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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Gratidão

Sabe, não sei como funciona com vocês, mas comigo a vida tem sido muito simpática. Com dentes brancos, sorriso fácil, leveza invejável. Eu que sou doida e vejo gordura em barrigas sequinhas. A vida tem sido tão leve como uma bailarina, tão bela quanto um espetáculo da Brodway. Sou grata. Taí a coisa mais difícil de se sentir no mundo inteiro. Gratidão. Soa quase absurdo aos meus ouvidos (e olhos) quando ouço (ou leio) isso. Agradecer todos os dias pelo que se tem e não apenas reclamar do que não se tem. Ainda que seja pouco. O pouco para mim pode ser muito para o outro. Sei que pode ser bem hipócrita da minha parte escrever sobre isso, já que sempre que vejo alguma frase do tipo "ai você não deveria por comida fora, já que tem tanta gente passando fome no mundo" fico louca. Quer dizer, não é como se, por algum milagre, quando eu deixasse de por a comida fora as outras pessoas lá do outro lado fossem parar de sentir fome. Tenho sim, pra mim, que nos meteram essa teoria goela abaixo para aprendermos a sermos omissos e bem treinados. O sistema não gosta de gente egoísta que quer defender sua própria honra. Assunto pra outro texto. Voltemos à gratidão. Não sou a melhor pessoa da história do universo pra vir falar sobre agradecer, por que Deus sabe o quanto eu reclamo da minha vidinha de merda todos os dias. E o quanto eu daria um rim pra ter a vidinha de merda que eu sempre critico. E o quanto isso soa confuso. Mas é verdade. Você não deveria pôr comida fora, mas põe. Você não deveria reclamar da sua casa burguesa, da sua faculdade burguesa, da sua alma burguesa. Mas reclama. Assim como nenhuma criança desnutrida da África deveria sorrir na vida, por que são infelizes. Mas eles sorriem. E nós reclamamos.
Qual o sentido do texto?
Agradecer.
A gratidão precisa vir do coração, você precisa sentir isso em cada centímetro do seu corpo. Como uma fagulha crescendo de dentro, vindo das veias, incendiando todas as babaquices e renovando todas críticas
Agradeça.
Faz bem à saúde e é de graça.

Novos Ares

Oi.
Como vai você? What's up? Ça vá?
Só queria dizer que estou pensando com todas as forças existentes nas minhas células em abandonar esse blog. Não por falta de texto ou criatividade (er), mas simplesmente por que quero coisas novas. Sei lá, falar de outras coisas, ter um papo direto com o leitor. Isso aqui virou um diário secreto, quase um cemitério, quase um balde de lágrimas. O mais próximo que eu já cheguei de uma auto-biografia, só que na versão mal escrita e extremamente juvenil.
Então, é.
Essa é a minha ideia.
Um novo blog, sem mimimi da autora.
Ok.
Terá mimimis.
Mas não somente isso.
É.

Holiday

Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.Passei.

Sim, essa foi a minha reação ao ver as notas publicadas.

domingo, 24 de novembro de 2013

Nove Horas

Venta no norte, mas minha bússola não consegue acompanhar. Meus movimentos são descompromissados, meu coração está emancipado. Encontrei-te em dias que não se foram. Mergulhei em sentimentos que não existem. Tua ausência é o assombro da minha existência. A razão é o nômade do meu espírito. Quase não percebo. Quase não sinto.

domingo, 20 de outubro de 2013

Anemia

As imagens que caem soltas na nossa memória podem ser comparadas com as gotas da chuva que, independente do nosso humor, insistem em cair de forma lenta e descompromissada, quase como se assobiassem em uníssono contra a nossa vontade. Lembranças ruins são gotas geladas de uma chuva acida que não pode ser lambida ou sequer adorada. Lembranças boas são como a glória que o céu derrama no verão acima dos nossos corpos que queimam acima dos trinta graus. Em todos os casos, não estamos preparados para o frescor. Ainda que pacífico. Ainda que doído, que o abrupto som do que não é desejado pode nos causar.

Minhas veias estão abertas ao futuro. Não me sinto mais dissipada ou esquartejada. Não me sinto mais como se estivesse perdida ou fora de mim. Não me sinto como uma estranha, agora posso dizer que me conheço. Você foi embora como se os sentimentos fossem obstáculos que podemos simplesmente superar. Como uma queda da qual você levanta e segue em frente sem olhar para trás. Não, isso não se aplica a pratica. Não, não me importa quantas vezes você diga que sim, todos nós sabemos que esquecer só funciona na teoria. E Alzheimer que me perdoe, mas a alma nunca vai conseguir apagar o que a mente insiste em destruir. Não podemos fazer de conta que não sabemos, não podemos simplesmente não olhar. Mas fazemos isso.

Eu, você, os outros.

Não deveríamos ser pessoas frágeis com um coração pesado demais para ser carregado. Mas somos. O mundo está cheio de super-heróis, super-amantes, super-pais, super-namorados, super-filhos, super-amigos. Estamos lotados, afogados em palavras vazias. Somos jogados em espiral para dentro de um buraco negro de esquizofrenia. A claridade anêmica que não ilumina a vastidão do escuro dos ignorantes. E que podemos fazer? Não podemos. Mas fazemos.

 Eu.

 Você.

 Os outros.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Ain't Fun - Paramore

Nunca fui boa em matemática. Nunca gostei de cozinhar. Meus animais acabavam sempre ou morrendo ou fugindo. Meus sims acabavam afogados ou incendiados ou morrendo de fome. Meus talentos na escola eram parcos. Meus dentes eram e continuam sendo tortos. Meus olhos são míopes. Meu nariz é proeminente. Mas se tem uma coisa na qual eu sempre ganhei de todo mundo, era a leitura. Eu lia tudo que me pusessem na frente. Desde outdoors até a enciclopédia. Eis que descobri o que sabia fazer: Fugir da realidade. E cara, como isso é bom. Ficar por horas vivendo a vida de outra pessoa. Já fui de tudo nesses meus dezenove anos que em breve se acabarão: Fui vampira, homem, criança, lobisomem, fada, bruxa, cancerígena, promíscua, prostituta, velha, imortal, loira, ruiva, morena, negro. E sempre foi incrível pra mim. O meu problema é quando tenho que ser eu. Sara. Com todo meu nome junto. Sara Aline Ribeiro de Senna. O nome composto me dá certa possibilidade a mais. Encarno meus personagens. Segunda eu sou sombria. Terça eu sou romântica. Quarta eu sou dramática. Quinta eu sou rebelde. Sexta eu sou preguiçosa. Sábado eu sou francesa. Domingo eu sou poeta. E quando eu sou eu? Deixo para ser eu apenas quando a vida vem e me dá um tapão na cara. Deixo para ser eu quando tenho que esquecer que não sou quem eu queria ser e passo a ser quem eu tenho que ser de verdade. Eu. Eu humana, mulher, brasileira, pacata, mentirosa, imperfeita, Sara Aline Ribeiro de Senna. Com todas as letras e espinhas. Com todas as dores e próteses. Com todo um passado e uma história difícil. Deixo pra ser eu em entrevistas de empregos, inscrições de concursos e textos escondidos. Deixo para ser eu, justamente quando já estava tão feliz fingindo ser outra pessoa. Esse é o mundo real. E, como diria Hayley Williams, eu não posso ir chorar para a minha mamãe.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Paracetamol

