim mesma aumentará conforme minta e engane a todos e a mim. E eu não mereço isso. Olá, egocentrismo, é você? Mas o que posso fazer se sou honesta, egocêntrica e desesperada? E ansiosa. E teimosa. E infantil. Mas estou, estou desesperada. No meu prato principal do almoço, engulo a África, a Europa e algumas ilhas escocesas. De sobremesa, me sobram alguns livros de Freud, alguma moda alternativa de Nova York e algum texto clássico de Jane Austen. No lanche, olha só, temos sanduíches de pessoas. Um pouco de molho de atenção e olhares e quase amores. Quase uma conversa real, quase um flerte. Passo o dia devorando o mundo, enquanto ele não pode me devorar. Engolindo atenções inteiras, enquanto não tenho ânimo de retribuir. Conheço pessoas novas sem sair de casa. Voltei aos meus 14 anos. Quase amo meu amigo que toca violão. Quase. Não cometerei mais o mesmo erro, não mesmo.

Mas estou desesperada. Na minha frente, cadernos, livros, filmes. Um quilo de cultura estrangeira para disfarçar um dia entediante. Para disfarçar um desespero alarmante e ensurdecedor. Sinto movimentos no meu corpo que não posso executar. Sinto correntes nos meus braços, nas minhas pernas. Estou presa, estou livre. E no meu desespero de não saber como me encontro, engulo todo mundo. Comer, meu grande martírio, se tornou meu grande prazer. Quase sou obesa. Não de corpo, mas de alma. Engulo tudo, como tudo, gorduras, carne, hormônios da carne. Tudo. Sou tão gorda que meu corpo pesa demais para que eu consiga me levantar. Mas eu vou.

Entre o desespero e a determinação, tento ser altruísta e não consigo. Como pensar nos outros quando eu sou o suficiente para causar-me problemas? É uma espécie de círculo hermenêutico, que gira e gira e gira e gira e nunca chega a lugar algum. Mas estou determinada a chegar a algum lugar, não importa a onde. No outro lado do mundo, alguém me diz que tudo ficará bem. E a voz dele quase faz tudo ficar bem. Mas estou desesperada demais pra prestar atenção no que quase é. Adeus, meu amigo, estou indo comer alguns países e algumas culturas com um pouco de conhecimento medíocre. Adeus, adeus. Estou indo engordar um pouco para depois vomitar tudo de novo na minha tentativa de ser magra. Tenho bulimia, não física, mas psicologicamente. Engulo tantas coisas que depois vomito tudo em cima de algum papel. Esse texto é só mais um bolo alimentar, cheio de ácido do meu estômago vazio. É o vômito da minha reflexão matinal sobre meu vício, minha gula. Adeus, adeus.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Marcelo

Estávamos na sala de espera do dentista. Mas como ele era lindo. Não o dentista, mas sim o cara de óculos escuros que lia uma Veja do ano passado ao lado do bebedor de agua. As mãos fortes segurando a revista. Poderia ser a minha cintura. Poderia ser o meu cabelo. Poderia ser a minha cintura e o meu cabelo. Os olhos escondidos pela sombra maldita dos óculos poderiam devorar meus olhos, minha boca, meu estômago e vísceras que eu não me importaria. E como nos dávamos bem, eu e o desconhecido. Ele me perguntou se eu ia ficar ali muito tempo. E que cantada mais bela foi essa! O pobrezinho tava doido pra investir na minha beleza, quando eu, tentando ser comportada, disse que meu horário era o próximo. Vi o modo como lábio inferior dele se curvou, traçando uma linha de decepção. Ah meu amor, meu amor, eu vou ficar aqui contigo. Nos dávamos tão bem, eu e ele. Mal podia esperar para ouvir o seu nome. Ele tinha cara de Luíz. Sim, Luíz. Não, não, talvez fosse Marcelo. Mas poderia ser Dagmar também. Não, ele era Marcelo. E como o Marcelo era bonito. E como a cor esbranquiçada das juntas dos dedos dele contrastavam bem com a pele rosada do meu rosto. Eu sei disso por que prestei muita atenção na nossa ultima foto, no nosso ultimo inverno juntos. E que inverno maravilhoso foi aquele! Cheio de foundies e carinhos e declarações. Lembro do rosto do meu pai quando ele disse que amava futebol. Ah... Como se deram bem. Não é a toa que o Marcelo é o homem da minha vida. E aqueles olhos cast... Não, não, acho que são azuis. Ou verdes. Prefiro verdes. Oh que olhos bonitos tem a minha alma gêmea. As mãos dele na minha cintura, a respiração dele no meu rosto. Como é animado o Marcelo. Nunca pensei que um desconhecido pudesse ser tão encantador, tão romântico, tão... Tão... Tão ele!

- Você se chama Clara?