Meus olhos estão famintos, te procuram sem sucesso. E mesmo que a cidade inteira vibre, calor nenhum é eficaz para quebrar a geleira do meu coração congelado. Você é eficaz. Mas você não é mais uma opção. Respiro fundo, dobro as mangas e me camuflo entre aquelas pessoas, a multidão que me esconde do olhar crítico do destino. Estou segura no meia dos corpos que se balançam, quase pareço uma sombra. Um fragmento do que eu era. Uma memória que se move por entre as possibilidades diversas, escondendo-se no badalar de outros corações partidos. Meus olhos estão famintos. Busco algo, não sei o que é. Há um buraco no meio do meu estômago. Coçando, incomodando. Não há nada que eu possa fazer. Você costumava fazer muito mais efeito do que um comprimido de paracetamol. Mas você não é mais uma opção.

Redemoinho

Perdi-me. Fundi-me no mundo, no mar de gente que engoliu meu corpo. Fui abortada pelo universo. Um feto cru, uma alma nua. Sou o que resta do que nunca fui. A vida que nunca existiu. A morte do que nunca viveu.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Futilidade

Qual é a função essencial da tristeza? Quer dizer, além de nos fazer ter um buraco imenso no estômago e uma vontade imensa de chorar. Qual é a função da alegria? Tem cura? Por que temos emoções? Por que não podemos viver para sempre nos contos felizes da publicidade brasileira? Por que eu não posso ser como a moça de dentes brancos que come margarina suave e elegantemente às oito da noite antes da novela começar? As coisas seriam mais fáceis.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Submarine

As coisas nem sempre são como a gente quer. Mas a vida é engraçada. Quer dizer, você tem muitas opções. Você pode lutar. Você pode aceitar. Você pode chorar. Ou você pode morrer. Mas morrer não é uma escolha, é uma covardia. A menos que você não seja suicida. Sejamos sinceros: Todos somos suicidas.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Astrologia: Libido not found

A dinamização da libido. Marte em sextil com Vênus natal. Entre os dias 12/09 (Hoje) e 27/09, o planeta Marte estará formando um ângulo harmonioso em relação ao planeta Vênus do seu mapa astral, Sara. Este tende a ser um período particularmente positivo para o sexo, o prazer, uma fase em que você provavelmente sentirá que está irradiando um magnetismo pessoal maior, e de fato estará... Convém aproveitar o momento, circular mais, fazer-se ver, exibir-se um pouquinho não faz mal ninguém, afinal de contas. O magnetismo pessoal irradiado neste momento vai bem além da mera esfera sexual, entrando em todas as suas áreas sociais, do trabalho às amizades. As pessoas estarão percebendo em você um "tesão maior" para fazer as coisas, uma percepção de que você estará tendo mais prazer em viver a vida. E você, é claro, poderá contagiar positivamente os outros com esta qualidade, neste momento.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Part II

"Eu gostava de lugares altos, gostava de me sentir livre e acima do que a vida subur-bana me proporcionava. Em outras palavras, eu gostava de me sentir alta e grandio-sa. Eu praticamente podia sentir a cidade inteira vibrando abaixo dos meus pés en-quanto saltava de um prédio para o outro, sem ser vista. As pessoas estavam muito ocupadas com suas vidas para olharem para o alto e me perceberem ali: saltitante e impossível. Nem mesmo as freiras que eram tão incrivelmente rigorosas, notavam minha falta. Ninguém ouvia meus passos, ninguém me enxergava. A única amiga que eu tive desde que fui jogada naquele lugar, foi uma criança de sete anos que, em apenas um mês de amizade, foi embora com um casal rico e alegre. Eu gostava da solidão: Me fazia sentir especial, independente, adulta. Ter passado a minha pré-adolescência lendo ou quebrando as regras do orfanato me transformou em quem eu era agora, em quem eu queria ser. E o meu querer não ti-nha limites. O que é meio perigoso quando se tem quinze anos. Não que eu quisesse ser a Barbie ou a Fada da floresta – por que acredite, esse é o sonho das outras três milhões de adolescentes desse país. Na verdade, eu queria justiça. Colocar as mi-nhas mãos onde ninguém mais colocava. E por isso, tudo era tão complicado. Eu aprendi, nas ruas, a lutar, a pular, a me esconder, a negociar. Eu não usava dro-gas ( a menos que você considere aqueles cogumelos do ano passado, e admito que me arrependo: as porcarias não tinham funcionado pra nada). Eu não costumava beber. E eu não ligava muito para garotos. Ainda. Mas se tinha algo que me divertia muito mais do que passar horas com a cabeça a-fundada em livros de aventura, era lutar. Eu tinha uma parcela considerável de ener-gia acumulada dentro do meu organismo, que parecia se renovar a cada amanhecer glorioso. Eu tenho certeza de que, se eu tivesse a sorte de ter sido adotada por al-gum casal rico na minha infância, eu provavelmente tivesse me tornado uma campeã de algum esporte para olímpico ou de alguma arte marcial. Tipo o judô ou o kung-fu. Na verdade, eu tenho certeza que poderia ter crescido feliz e satisfeita em meio aos tatames de Box. Eu poderia ter feito muitos nocautes na minha vida. Eu poderia ter apanhado muito e ter batido muito também. E, no meu quarto azul marinho, eu teria uma estante inteira de medalhas e troféus de campeonatos regionais e interna-cionais. Claro, isso só ficava na minha cabeça em algumas noites, quando eu comia aquela gororoba de alguma coisa com feijão e depois dormia. Só de vez em quando, quando as noites ficavam mais escuras e a lua não aparecia e fechar os olhos fazia tudo parecer mais difícil. Só de vez em quando eu sonhava: Eu era uma guerreira, e guerreiros não tem tempo para desalentos. Ou coisas de mulher. Não que eu não fosse uma mulher. Mas hey, você tem de concordar comigo: Ser mulher hoje em dia é uma babaquice sem tamanho. Quer dizer, você precisa gastar muito tempo com coisas inúteis para ser considerada uma mulher bem sucedida. Tipo maquiagens ou homens. Eu simplesmente não preciso dessas coisas. Me dê um arco e flecha, e eu darei a você uma guerra inteira".

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Folha de Pagamento

O que nos torna dignos de algo? O que significa a frase "fazer por merecer"? Será que os filhos e filhas do Eike Baptista, do Silvio Santos, do Bill Gates, da Madonna, da Angelina Jolie, do Luciano Huck ou de qualquer outra pessoa das classes "A" e "B" são merecedores desses berços de ouro? Será que tem algum trabalho, alguma prova, como um concurso de eliminação, que realizamos antes de nascer? Por que as crianças pobres são ensinadas desde pequenas que são culpadas por sua prórpria miséria? Por que mendigos que passam fome nas ruas são acusados de vagabundos e descarados? Por que temos que trabalhar uma vida inteira e, muitas vezes, morremos achando que nunca fomos nem seríamos merecedores de nada? E quando já se nasce rico, somos merecedores de que? Quais são nossos méritos, nossos prêmios? Qual vai ser a nossa luta? Por que somos praticamente obrigados a pensar que trabalhamos demais e valemos de menos pro mundo? Somos como um fardo nas costas de nossos chefes, de nossas famílias, de nosso planeta. Por que a pobreza, nela mesma, é tão mal tratada? Por que a riqueza é tão super estimada? Quanto mais o nível de vida cresce, mais crescem os números de suicídio. Só estava aqui, olhando minha folha de pagamento e me perguntando se é esse o meu valor. Só estava aqui, não entendendo carlhada nenhuma da vida social do ser-humano. De novo.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Vingança

As gotas de chuva se acumulavam como flocos de neve no tecido recém lavado da minha roupa velha. Meus ossos pareciam ranger como engrenangens antigas, conforme meus passos aceleravam. Minhas galochas batiam nos poços de água, denunciando o barulho da minha corrida aterrorizada. Eu podia sentir um formigamento atrás da orelha, onde os dentes dele tinham cravado. Você precisa de sangue, dizia a voz na minha cabeça. Não, não, eu não preciso não. Eu não sou como eles. Eu não sou um monstro. Deus, o que eu tinha acabado de fazer? Não pense, não pense. Se você começar a pensar de novo, vai acabar se perdendo. Ou servindo de taça de bebida para ele. Ele. Quem era ele? Eu podia jurar que o amava até ontem. Eu podia jurar que o conhecia, até hoje. Eu podia jurar que morreria por ele, até dez minutos atrás, quando os dentes dele cravaram no meu pescoço de uma forma dolorida e prazerosa. Eu o desejava. Eu queria que as mãos dele tocassem nas minhas partes proibidas, onde ninguém mais poderia tocar. Afinal, ele já tinha tocado no meu coração. Não tinha? Eu entregaria minha alma a ele. Agora eu podia entender. Como pude ser tão burra? Não era amor. Nem paixão. Nem desejo. Era compulsão. Pura, simples, mortal. Compulsão. - Você não pode se esconder para sempre. Sabe disso, não sabe? A voz dele estava mais próxima do que eu esperava. Meus pulmões estavam doendo, me faltava o ar. Deus, como pude ser tão burra? Como pude... - Ah achei você! Os dedos dele estavam cravados no meu pescoço de novo. Como mármore. Como gelo. Eu senti um arrepio na espinha. Algo no modo como as gotas de chuva caíam com lentidão em meu rosto, dizia que aqueles eram meus últimos minutos como humana, como viva, como pensante. E minha mãe? Como ficaria minha mãe? Como ficaria Marrie, minha irmãzinha? E os meninos da escola que não tinham me conhecido? E aquele livro que eu nunca escreveria? Por que, antes da morte chegar, não podemos ter um aviso prévio, com formalidades e um baile de despedida? Só isso que eu queria: Uma despedida. Saborear o gosto da vida só mais uma vez. Só isso. Mas era tarde demais. Eu vi a sede dele no fundo daqueles olhos sem pupilas. Eu vi a minha própria falha, simbolizada em vermelho naqueles dentes afiados. Meu sangue, meu próprio sangue na boca do monstro que eu amava. Por que é assim, não se deixa de amar de uma hora pra outra. Ele estava me matando, e eu ia morrer como aquela que foi apaixonada por seu assassino. Eu ia morrer como uma traidora. Os dedos dele me puxaram para mais perto e tudo que eu senti foi uma dor latejante na garganta. As luzes acabaram. Não haviam gotas de chuva, nem cheiro de rua molhada, nem barulho de carros distantes. Não havia desespero, nem amor, nem traição, nem tristeza, nem saudade, nem medo. Havia um eco distante, como se minha alma gritasse do infinito. Eu morri naquele dia. E voltei, para matar o vampiro.

Mudança

Mudei. E isso é tudo o que eu tenho certeza nesse exato momento, às treze horas e vinte e três minutos desse dia 22 de agosto muito nublado de dois mil e treze. Mudei. Não sei mais ser simpática com pessoas vazias. Não sei mais me esforçar pra conseguir o afeto de pessoas que não me acrescentam. Eu sei, isso parece frio quando exteriorizado, mas é a verdade. Cansei, cansei, cansei e cansei. E nem é como se fosse uma decisão tomada a sangue frio, por que não foi. Na verdade, aconteceu de uma maneira que não notei, de tão lenta. A mudança veio crescendo dentro de mim como uma onda calma, subindo para os meus sentimentos e definindo as minhas atitudes. Mudei. Não quero mais falar sobre as luzes do cabelo dela, ou sobre o namorado que engordou três quilos da irmã da outra ou sobre a viagem feita à Paris naquele final de semana quente que não tinha nem um sorvete pra se tomar. Cansei. Não quero mais saber o resumo dos últimos dez seriados mais vistos segundo a "People", não quero saber qual atriz de Hollyood deixou de tudo pra se casar com o garimpeiro da cidade do lado, não quero mais ouvir quais são as cores dos esmaltes mais usadas na Europa. Cansei. Superficialidade demais, sufoca. Conversa fiada cansa. Pessoas que fingem viver sem sentir, não me fazem mais diferença. Cansei. Não digo isso como uma decisão, mas como uma conclusão. Não me empolgo mais em iniciar conversas que não ultrapassam o olhar frio de quem está ali só em corpo. Meu círculo de contatos precisa de mais coração, de mais olhares, de mais sintonia, de mais humanidade. Cansei. Não quero robôs a minha volta. Não quero ser robô a volta dos outros. Quero as pessoas como são, cruas, selvagens, animais, doces. Cansei. É aí que a minha felicidade sincera começa. E como é bom ter um pouco de honestidade nesse mundo, no meu mundo, dentro de mim.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Aquilo Que Eu Sei