Estávamos lá de novo. Ele havia tirado os óculos escuros e a revista estava ao lado daquelas pernas grandes e musculosas que eu tinha tocado tantas e tantas vezes naquele nosso ultimo inverno. E os olhos dele eram castanhos mesmo. Tão lindo meu Marcelo. Mas lá estávamos nós na triste situação de desconhecidos companheiros de espera do meu dentista. E ele estava me perguntando se era eu que o infeliz tinha chamado pra consulta. E ambos, na ignorância de meus sentimentos, haviam tirado-me de minha lua de mel. Mas a culpa não era dele, tadinho. Ele não sabia, mas eu já tinha feito muitas e muitas coisas com ele em apenas vinte minutos. Mas tive que me recompor e ser educada e toda essa história de mulher correta e tal.

- É, sou eu.

Ele sorriu. Ah meu Deus, por que ele tinha que sorrir daquele jeito? Lembro de quando nos conhecemos naquele cruzeiro de 2001 e ele sorriu da mesma maneira pra mim. Eu me apaixonei na hora e desde então nunca mais nos desgrudamos. Mas desisti do Marcelo. Não era homem pra mim. Eu amava mais quando ele tinha os olhos verdes. Sempre assim. Eu me apaixono e o cara faz questão de me lembrar que realmente existe. E pior do que isso, me convence de que é exatamente o contrário do que eu imaginei que fosse. Homens são tão reais e decepcionantes que me entristecem.

Mas eu amei o Marcelo. Ah, se amei.


 

Eu e meu egocentrismo

As pessoas fazem tudo parecer tão fácil, tão simples. Fazem tudo parecer indolor, sem vida, sem nada. Tudo muito racional, muito simples, muito direto. Quer fazer? Vai lá e faz, não importa consequências, não importa emoções. E isso me assusta. Daí eu vou na psicóloga e ela me diz: "Nossa, mas tu é bem racional né? A gente tem que se deixar sentir mais pra não ficar que nem robô." Ah, minha filha, se tu soubesses! Na hora eu comecei a rir. De histeria, de ironia, de raiva. Eu senti, eu senti tanto que me arrependi de ser a sensitiva da historia. Não é assim que funciona? A gente desliga o botãozinho do "sentir" e segue em frente como se nada nunca tivesse acontecido. Sentimento pra que né? Dor pra que né? Tudo burrice, tudo perda de tempo.

E todos os dias eu preciso me convencer que tudo isso morreu e que minha vida é outra. Mas a verdade é que nunca é fácil recomeçar. Nunca é fácil olhar pro lado e ter que aceitar que tudo mudou. É muito ruim ter de lidar com a perda e com a frustração de um desejo que não foi realizado, de um sonho que nunca passou da imaginação. E a gente tem que fingir que tudo tá bem por que as pessoas não conseguem aceitar as falhas e temos medo de mostrar nossas fragilidades, nossas dores. E a gente sente. A gente sente todos os dias toda a falta, todo o remorso, toda a saudade, toda a lágrima salgada que jamais caiu, mas faz de tudo pra se convencer de que não sente. Por que é mais fácil assim. Por que o lema é seguir sem olhar pra trás. Por que eu já tô careca de ouvir que o passado não importa e o futuro não é mais como era antigamente. Daí o sol entra pelas frestas da minha janela e eu tenho que me fazer pensar que a minha vida melhorou só porque o céu tá ensolarado. E ficar me medicando com filosofias falhas e frases clichês pra não ter que pensar na minha opinião própria sobre isso, até por que ninguém nunca concordou com tudo que eu dissesse mesmo. Por que tudo é questão de aceitação. E nossa auto aceitação depende muito da nossa "exo" aceitação. Mas o problema é que, não importa se é verão ou inverno, se faz sol ou se neva, se eu cortei o cabelo ou deixei ele crescer mais: A minha vida não vai mudar por que o mundo mudou e muito menos eu.

Todo mundo se importa tanto em falar sobre a mudança que vem de dentro pra fora e blá blá blá que ninguém se lembra da mudança fútil que é tão influenciada por circunstancias exteriores. E como é que se faz mesmo quando tudo continua na mesma merda? Ah, sim, a gente fica cantado qualquer música que levante nosso ego e fica postando textos do Caio Fernando de Abreu pra tentar alimentar nosso intelecto já mal influenciado. E tudo acaba bem assim. E foda-se o passado, por que todo mundo diz que só o presente importa e o futuro tá longe de mais e toda aquela historinha de "eu vivo o hoje". Foda-se cara. Foda-se essa mania de querer deixar tudo do jeito que tem que ser. Foda-se esses textos estúpidos que dizem que o tempo passou e tudo mudou e eu estou mais peituda e incrível do que no ano passado. Foda-se essa voz gritante do meu ego ferido que fica insistindo em crenças que eu não acredito mais. Foda-se essas teorias neomodernistas que defendem a ignorância e o egoísmo como se fossem importantes demais. Foda-se essa estupidez de querer fazer de conta que se é perfeito e que não se tem sentimentos por que somos bons demais pra ficarmos tristes ou decepcionados. Tô cansada de bancar a Deusa do Gelo, quando nada disso me faz bem. Chega de egocentrismo, meu Deus, chega!