Tem dias que acordo com uma vontade imensa de chutar a vida. Chutar tudo pro alto e depois dar risada. Como quando eu era criança e montava a casinha da Barbie no meio do quarto, só pra depois ter o prazer de quebrar tudo de novo. Só por que minhas construções geniais de lego nunca duravam e, no fundo, eu queria mesmo era brincar de King Kong. Só por que, no fundo, eu queria era chutar a vida inteira e continuar rindo, como uma telespectadora de fundo. Alguém alheio que só intromete o dedo pra atrapalhar e depois se diverte com a desgraça alheia. Eu era doida. Gostava de bagunçar, destruir, quebrar, cair, machucar, sangrar, doer, comer, gritar, chutar. Tinha o diabo no meio do corpo. Mamãe sempre disse que eu era inocente. Que criança tem a alma salva até os seis anos de vida. Que criança não sabe o que faz. Eu tinha alma de Lolita, queria agarrar o tio do picolé. Era um homem bonito, o tio do picolé. Eu queria quebrar a cama dos caras mais velhos e poder olhar no buraco da fechadura o que é que eles tanto faziam com as mulheres lá dentro. Eu queria poder destruir qualquer resquício de simples alegria por perto, pela minha alegria As pessoas eram esquisitas demais pra mim, engraçadas, burras. Eu sempre soube o que elas não sabiam que eu sabia. Eu te vi hoje e lembrei disso. Por que você não sabia que eu te vi quando você me via. Você não sabia que eu sabia que você queria me ver, mas é tão burro como todas as outras pessoas do mundo, que achou melhor fingir que não viu e virar pro outro lado pra que eu não soubesse que era você e que queria me ver. Mas eu sei, eu sei de tudo. Essa é a sua tragédia, a tragédia do tio do picolé, a tragédia da minha mãe, a tragédia daquele grupinho de meninas que não quer mais minha amizade. Eu sou diabólica. E sempre sei daquilo que as pessoas acham que eu não teria como saber. Chego no meu trabalho, respiro bem fundo aquele cheiro de papel envelhecido. Você poderia pensar que eu amo o cheiro de papel envelhecido, e talvez ame mesmo, se for um dia normal com dezoito graus de temperatura e lápis preto no olho. Hoje não. Hoje eu quero só chutar tudo. Por que hoje faz vinte e oito graus la na rua e não parece certo, já que estamos no meio de agosto, que fica bem no meio do inverno, que fica bem no meio do meu equilíbrio. E sem equilíbrio eu volto a ser criança, volto a ser lolita, volto a querer o tio do picolé, volto a saber dos outros que acham que eu não sei de nada sobre o que eles sabem. Por que hoje, eu não tenho lápis preto no olho e o papel parece muito intoxicante. O telefone toca, a morena baixinha atende. Ganha cinco mil, a desgraçada. Só pra ser boa em computadores e telefones. Aliás, nem precisa ser boa, basta passar numa prova medíocre. E eu, que me acho tão boa, não ganho nem metade. E eu, que sou tão equilibrado me rasgo. Algo nas minhas entranhas se corrompe. Você não sabe que eu sei que você me via. Você não sabe, você não sabe, você não sabe. E aquela música de cinco anos atrás começa a tocar de novo na minha cabeça, minha inspiração volta, você não sai do meu gravador interno dentro do microchip instalado no meu cérebro. Penso que nada nessa vida vai mudar, que sou inconstante e nem me lembrava mais dessa palavra, que sou idiota e perdi a vida, mas se estou morta e continuo viva então devo ser imortal. E não compreendo. As meninas me olham, como se sentissem medo. Elas sabem. Elas sabem que eu sei o que elas acham que eu não sei. Meus ouvidos são aguçados, elas sabem. Estagiárias de colarinho branco, metidas em seus processos e iphones rosados. Eu sou uma delas, mas tenho algo a meu favor: Elas não sabem que eu sei o que elas acham que sabem. Elas não sabem que a mesa do cara que trabalha do meu lado é sensual e me acende os nervos. Você não sabe que o cara usa aquele mesmo perfume e me dá bom dia no mesmo tom e diz coisas doces com a mesma ternura e faz de conta que não vê com o mesmo cinismo. O cara da mesa ao lado se parece com você, mas não sabe. A ironia das coincidências que me atropelam todos os dias,e ele acha que eu não sei. E sei que ele não sabe. Assim como você. A verdade é que a minha criança que é meio ninfomaníaca e meio freira, queria muito ir estudar em alguma instituição religiosa, servir à espiritualidade, largar tudo em busca do “eu” budista, parar de comer empadinhas de frango e largar do computador pra viver do ar e da meditação eternas. Queria muito jogar os processos no chão, chutar os compromissos pro alto, rasgar as roupas do cara, mandar beijos para a chefe do departamento, vestir aquela lingerie rosa claro com rendas inocentes e uma costura promíscua, fazer um swing. Ao invés disso, ganho meus dias enumerando papéis, processos interminváveis de uma justiça que não reage: É como morrer anestesiada. Quarenta e sete, quarenta e oito, como seria se eu tirasse as roupas agora, quarenta e nove, cinqüenta, a vida parece mesmo meio sem sentido, talvez eu vá ao shopping depois do trabalho se der tempo, cinqüenta e um, cinqüenta e dois, mas e se ele realmente tiver me visto, cinqüenta e três, e se ele soubesse que eu estou com aquele sutiã roxo, cinqüenta e quatro, concentre-se, cinqüenta e quatro, droga errei de novo, risca, risca... Minha concentração se vai nas páginas repetitivas de um trabalho que se baseia na mesmice. Meu dia se esvai em compromissos que me sugam a alma, e no fim tudo o que sobra de mim são os delírios meio violentos, meio românticos. No fim sou eu na minha cama, abraçada com um sapo de pelúcia que tem três metros, perguntando a Deus se ele existe mesmo e por que é que eu ainda não ganhei na MegaSena, por que é que eu escrevo essas coisas maldosas, por que é que a vida é tão estranha de ser vivida, por que é que ainda não fui pra índia ou para um clube de golf. No fim sobra eu e as minhas sobras do que um dia você conheceu por inteiro. Mas você não sabe, você não sabe...

sábado, 17 de agosto de 2013

Sinceridade

Ele não sabia ser bonito
Nem discreto
Nem elegante
Mas eu o achava lindo do mesmo jeito

O que as revistas não entendiam,
É que o fogo dos olhos dele
Tinham o poder
De torná-lo bonito por inteiro

Setembro

Andamos por essas ruas
Sem perigo,
Nem dinheiro
Mas sim com um prazer imenso
De ter um ao outro
Tínhamos algumas
Certezas confusas
E um desejo flamejante
Nas nossas brigas
Nos nossos beijos
Mal sabíamos
Que a vida mais é um jogo de lógica
Do que um filme de comédia
Ou um eterno calor
Florido de setembro...

Futuro do Pretérito

Que tua boca não se cale
Que teu cabelo não se arrume
Que teus olhos não se apaguem
Que tua alma, assim perdure

Te espero numa esquina
De um futuro incerto
Te sonho numa rua
De um passado ainda perto

Te quero por inteiro
Embrulhado como deixei
Com fitas coloridas
E dentro da barriga, um rei

Te quero irritante
Imperfeito e indomável
Como o fantasma do passado
Que um dia eu tanto amei

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Vampire Academy <3

Ai meu bom Deus, é verdadeeee!
Sim, sim, sim, sim, sim. Meus pulos internos não querem parar. Eu estou surtando psicológica e espiritualmente. Alguém me segure, alguém me segure. Preciso de um abraço. Depois dessa foto, só digo que meus dias até fevereiro ficarão infinitamente mais longos. Quero Vampire Academy. Quero meu livro preferido de todos os livros de vampiros dos últimos tempos chegue logo nos cinemas. Quero que tenha sua versão em IMAX, em 3D, em 2D, em preto e branco, em sépia, de qualquer jeito, com qualquer pessoa, a qualquer hora.
Depois de cinco, sim, eu disse cinco anos de espera, só posso dizer que meu coração está apertado.
Não me sentia tão ansiosa por um filme desde a estréia de Homem Aranha 3. E, meus caros, isso significa que a coisa está realmente séria.
Sim, sim, sim! Dimitri Belikov e Rose Hathaway salvaram minha adolescência da mesmice com seu romance impossível e batalhas eletrizantes. Richelle Mead se transformou na ruiva mais linda, criativa, vampiresca e maravilhosa de todos os tempos. Hayley Williams que me perdoe, mas ela também é a minha ruiva preferida. Anne Rice que me perdoe, mas seu vampiro Lestat jamais será tão sexy quanto o meu dhampir russo.
Enfartando, só digo isso.
Enfartando.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Garfield, Paramore e Hematomas

Hum... Estou sozinha em casa. E, bem, posso dizer que faz um bom tempo que isso simplesmente não me acontece. Hoje é segunda-feira. E eu estou sozinha em casa, olhando Garfield na sessão da tarde. Não tenho nada grandioso a dizer, mas quero escrever. Quero escrever por que ultimamente isso meio que se tornou apenas uma lembrança do que eu costumava fazer assiduamente há um tempo atrás. Quero escrever pra não deixar morrer em mim a menina ociosa e criativa cheia de histórias pra contar ao mundo. Quero escrever por que isso sou eu. Então, olá. Tudo bem com você?

Sinto saudade do tédio, aquele espaço de tempo infinito e arrasador que me tirava a paciência.  Sinto falta da liberdade de se ter todo o tempo do mundo pra fazer qualquer coisa idiota e, ainda assim, não ter nada pra fazer. Sinto falta de relações na internet, pessoas desconhecidas, timidez, balões, pureza, melancolia, evanescence, esperança, frango desfiado sem culpa, queijo derretido inocente, coisas que agora já não parecem mais as mesmas.
Não sei como funciona isso com os outros, mas comigo continua sendo confuso. Eu, que sempre fui uma sofredora da síndrome de Peter Pan. Eu que queria manter meu corpo de criança, abrir minhas asas e sair voando pelos portões celestiais da Terra do Nunca. Mas a vida não é assim. Depois que meus olhos se abriram pra certas coisas, nunca mais conseguirão fechar novamente. Isso é um problema. Nunca mais o Mc Donald's foi o mesmo pra mim. Vocês tem ideia de como é ruim não conseguir pensar num hamburguer sem sentir náuseas? E, pior do que isso, se sentir totalmente fora do lugar. Sempre reclamei de ser deslocada, excluída, diferente. Fiz de tudo para ser normal. E fazer de tudo, tornou-me exatamente o oposto.
Meu vídeo-game está empoeirado. Minha leitura atrasada. Minha alimentação vegetariana, corrompida pela economia escassa. Meu amor, sonolento. Minha raiva, anestesiada.
Quando explosões se tornam um estilo de vida, o tédio começa a parecer muito mais agradável. Agora posso escrever, por que não estou correndo. Agora posso ver sessão da tarde, por que não há nada mais que eu possa fazer por mim. Ficar atirada em uma cama desarrumada nunca foi tão doce antes. A grama do vizinho que trabalha, viaja, namora, festeja, bebe, solta de paraquedas e toca guitarra nunca me pareceu tão chata. Quero ser como aquela senhora tranquila que mora no final da rua e passa o dia fazendo tricô ou cantando bossa nova com seus gatos. Quero ser como uma andorinha a assobiar no seu ninho. Quieta, pacífica.Quero que a única explosão da minha vida, seja do ócio dentro do meu estômago.E que essas borboletas parem de sapatear e que meu coração volte ao normal.
Depois de um mês inteiro de férias regada a música alta, amizades novas, início das aulas, trabalho corrido, namoro esgotado e uma vida que não me deixa tempo nem para respirar, tudo que eu mais quero é uma tarde com Garfield e Odd me fazendo rir de piadas que não tem mais graça.
Tédio, meu amigo. Meu corpo exausto te oferece trégua.


segunda-feira, 22 de julho de 2013

Inverno Vermelho

Ontem pintei minhas unhas de vermelho. E agora sinto como se meus dedos carregassem cerejas ao vento. Deus sabe que essa cor de nada tem a ver comigo, mas a astrologia confirma: Escorpião é um signo forte, de tons avermelhados, que gosta de violência e misticismo. Que sou eu para desconfiar da imensa sabedoria das estrelas? Sou nada. Aliás, não sei o que sou.
Esqueci de mim em capítulos que já se passaram, lugares que não visito, tragédias que nunca deveriam ter existido. Esqueci da menina de azul do início da história e me tornei a mulher de vemerlho do capítulo presente.
Não quero preocupar você, mas estou perdida. E embora digam que o amor é bonito, o cinza do inverno contradiz minhas expectativas. Minhas unhas vermelhas estão anacrônicas, representam uma dor violenta, o jeitinho escorpiano de ser subliminar mesmo sendo chamativo.
Que sou eu, diante da sabedoria das estrelas? Que sou eu?
Você ficaria assustado se eu soubesse.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

(Aquilo que não é uma) Retratação

Quando o sentimento é verdadeiro, não tem dilúvio que o derrube.
Se você é uma dessas pessoas que defende o amor eterno, mas se esquece da pessoa no segundo em que ela comete um erro, então você não sabe o que é amor.
E isso não vale somente para romances, mas sim para todo o resto.
Quando sua mãe te põe pra baixo, você não deixa de amá-la. Quando o seu cachorro te morde, você não deixa de amá-lo.
Que dizer da amiguinha cabeça de vento que, por descuido, põe os laços em risco?

Quando o sentimento é verdadeiro, não importa qual seja, ele vai permanecer.

Isso não é um pedido de desculpas.
De longe seria uma retratação.
Nem penso em dar explicações.

Isso é um grito de resposta.
Direito da minha nação.
Legítima defesa, assegurada pela Constituição.
Mas vocês já sabem disso.

Que se dane a moral corrompida.
Digam o que quiserem, menos que eu fui uma "amiga" falsa. Eu fui verdadeira, eu sou verdadeira.
Mas a fragilidade do sentimento, só mostra que nunca foi recíproco.