Eu só quero ter eu mesma de volta, antes que meu novo eu enlouqueça.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Cavalos

Só tenho uma coisa a dizer: Cavalos são criaturas inteligentes. Por que pra ti conseguir passar a vida inteira olhando pra frente, tem que ser no mínimo genial. Imagina só! Eles ficam a vida inteira carregando carroças, carregando gente, carregando qualquer merda inútil de peso significativo e, mesmo assim, não se incomodam nem um pouco. Nenhum relincho, nenhum protesto. Só algumas trotadas de vez em quando pra reclamar do sol ou da fome e deu. Mas, ainda assim, não ousam olhar para os lados. Não, melhor do que isso. Nem se importam. E o imbecil do carroceiro/dono ainda acha que é necessário colocar viseiras. Ora, claro que não é! Cavalos são criaturas tão humanamente inteligentes que nem precisariam ficar com aquelas coisas tapando a visão alternativa dos lados. É só ensinar e deu. Mas não, a gente tem esse costume de ficar forçando todo mundo a fazer tudo sem nem tentar outras maneiras. Óbvio que o cavalo conseguiria fazer isso sozinho. Ou será que nunca passou pela cabeça de ninguém que eles só se deixam dominar pra disfarçar a inteligência superior e o desprezo mútuo que sentem por nós, animais homo sapiens? É isso aí. Uma possível futura revolução de cavalos, gatos, extraterrestres e operários contra todo mundo. Cavalos são realmente muito inteligentes. São criaturas bizarras e muito inteligentes. E dóceis também. Pena que se submetem aos nossos limites... Pena que usam viseiras. Que pena...

Pedro

Namorei com o Pedro ano passado. E o Pedro me fez muito feliz. Tão feliz, que um dia se tornou insuportável. Eu sempre disse pro Pedro que eu não tinha o sonho feminino de ser a princesa de um príncipe sem graça. Eu só queria um cara que me fizesse sentir algum orgasmo de vez em quando ou pra tirar alguma foto minha de corpo inteiro e deu. Mas ele nunca entendeu isso. Dai ele me dizia que me amava. E que porra, eu não queria amor. Eu queria orgasmos. Muitos orgasmos. Minha vida patética sempre pediu orgasmos. Um atrás do outro, na cozinha, no banheiro, no quintal, na piscina, no telhado, não importa. E essa minha insignificância solitária de ser mulher sempre me atrapalha. Por que eu, na minha mesma insignificância solitária de ser mulher, não possuo um pênis. E sem um pênis, não tem orgasmo. Dai o Pedro dizia que a gente tinha que casar e que eu era linda e inteligente demais pra ele e ele não merecia tudo aquilo e tal. Daí eu mandei o Pedro se danar, por que ele não merecia mesmo. Só que eu merecia o Pedro. Ou o pênis do Pedro. Ou o Pedro e o pênis dele. Tanto faz, só queria algo que me divertisse de um modo aleatório de vez em quando. Mas dai vem essas mulherzinhas inventando esse papo ridículo de amor e alma gêmea e aquela coisa teatral de "seremos felizes para sempre" e estragam tudo. E estragaram os homens também. Logo o melhor tipo. Aquele mais ingênuo, mais romântico. Sempre amei esse tipo de homem. Sei lá, eles fazem o sexo ficar mais interessante com aquela coisa de "você é única" e tal. Mas agora eles tão estragados. Sério, é muito difícil achar um Don Ruan solitário pra passar minhas horas noturnas. E eu tô puta da cara com isso. Por que além de perder meus melhores companheiros graças a essa cultura estupida de romantismo, acabei de perder o Pedro e os 24 centímetros de felicidade que ele me dava. E perder o Pedro dói. Dói la no meu útero, nos confins da minha excitação que pede por um orgasmo.

E agora, hein Pedro? E agora?

Gene Magnata

Amo dinheiro. Amo. Todo mundo ama. Sou capitalista ao extremo e vivo me lamentando pela falta que ele faz. Por que, cara, eu amo dinheiro. Sério mesmo. Um dia desses tava até me perguntando o que eu faria se ele não existisse. Ah, eu não conseguiria viver num mundo sem ele. Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Amo tanto dinheiro. Só penso em dinheiro, o dia todo. Como eu amo ser rica. Como eu amo tudo isso. Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Acho que meu pai tinha um espermatozoide milionário. Sério. Quando eu nasci minha mão olhou pra mim e disse: "Essa aqui vai ser mais rica do que eu! Olha a cicatriz de cifrão na testa dela, Marlene. Ta vendo?"