Paradoxo

A massa se move, deixa tudo girando
O barulho é alto, meus ouvidos retumbam

Lembro do meu gato ronronando no meu ouvido, na madrugada de ontem
Imagino como seria milhões de vezes mais reconfortante, na madrugada de hoje

Eles se divertem, riem
Eu me acabo, entristeço

Vou por que sou jovem
Fico por que sou ranzinza

Meus costumes desafiam as leis de convivência pacífica
Meus sonhos desafiam as leis da vida realista

Olá, pra você também
Sou alguém perdida no escuro

Você não está sozinho
Eu sou sua melhor companhia

Não posso ficar triste
Nós somos tudo o que queríamos ser um dia

domingo, 30 de junho de 2013

Esboço de um Final

Queria eu ser melhor
Para te ver chorar
Pelas minhas palavras

Que de tão grandes
Te fizeram pequeno
Para me dar teu amor

Sou gigante
Minha vida é curta
Você não se importa

Não existem finais
Nem beijos
Nem despedidas
Nem Adeus

Existem laços
Que se findam
Quando começam
A ser forçados

Existia a confiança
Que de tão fraca
Morreu antes de virar rainha
Da nossa relação acabada

Atrasado

É noite, sempre escurece
Teu sol se põe no horizonte dos meus sonhos
Minhas utopias infundadas
As palavras que não te disse

O amor que morreu sem ter nascido
Você é tudo o que eu queria
Eu sou tudo aquilo que não foi vivido

Esquecemos de ser pontuais
Deixamos nossos corações de lado
Não existe saudade
Só essa imensa impressão
De que algo está muito errado

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Os Nós

Ele chega, fecha a porta, me abraça. No emaranhado dos nós dos meus neurônios enleados, eis que me encolho. Os braços dele me apertam, tiram de mim a liberdade de estar só. No celular, mensagens de ontem. Ele diz que me ama, eu envio de volta uma sequência infinita de "eu tambéms". Na cama, lençóis desarrumados. Ele respira no meu ouvido, como se me beijasse os tímpanos. Mas no emaranhado de nós dos meus nervos enleados, eis que me reprimo. A respiração dele me tira o silêncio, a liberdade de dormir em paz. Na geladeira, alguns sushis de ontem. Ele fez especialmente pra mim, eu agradeço mas não como. É o amor tirando sarro do meu desejo envelhecido. Ele acorda, as mãos famintas. Não faz isso, amor. Por que não? Não faz isso, quero dormir. No emaranhado dos nós dos meus hormônios enleados, algo arde. Lá depois da milésima parada depois que Judas perdeu as meias, alguma brasa é lembrada. Quase como um furor. Quase como uma vontade. Quase como uma paixão violenta, gritando por prazer. Para com isso, amor. Me deixa dormir. Ele vira de costas, adormece frustrado. Eu ponho os fones de ouvido, não adormeço, agitada. No emaranhado de nós dos meus pensamentos enleados, eis que me preocupo. No lado de for da janela tem um mundo inteiro de problemas não resolvidos. Milhares de pessoas que giram. Milhares de animais que morrem. Milhares de dólares engrandecendo a economia. O dia de ontem foi pesado, preciso adormecer. Ao meu lado, o homem que até ontem era o amor da minha vida. Na minha frente, um caminho cheio de pedras, questões, choros, amores. Não durmo. Há algo que precisa ser feito. Não penso. Meus nós se entrelaçam, um a um. Ele não percebe, me ama mesmo dormindo. Eu não percebo, me esvaio, mesmo acordada. No outro dia, penso que deve ser assim que um copo cheio de água se sente quando é esvaziado, lentamente.

Desespero

Não vejo sentido na vida e talvez seja por isso que ela não vê sentido em mim. Não importa o quanto as minhas lágrimas pesem, o quanto o meu coração seque, o quanto a minha alma encolha. Deus deve estar esperando de braços abertos em algum lugar, enquanto eu estou ocupada demais andando em círculos, batendo com a cabeça na minha própria bunda. Como se isso fosse a coisa mais inteligente a se fazer. Mas sou humana, limitada e egocêntrica. Deus é bom, por que sabe ter paciência. Eu sou nada, por minha natureza. E você, o que é?

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Reflexões sobre a Obesidade

Não chove mais no mundo. O que acontece é que, com essa história de aquecimento global, o planeta criou glândulas sudoríperas. A Terra está suando. O homem chora. Eu olho para as janelas de vidro, com seus pingos diminutos. Vejo que tem mais numa gota de chuva, do que jamais o homem verá a olho nu. Não vejo, mas sinto. Sinto as galáxias tremendo na gota de suor. O planeta está cansando, como um velho gordo na academia. Tem pêlos, cheira mal, sofre de espasmos. Eu, que sou eu? Um grão de areia no deserto. Massificada em dunas que não se modificam. Daí vem o vento do oeste e nos empurra em outra direção, e nós vamos. Pequenos grãos de areia se movimentam em uníssono. Somos uma duna, juntos. Todos iguais. Só não sabemos.

Pequenices

O homenzinho pequeno corria sem direção.
Procurava por escadas, não via nada no alto de seus cinquenta centímetros.
Ser inteligente vale mais.
A altura nos tira a humildade.
Você esquece de ser você e passa a ser alguém que os outros querem que você seja.
Outos, sempre os outros.
Sua vida passa a ser uma filmagem monótona que vem do projetor do seu pai.
Sua mãe arruma seu cabelo.
Seu tio lhe dá um conselho amoroso.
Seus amigos curtem no facebook.
Você é o que eles querem que você seja.
O homenzinho não.
O homenzino só queria uma escada.
O homenzinho, de tão pequeno, sofria as crueldades dos altos.
Ser privilegiado é uma benção
Ser privilegiado é a maldição dos mal aventurados.

Rodapé

Morrer não é uma solução, é uma escapatória.
Você não percebe isso, você só sente dor.
Morrer não vai fechar a ferida, não vai cicatrizar, não vai virar uma memória.
Morrer é deixar a ferida aberta aos vermes
E ainda assim permanecer indiferente

Viver é mais complicado, exige esforço
Seus pulmões precisam de ar
Seus passos precisam de equilíbrio
Seu coração precisa de limites
Mas para Deus somos incríveis
Você não vê a vida pulsar, por que a morte parece ser mais elegante.

Caminho refinado, sem batalhas sangrentas
Morrer é dar um passo incerto ao infnito
E nunca mais ter de dar explicações
É o ato supremo do desespero por liberdade
Morrer é lindo
Mas o homem é orgulhoso
E prefere viver uma vida de martírio
A passar uma morte inteira
Sem cantar a própria felicidade

domingo, 2 de junho de 2013

Sozinho

Você sente a vida pulsando nos seus ouvidos ou ainda consegue andar solitário por essas ruas iguais?
Eu não me sinto solitária, sou apenas sozinha.
Éramos bons nisso.
Eu e você.
Era bom ficar sozinhos, quando estávamos juntos.


domingo, 26 de maio de 2013

Marcha das Vadias - 2013



Antes de mais nada, quero que vocês tenham em mente que há uma pequena diferença entre feminismo e femismo. Femismo é um machismo na sua versão fêmea, com preconceitos, dogmas e idiotices parecidos. Feminismo é a guerra travada há uns duzentos anos entre mulher e sociedade, na qual nós temos bravamente insistido em nome de nossos direitos como humanas, seres secientes, também merecedoras de respeito nesse planeta.

Agora, passado esse esclarecimento, preciso dizer a vocês que me entristece profundamente ver uma mulher cuspindo na batalha alheia, com toda a ignorância que lhe foi concedida. Eu sou apaixonada por protestos. Desde que eles defendam uma causa digna de minha preocupação. E isso vai desde a diminuição das passagens de ônibus até a libertação animal dos testes de cosméticos. Se a tal da "Marcha das Vadias" não fosse assim tão importante, eu não estaria lá. Pelo contrário, estaria agora escrevendo um texto criticando a falta de bom-senso de milhares de mulheres totalmente desocupadas e narcisistas que só querem ficar balançando seus lindos seios em praça pública com o intuito de ganhar algum prestígio ou adoração masculina.

Bem, esse não é o caso.

Claro que sempre existem exceções. Claro que tem muitas discípulas da tia Amélia que só estão lá pra engrandecer sua auto-estima, enquanto balançam seus seios e dizem "hey caras, olhem para mim, eu sou gostosa e livre, me comam". Não, caras. O intuito não é esse, confiem em mim.
Embora eu defenda a libertinagem e a liberdade sexual de todo mundo, por que cada um deve cuidar de seu membro sexual como bem lhe aprouvir com todo o devido respeito para com o parceiro, não estamos lá por engrandecimento pessoal. Nem por vaidade. Tá, talvez um pouquinho de vaidade, por que nos sentimos o máximo gritando aos quatro ventos que estamos libertas.

Mas é só.

E eu tenho orgulho de olhar para os lados e ver que as mulheres não estão mais em casa cozinhando pra qualquer imbecil ou passando as roupas dos filhos. Mulheres que hoje chefiam empresas, movimentam a economia, se candidatam no mundo político, investem em ações, destroem corações masculinos, usam mini saia, fazem sexo quando e como querem. Mulheres que não são mais as donzelas em perigo à espera do príncipe encantado, mas sim, a guerreira que transforma seu próprio destino, que batalha por suas conquistas e hoje, muitas vezes, acaba como rainha nesse mundo outrora liderado por sua maioria masculina.

Daí você vai me dizer " Mas Sara, isso não vai adiantar nada. Ninguém vai ler os cartazes, ninguém vai levar a sério um bando de mulher vagabunda que sai nas ruas vestidas como prostitutas e ainda, imploram por respeito. Por que elas não se vestem como gente? Por que elas não escrevem livros ou sei lá?".

Meu amigo, senta aqui que a titia quer te explicar uma coisa. Sabe o teu mundinho cheio de religiões, política, mídia, playboy, futebol, globo e Megan Fox? Sabe esse lugarzinho imenso e redondo que tem um papa bonitinho impedindo o aborto, um ministro bonitinho criminalizando a homossexualidade, uma cantora bonitinha que adora apanhar do marido? Sabe? Eu sei que tu não consegue enxergar agora, mas acredite em mim, ele tá repleto de gente ignorante.Sério mesmo, pode acreditar, por mais impossível que possa parecer.

Há séculos nós já estamos nessa luta, mas nem tu, nem os outros milhares de bunda mole que só servem pra ficar em casa coçando o saco e criticando a coragem dos outros, conseguem enxergar o quão antiga é essa batalha. Por que não escrevemos livros? Já escrevemos. Milhares. Por que não viramos intelectuais? Ah, posso te listar um nome de mulheres poderosas nesse quesito. Por que não investimos na música? Ouça Biquini Kill. Por que não nos tapamos com panos e mostramos certa dignidade? Bom, tem a Jane Austen com sua inteligencia por baixo dos panos, morrendo sozinha e bem sucedida em sua carreira por causa de uma sociedade que a aprisionava em sua condição de mulher solteirona.

Tem Simone de Bouvoir na literatura. Tem Riot Grrrl na música. Tem Brigitte Bardot no cinema. Tem a Dilma na presidência. Tem a Joana D'arc sendo queimada viva em praça pública por sua condição de feiticeira medieval. Claro, por que caso você ainda não tenha percebido, não existiam homens à lá Paulo Coelho. Somente as mulheres eram crucificadas e queimadas, por que os homens são criaturas puras que foram hipnotizados pelas filhas malignas de Eva.

E se formos estupradas é por que a culpa inteira é nossa. Não podemos andar com os peitos de fora na rua, pelo simples fato de que nossos peitos, em sua simples condição de peitos, já instigam a virilidade masculina. São apenas peitos. Tão comuns quanto as bochechas. Mas você não vê os homens babando pelas bochechas de ninguém, por que na mídia ou na bíblia não tem nada que fale sobre as bochechas serem atraentes ou sexuais ou símbolo de tentação diabólica.

Na verdade, nem precisamos andar sem camiseta. Experimenta colocar uma blusa mais colada. Um decote minimamente aberto. Um tecido mais fino. A potência dos caras sobe até o infinito. Como se você estivesse com uma placa na testa dizendo que "Hoje, eu quero dar. Olhe para meus peitos e me possua, gatão". Óbvio. Nossos corpos são perfeições ambulantes que desfilam por entre os pobres homens, tão frágeis com suas ereções. Pobres deles, sempre tão provocados por nós, vagabundas maléficas. Mas que mais podemos fazer? Esse é o nosso propósito de vida, instigar o nobre coração masculino e levá-lo para as forças do mal. Somos filhas de Eva, amaldiçoadas por uma existência fadada à luxúria e ao fracasso.

Lorotas. Minhas ironias são tão ácidas que tenho medo que alguns não vão entender sobre o que estou falando. Lorotas, meus amigos. Preciso ser irônica, por que a ironia é uma violência adocicada. Não quero ser rude demais, para não parecer muito radical aos olhos de vocês, mas é que a minha revolta é muito grande. Tenho motivos fortes para ser tão contra o machismo. Tenho muitas razões para lutar ao lado de "vagabundas semi nuas no arco da redenção".

Se uma garota é vadia por exigir os seus direitos, então todas somos vadias pelo simples fato de estarmos lutando todos os dias pela nossa sobrevivência. Chega de hipocrisia. A sua mãe também tem peitos. Chega de tabus. A sua mãe também faz sexo. Chega de burrice. A sua mãe, também é uma vadia.

Pense nisso antes de dizer que estamos lá por falta de roupa pra lavar. Até por que, somos vagabundas e não empregadas.

Encontro vocês no Arco da Redenção às 14h.