Ahh, a minha mãe... Como é inteligente a minha mãe. Ela sempre soube do meu segredo. Sim, sim, ela sempre soube que eu nasci montada na grana. Minha primeira palavra foi "dólar". Da pra acreditar nisso? Eu sou tão rica que nem preciso comprar nada. Sou rica só por ser rica, como se o fato de ter dinheiro não me bastasse. Por que, de verdade, não me basta. Eu tenho que ser rica. E saber disso me satisfaz. Dinheiro, dinheiro, dinheiro. E meu cabelo? Meu cabelo é lindo. Lindo, lindo. Às vezes ele brilha dourado no sol, que nem ouro. Meu pai tem um faqueiro de ouro. E ele comprou na Itália. Claro, meu pai é rico. E eu também. Dinheiro, dinheiro, dinheiro.

E eu não tenho problemas. Nem contas. Nem nada. Minha vida é tão perfeita que chega dar nojo. Mas nada me enoja, por que eu não sinto. Sentimentos são tão descartáveis quanto uma nota de vintém. E como eu tenho dinheiro, pais ricos e uma vida perfeita e sem propósitos, nada me deixa irritada. É tão bom ouvir o silêncio celestial que o paraíso faz. Pelo menos é o que meu pai diz. Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Minha conta bancária ta cheia disso. Lotada. Saindo pelas paredes. Tanto dinheiro que eu tenho. Ah, eu já disse que meu cabelo é perfeito? E eu não tenho problemas. Nenhumzinho só. Sério.

Ai ai...


 


 


 


 


 

Meu terapeuta sempre disse que a gente tem que visualizar o que quer e ficar usando a criatividade com isso. Sabe aquela coisa de lei da atração e tal?

Bem, essa sou eu usando a minha criatividade para atrair uma vida perfeita.

Pois é.


 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Desisti

"Desisti. E isso é a coisa mais triste que tenho a dizer. A coisa mais triste que já me aconteceu. Eu simplesmente desisti. Não brigo mais com a vida, não quero entender nada. (…) Vou nos lugares, vejo a opinião de todo mundo, coisas que acho deprê, outras que quero somar, mas as deixo lá. Deixo tudo lá. Não mexo em nada. Não quero. Odeio as frases em inglês, mas o tempo todo penso "I don't care". Caguei. Foda-se. (…) Me nego a brigar. Pra quê? Passei uma vida sendo a irritadinha, a que queria tudo do seu jeito. Amor só é amor se for assim. Sotaque tem que ser assim. Comer tem que ser assim. Dirigir, trabalhar, dormir, respirar. E eu seguia brigando. Querendo o mundo do meu jeito. Na minha hora. Querendo consertar a fome do mundo e o restaurante brega. Algo entre uma santa e uma pilantra. Desde que no controle e irritada. Agora, não quero mais nada. De verdade. (…) Não quero arrumar, tentar, me vingar, não quero segunda chance, não quero ganhar, não quero vencer, não quero a última palavra, a explicação, a mudança, a luta, o jeito. (…) Quero ver a vida em volta, sem sentir nada. Quero ter uma emoção paralítica. Só rir de leve e superficialmente. Do que tiver muita graça. E talvez escorrer uma lágrima para o que for insuportável. Mas tudo meio que por osmose. Nada pessoal. Algo tipo fantoche, alguém que enfie a mão por dentro de mim, vez ou outra, e me cause um movimento qualquer. Quero não sentir mais porra nenhuma. Só não sou uma suicida em potencial porque ser fria me causa alguma curiosidade. O mundo me viu descabelar, agora vai me ver dormir e cagar pra ele. Eu quis tanto ser feliz. Tanto. Chegava a ser arrogante. O trator da felicidade. Atropelei o mundo e eu mesma. Tanta coisa dentro do peito. Tanta vida. Tanta coisa que só afugenta a tudo e a todos. Ninguém dá conta do saco sem fundo de quem devora o mundo e ainda assim não basta. Ninguém dá conta e… quer saber? Nem eu. Chega. Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é. Desde que eu continue dormindo. Ser invisível, meu grande pavor, ganhou finalmente uma grande desimportância. Quase um alivio. I don't care."

- Tati Bernardi


 

PS: Sem saco para inspiração filosófica ou literária, deixa que a Tati faz o meu trabalho. Dane-se.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

ODEIO ESTE TEXTO



"(...)Eu odeio que encostem o cotovelo, a bunda ou uma cerveja molhada em mim enquanto eu tento encontrar um espaço para dançar. Eu odeio que encostem em mim, odeio a pele de um desconhecido indesejado.
(...)Odeio homens que olham para bundas como se admirassem uma carne pendurada no açougue e odeio mais ainda quando fazem bico e aquele sim com a cabeça, tipo "concordo com o mundo que ela é muito gostosa". E se ele fizer aquela chupada pra dentro do tipo "hmmmmm delícia" já é algo que ultrapassa os limites do meu ódio.
(...)Odeio mau hálito e mais ainda o fato de que justamente as pessoas podres são aquelas que falam mais baixo e nos obrigam a ter que chegar perto. Eu odeio machismo, submissão e mais do que tudo isso ter que ser forte o tempo todo e não ter um ombro másculo para chorar até minha última gota desamparada.
(...)Odeio pessoas muito oleosas, muito peludas, muito suadas e acima de tudo meninas que cheiram a lavandas e gostam de adesivos de ursinho.
(...)Odeio quem comemora porque passou numa faculdade que meu primo de 8 anos passaria e quem diz "peguei a mina".
(...)Odeio os Estados Unidos mas odeio muito mais o fato de a gente ter sangue europeu mas ficar imitando esses estúpidos, que também têm sangue europeu mas são estúpidos por herança criada. Odeio a frase "eu vou no super, comprar umas cervas para o churras".
(...)Odeio quem passa o dia no shopping com a família, churrascaria com aquele desfile de bichinhos mortos, principalmente porque você está lá tranqüilamente comendo e vem alguém com um espeto (que é grosseiramente imposto ao seu lado), te espirra sangue, fala um nome idiota e você nunca sabe exatamente de que parte se trata.
(...)Odeio quem casa virgem, odeio quem chega em casa depois de uns malhos no carro e enfia o dedo no meio das pernas porque tava louca para dar mas "ele ia me achar muito fácil". Mas eu também odeio mulher que sai dando pra meio mundo e perde o mistério. Sei lá, essa coisa toda de dar vai ser sempre uma dúvida.
(...)Odeio meninas caçadoras de homens ricos mas odeio sair com um cara que está tentando começar um relacionamento e ter que rachar a conta, seria mais simpático me deixar pagar a conta toda. Rachar é péssimo.
(...)Dividir banheiro, pêlo alheio em sabonete, acordar cedo e meninas adolescentes peruas com voz de pato.
(...)Quando eu era criança sonhava todas as noites que arrancava os olhos de todo mundo e só eu podia enxergar o quanto era feio eu ser como sou."


 

- Tati Bernardi

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sem título


 

Não adianta escrever mais nada. Você não vai ler. E as palavras estão vindo em vão, tristes. Um som abafado pelo choro que não virá. Um cão latindo em um futuro que se despedaça na minha frente. Vejo duas estradas bem distantes uma da outra. Um menino sangrando no chão à esquerda. Uma menina segurando um punhal na estrada à direita. Ele corre, ela chora. Ele voa, ela rasteja. Ele odeia, ela ama. Talvez esse tenha sido o meu erro. Talvez eu tenha amado demais. Louca, imprudente, estúpida. É assim que vai ser. É assim que termina.

Na tela do cinema, letras douradas emolduram um "The End" de uma comédia romântica repetitiva e clichê. E os atores ficavam tão bonitos juntos. Tão convincentes. Tão apaixonados. Mas não posso pensar nisso, caso contrário ficarei triste. Tarde demais, já estou triste. Sou a expectadora emocionada da primeira fileira das poltronas verdes. Não, sou a vilã que some na estrada oposta ao fim do filme. Sou ambas. Sinto nojo dela. Sinto nojo. De mim.

 

Sumir

Sumi porque só faço besteira em sua presença. Fico muda, quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro, quando melhor seria silenciar. Faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar. Pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar. Sumi porque não há o que se possa resgatar. Meu sumiço é covarde, mas atento, meio fajuto meio autêntico. Sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência. Pareço desinteressada, mas sumi para estar para sempre do seu lado. A saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência.

Martha Medeiros

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Xeque Mate

Chove lá fora.

Ao fundo, uma música de Regina Spektor.

Sinto-me tão só, que quase posso ouvir o uivo de lamentação que sai por entre meus dentes. Mas então, algo explode. Faíscas, fogos de artifício, como o raio de milhares de sóis. Oh e por que agora? Não havia planejado absolutamente nada... Algo pulsa no meu sangue. O que é? Não, não pode ser... Acho que é amor, mas tenho medo. E como explicarei isso? Não devo explicações. Mas sinto-me tão... Incerta. Como se cometesse um crime. Meu Deus, por que fizeste isso? Não! Não é culpa tua, é minha. Inteiramente minha. E o que dizer? Não digo nada, quando me dou por mim já estou a cometer o crime. E como é doce o sabor da maçã proibida. E como é macio o toque do esplendor. Pra onde fui nos últimos meses? Não fui! Eu estive aqui, sempre. Experimentando outros sabores, indo a outros lugares, segurando outros fantoches. Sou tão má. Será que fui batizada? Porque sinto-me dilacerada pelo pecado original. Fui uma criança tão perversa, e a experiência da quase morte serviu para que despertasse isso novamente. Sou tão má...

E como é inebriante o aroma do teu veneno. E como é forte o poder que tens sobre minhas veias. Mas, oh, onde estará o meu amor, a minha cura? Se foi, junto com a salvação. Está perdido por entre as árvores do paraíso, enquanto eu, fraca, ardo nas chamas violentas do inferno. Pecadora! Pecadora! Como pude? Mas fiz. E como dói ser a vilã. Como dói ser a manipuladora. Sou tão má que chega a doer cada parte de bondade que ainda me restava. Não vês, meu querido? Sou uma bruxa disfarçada de fada. Te matarei aos poucos. E como é glorioso ser a predadora. Como é satisfatório enrolar o rato na minha cauda e vê-lo agonizar no meu veneno, meio morto e meio encantado. Meio amor e meio desgraça. Sou tão má. Cada célula viva em mim, grita por ti. E como é maravilhoso vê-las calar em desejo. E como é triste saber que, antes disso houve algo. Como uma explosão rápida que torna-se diminuta quando comparada ao poder atômico de Einstein.

O que houve comigo? Procuro por mim, mas não me acho. Assim como tu me buscavas em vão, eu também o faço. E fico assustada ao encontrar a criança banhada em sangue que me atormenta. Oh, meu pequeno passado, por que és tão cruel? Por que és tão encantador? Abomina minha vida descontroladamente. Não tenho controle, não tenho! És tão solitária e tão dócil a minha pequena traidora. É tão belo esse pequeno monstro, que até mesmo eu preciso resistir a este encanto.

Oh, e como é triste sentir saudade de sentir falta de alguém. E como é irônico ver as situações se invertendo, como em um tabuleiro de xadrez. As peças dançam, mas eu, na situação de torre, caminho de um lado para o outro, meio perdida, meio astuta. Matando peças, mirando o rei. Na maldade absoluta de se ter o poder que não deveria se ter jamais. Venha, venha até mim minha criança, usa do meu corpo pra satisfazer tua maldade nata. Crava tuas unhas na pele do inocente. Isso te satisfaz. Isso me satisfaz.

Sinto-me tão só, tão patética...

Sou tão patética...

Lady – Regina Spektor

A dama canta o blues tão bem,
Como se ela quisesse isso,
Como se fosse inferno aqui embaixo,
No mundo cheio de fumaça.
Onde as piadas são frias,
Eles não riem das piadas,
Eles riem das tragédias.

Sociedades de esquina.
Mas eles acreditam nela,
Eles nunca a deixam.
Enquanto ela canta, ela os faz sentir coisas.

Ela diz, eu posso cantar essa música tão triste,
Que você vai chorar, apesar de você,
Pequenas lágrimas molhadas nos ombros do seu amor.

E eu tenho andando por essas ruas há tanto tempo...
Não há nada certo, não há nada errado,
Além das pequenas lágrimas molhadas nos ombros do meu bebê.

A dama acende um cigarro,
Sopros para longe, sem arrependimento.
Dá uma olhada em volta, sem arrependimentos, sem arrependimentos.
Estica-se como galhos de álamo.
Ela diz: "eu sou livre!"
Canta tão macio como se ela fosse quebrar e diz:

Ela diz, eu posso cantar essa música tão triste,
Que você vai chorar, apesar de você,
Pequenas lágrimas molhadas nos ombros do seu amor.

E eu tenho andando por essas ruas há tanto tempo...
Não há nada certo, não há nada errado,
Além das pequenas lágrimas molhadas nos ombros do meu bebê.

Mas nesse palco eu aprendi a voar,
Aprendi a cantar e aprendi a chorar
Pequenas lágrimas molhadas nos ombros do meu amor.

Mas agora é hora de dizer adeus.
Alguns podem rir, mas eu certamente vou chorar
Pequenas lágrimas molhadas nos ombros do meu amor.

A dama acende um cigarro,
Sopros para longe, e o inverno chega.
E ela esquece.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O casamento das feiticeiras

Antes do início do mundo, havia outros mundos. Assim como antes do início da nossa Galáxia, havia outras galáxias. E em uma dessas galáxias, existiam mundos distintos, com povos distintos. Até que a Terra foi criada e a lenda de um ser superior se espalhou por todos os continentes e pela mídia interplanetária. Os povos estavam malucos para conhecerem o novo planeta que havia sido criado, na esperança de que pudessem evoluir. Mas eles não podiam viajar de sua terra natal para todas as outras terras ou mares ou céus. Mas deixemos a etapa de Star Wars de lado. A questão é que, existia uma menina. Ela era muito triste e seus olhos tinham cor de chuva. Sempre chovia perto dela. Era toda escuridão e melancolia. Mas era feliz assim. Em outro planeta, existia um menino. Ele era muito alegre e seus olhos tinham cor de terra. Sempre fazia sol perto dele. Era todo luz e docilidade. Mas era um pouco triste assim. Então, um belo dia, enquanto ambos visitavam outro planeta um planeta cheio de nada e de coisas ocas e de um vazio e silencio ensurdecedor, conheceram-se. Houve, de inicio, um impacto muito forte. Raios solares iluminando diretamente nas trevas. Isso assustou tanto a menina, que ela preferiu fechar os olhos enquanto falava com ele. As trevas dela o encantavam, de certa forma. O atraíam. Então tornaram-se amigos. Com o tempo, ela transformou a tristeza dele em felicidade e ele afastou dela toda a escuridão. Ela o ensinou a tomar banho de chuva, a entender o que sentia, ver a escuridão dos outros e encontrar luz. Ele a ensinou a permitir que a luz entrasse pelas frestas da casa escura, a sentir felicidade de uma forma plena e altamente saudável. Eles se apaixonaram. E uniram o impossível. E foram felizes por algum tempo, até que, por conviverem de mais, os raios da luz começaram a machucar a escuridão. A chuva começou a evaporar, e ela sentia que, gradativa e lentamente, algo morria dentro dela. Começaram, sem querer, a entrar um no campo físico do outro. A escuridão dela começo a manchar a brancura da aura dele. E isso quase o matou. A união se tornou no que era previsto: Destruição. Estavam matando um ao outro para ficarem juntos. Até que não restou nada além de uma vida vegetativa. De uma união vegetativa. Os dois resolveram ficar distantes um do outro da forma mais rápida possível e se mandaram pra Terra, mesmo que quebrassem as regras. Dizem que foram amaldiçoados desde que deixaram a outra Galáxia para vir morar na Via láctea. Ele foi privado do planeta, com a única função de iluminar e aquecer. Ficou bem ali na fronteira entre o espaço e a vida, sendo obrigado a observar tudo sem nunca poder viver de fato. E ela se transformou no orvalho noturno, podendo sentir, mas sem nenhuma outra função além disso. Ficaram separados drasticamente, só podendo haver união quando as nuvens, como cupidos, os uniam pela química da evaporação.

E desde então, o povo da Terra tem sido abençoado com a luz e as trevas e todos os provérbios e medos e poemas que têm sido elaborados a partir delas. E ninguém nunca esquece dos raros dias em que essas duas forças se unem pra formar o arco-íris. Ou de quando ambos coexistem na mesma hora, formando sol e chuva juntos. E de como é bonito presenciar essa intensa e sobrenatural forma de nostalgia romântica.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Questões Existenciais #3

Odeio convenções sociais. Se prestarmos atenção, toda essa merda de status vem de algum lugar da ignorância humana. E por que todos esses costumes bregas sobre o que devemos fazer, como devemos nos vestir, onde devemos ficar, como devemos caminhar e etc e etc e tal? Mendigos não precisam disso. Nem de casa eles precisam. Só de um cigarro e uma garrafa de cachaça e tá tudo bem. Obvio que tá tudo bem. Tá tudo bem pra todo mundo. A Dilma continua no poder, o Patati e o Patatá continuam no ar e o meu vizinho continua sendo um imbecil ganancioso. E que merda a gente tem a ver com isso? Nada! Nada mesmo. Enquanto minhas colegas se afundam no prestígio e no luxo, alguns amigos meus que eu ainda não conheço estão dormindo de baixo de algum viaduto, espalhados pela cidade. Enquanto eu escrevo nesse netbook e reclamo da minha vida pacata e levemente burguesa, existem pessoas que se alimentam com o lixo do restaurante e outras que nem isso conseguem. Enquanto eu falo mal da falta de criatividade culinária da minha mãe, existe uma criança em Viamão que literalmente se alimenta da foto de uma lasanha, imaginando o gosto do qual nunca provou. E eu sou uma merda por isso, igual a todos os outros burgueses alienados e falsos revolucionários que pensam que sabem de alguma coisa de merda de vida. Por que ninguém sabe. E todo mundo tem milhares de problemas minúsculos que servem para disfarçar o tédio cotidiano de quem tem tudo e não dá valor. E todo mundo sabe ficar com cara de bunda por qualquer coisa que vê e não gosta, que lê e não concorda, sem nem ao menos pensar na sorte que tem. Por que isso? Por que esse costume tão feio de desvalorizar tudo de precioso que conseguimos ter? Por que eu tenho que ler um artigo no jornal sobre uma menina de seis anos que se alimentou de papel e pegou intoxicação com a tinta da impressora pra poder ligar essa revolta toda? Por que a gente não consegue simplesmente se importar com as coisas enquanto elas não batem de frente na nossa cara? Por quê?

E mesmo sabendo que não vai adiantar nada, nem mudar nada na porra da vida de nenhum idiota, eu continuo escrevendo sobre essas coisas, como se isso diminuísse algum problema. Como se matasse a fome de todas as crianças da África ou como se bancar a socialista séria fosse o suficiente pra acabar com o capitalismo cruel. Não adianta nada. E no fim, eu sou mais uma burguesa pacata, escrevendo sobre minha vida entediante. E eu vou ficar consumindo coisas que não preciso e guardando dinheiro que não vou usar e invejando coisas que nunca precisei ter. E quanto às convenções sociais? Ora, o que seria da sociedade sem elas? Vamos continuar dançando de sapato alto, mesmo que doa, apenas para sermos aceitas no mundinho insano da moda. E vamos continuar borrando nossos rostos com maquiagem para fazermos de conta que temos peles perfeitas. E vamos continuar puxando saco de qualquer pessoa que possa nos promover. Somos hipócritas e nojentos.

Minhas boas vindas aos recém-nascidos. E que eles sejam socialmente felizes nesse mundo de dementes!


 

Questões Existenciais #2

"Senhor, hoje eu ouvi muitas vezes a frase "eu te amo". E eu fiquei muito feliz com isso na hora, por que é sempre bom a gente se sentir amada e tal, mas depois eu parei pra pensar melhor e...

Bem, grande merda.

Grande merda mesmo.

Todo mundo ama todo mundo nessa porra de século XXI. Ou pelo menos todo mundo diz que ama. É tanto desespero byroniano por uma retribuição afetiva, que a enganação das palavras serve pra aquecer os corações fugazes de 7 bilhões de pessoas. E, cara, palavras são muito bonitas e coisa e tal, mas isso não acaba com a solidão. E nem com a fome, nem com a pobreza, nem com a tristeza, nem com merda nenhuma. E o pior é que todo mundo quer que a gente diga isso, por que se tu resolves ser honesto e continuar no silencio enquanto alguém se declara, é considerado falta de educação. Não, pior do que isso, é declarado estado de sítio no país. E as tropas são contatadas e a ONU bate na tua casa pra te dizer o quão indelicado, frio e egocêntrico tu és. Daí tu não tem saída. Se alguém diz que te ama da boca pra fora, tu simplesmente tem que mandar um de volta. É tão absurdo, que com o tempo a gente se acostuma e isso vira algo cultural. E daí todo mundo ama todo mundo e estamos muito bem assim. Não estamos bem porra nenhuma! E honestamente, eu estou cansada de ser romântica com todo mundo. Eu tô é cansada de esperar que todo o cara que me aparece na frente seja um príncipe de conto de fadas. Eu tô cansada de ver todo mundo agir como se o amor fosse algo perfeito, algo feito sob medida e entregado em casa, por que não é. E todo mundo age como se fosse pra não ter que pensar muito sobre isso e poder ser feliz em paz com as migalhas que a boca do hipócrita oferece. Mas prestem atenção, queridos amigos românticos, são apenas palavras! E chega desse altruísmo barato.

E chega de esperar que alguém quebre o telhado da minha casa imitando alguma entrada idiota de filme apenas pra me conquistar. E chega de achar que alguém vai desistir de tudo e não se importar com porra nenhuma apenas pra ficar do meu lado. E chega de sonhar com todas essas merdas românticas que só acontecem nos livros e olhe lá, por que até os livros já estão corrompidos. E o meu apelo? Parem de dizer "eu te amo". Por que se tu for dizer que ama alguém, então tome todas as providencias pra que isso seja mostrado de outra forma. Palavras são só palavras que o vento leva, borboletas que fogem pelos lábios e não se sabe pra onde vão. Palavras são apenas coisas que as pessoas inventaram pra dar nome ao que sentem. Mas quem precisa de nome quando ações falam por si mesmas? E se tu ama, não precisa repetir tanto. E não precisa usar isso como auto afirmação. E não precisa esperar nada em troca, por que o amor é uma coisa tão bonita, que basta em si pra existir e deu. Mas o homem tem aquela velha mania de destruir tudo que toca, e o amor foi destruído também. E que se foda tudo isso, por que é apenas mais uma das coisas que me incomoda nesse mundo e não vai mudar tão cedo.

Por que ninguém quer mudar.

Ninguém.

Mas cara, na boa, eu cansei. Chega de pensar no amor que eu sinto por alguém e começar a pensar no amor que alguém deveria sentir por mim. Quer dizer, de ferro já basta a minha perna, né? Meu coração não precisa ser assim também. Então que venha o egocentrismo e que se dane o mínimo de consideração que eu mantinha por lembranças. E que eu pare de esperar por atitudes que não virão. E que eu me lembre que não importa o quanto eu tenha me importado, algumas pessoas simplesmente não se importam.

E que Deus esteja comigo.

Amém."

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Questões Existenciais #1

"Para que espécie de Paraíso, Purgatório ou Inferno despacham a parte da alma que cabe aos membros amputados? A mão ladra irá repousar no mesmo silêncio e paz que a que concede e provê? A perna imóvel, improdutiva, gozará o mesmo da que marchou, plantou, colheu e combateu? E quando Zuquim fosse ao encontro da parte de si mesmo que partiu antes dele? Como se daria o milagre da reencarnação? Como estaria sua perna? Mais moça, mais magra, mais pálida, poupada pelo Sol manso do Além?"

- Marcos de Vasconcellos

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Planejamento (falta de)

Pegar uma mochila, pôr um óculos de sol e sumir no poente. É tudo que eu vou fazer. É tudo que eu preciso fazer.

Definitivamente.