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Rebeldia Literária

Vendo minha criatividade por seiscentos reais mensais.
Trinta horas semanais tiram da minha vida a cor de escrever.
Seis horas diárias evitam que histórias venham a existir.
Mas sempre chega aquele momento estranho, meio assombrado
Em que as palavras transbordam do coração
Gritam da alma
Explodem nos dedos
E riem de mim no papel
Voltam a vida como quem não quer nada
Só para provar quem tem o poder
De transformar meu salário em piada

O Louco Acomodado

Não gosto de pensar
que estou apaixonada
Antes a segurança confortável
De se estar sozinho
Do que a brava aventura de amar
A pessoa errada

Regime Penitenciário

Estou farta de querer. Quero deixar de querer. Mas também quero não querer querer deixar de querer.
Então, tecnicamente, não quero não deixar de querer por que isso seria querer alguma coisa.
Haja Deus no céu!
De que me serve um cérebro que não atinge sua potencialidade suprema quando tudo o que temos a fazer é pensar em rodeios que nunca se findam?
Pobres dos filósofos mortos que hoje vivem em suas eterna confusões existenciais.
Abençoados sejam os ignorantes, os religiosos, os ateus, os socialistas, os idealistas, os miseráveis e as crianças: Livres nas suas correntes mentais de aprisionamento voluntário.
Faço parte da população amaldiçoada pelo questionamento constante, até mesmo quando não há questionamento. Quero que as lógicas vão para o inferno. Que inferno? Quero que vão para o vazio existencialista que talvez não exista em uma lógica constante de cálculos mal formulados. Quero que o planeta se exploda em estilhaços e dê à luz uma nova geração, que dessa vez não terá erros. Mas também não quero.
Estou voluntariamente aprisionada ao meu querer.

190

Minha língua pega fogo com plavras que queimam sem ser expressadas.
Você não escuta meu grito daí, por que meu silêncio é uma dor tímida. Tenho vibrado discretamente, enquanto uivo em uma agonia desesperada. Meu urro é um grito discreto.
Socorro. Issso é um sussurro de emergência. Socorro.
Preciso dizer, seus olhos são tudo que me mantém digna. Você não sabe que está me salvando, você não sabe que o sistema de horas é nulo.
Isso é uma emergência, socorro.
Você não vê. Estamos vivendo em horas que não serão restituídas. A vida não pode ser re-escrita. Os dias não podem voltar. Suas pegadas são a única prova de que seus passos existiram. Mas você não pode fazer seus passos quando está preocupado demais conseguindo dinheiro para comprar sapatos.
Eu sei, as coisas parecem simples quando são vistas de fora.
As coisas parecem imensas quando são vistas de dentro.
Eu não sou a mão que embala o fantoche, você não vê?
Nós somos o fantoche.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Qualquer Negócio - Clarice Falcão

Me deixa ser quem faz o laço da gravata do mordomo que te serve o jantar.
Me deixa ser o suporte que segura a tela plana da sua sala no lugar.
Me deixa usar o pé pra equilibrar aquela mesa bamba que você aposentou há mais de um mês
Me deixa ser a sua estátua de jardim, oseu cabide de casacos,
Só não me tira de vez da sua casa.

Eu posso ser a empregada da empregada da empregada da empregada do seu tio.

Me deixa ser o seu pingüim de geladeira,
Eu fico uma semana inteira sem mexer
Me deixa ser o passarinho do relógio
Que de hora em hora pode aparecer,
Pra eu te ver

Me deixa ser quem passa a calça que você precisa usar  no seu jantar à luz de velas com alguém.
Me deixa ser quem deixa vocês dois de carro em um restaurante caro.
Só não deixa eu ser ninguém na sua vida.

Eu posso ser a empregada da empregada da empregada da empregada da empregada da empregada da empregada  da empregada do seu tio.

domingo, 12 de maio de 2013

O Vale dos Sopros Uivantes

Que vida é essa, meu Deus?
Uma vida que me bate tanto que eu quase nem sinto mais a dor.
Uma existência que tem pontos brilhantes no horizonte nebuloso que o meu futuro se tornou. 

Não consigo me livrar das rimas.
Eu quero ser escritora, não poeta.
Mas não sei se é possível

Não, Sara.
Tudo que existem são os sonhos mortos espalhados no chão.
E tua alma presa num redemoinho de confusão.

Mas eu não quero rimas.
Vou estudar francês.
Pois digo que deves trabalhar.
E conseguir o dinheiro nosso de todo o mês.

Mas eu quero sonhar
O mundo ver
Pois digo que vem a fome
E a realidade vai te bater

Ego maldito, não me livro de ti?
É que tuas rimas não funcionam
Tu és criança boba
E os teus desejos não me enganam

Quem és tu, ó demônio da minha criação?
Sou filho do teu medo
Fruto do teu coração.

Pois vá embora, não te quero mais aqui
Já é tarde e tu és minha casa
Difícil será me fazer partir

Quero um amor que não se abale 
E um sol que não se ponha
Quero uma casa dourada
E livrar-me da vergonha

E os teus filhos que dirão?
Mas eles não existem, até então.
E os teus amigos que vão dizer?
Às expectativas de todos, não quero atender

Vai-te e pula, então Carlos
Mas Carlos não sou eu
Sei, teu nome és Sara
E és mais burra que Romeu

Romeu matou-se por amor
De burrice e coragem se perdeu
Eu nunca ei de encontrar Julieta
Para dizer-lhe quem sou eu

Vai-te e pula, então Sara
Desistiu, ó ser maldito?
Sei que nas voltas de vida vou te encontrar
Mas ai de mim, tu não vais me achar bonito!

Vou pegar minha mochila e fugir para o Vale
Mas teu lugar não é ali!
Deixa-me ir aprender francês
Mas és mais teimosa que um javali!

Sou brasileira nata
Mas essa língua me leva à poesia
No campus escondido
Que me desperta à fantasia

Estás apaixonada?
Acho que sim
Então tá explicado
O quê?
O por quê de escreveres assim.

Não entendo o que queres dizer.
Sou mais sábio do que imaginas.
Explique mais, não consigo entender
É o teu amor que desperta as rimas.

Vou-me embora, não quero mais ouvir
Pois não me dê as costas 
Pensei que estavas dentro de mim
Sou aquela coisa que tu chamava de prosa
E hoje não quer mais tanto assim

Prosa amada, volte aqui
Não, vou me mandar
Pois sinto tua falta!
Falasse isso antes de poesia eu me tornar!











segunda-feira, 22 de abril de 2013

Assombração

Ando pelas ruas
Com sua voz
No meu ouvido
"Lembra que um dia,
 Você esteve comigo?"

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Eu antes de Você

Eu era apaixonada por cinzas, por dores, por lágrimas, por queijos e chocolates. Gostava de deitar numa tarde preguiçosa de quarta-feira e assistir Warner Bros, não importava que filme estivesse passando. Gostava de ir passear às cinco e comprar quindim às sete. Eu tinha uma câmera pequeninha, que nem era minha mas eu gostava de dizer que era pra me sentir mais livre e mais fotógrafa do que de fato era ou sou. Eu gostava de tirar foto das pessoas que eu mais amo no mundo, fazendo as coisas mais vergonhosas do planeta. Eu gostava de fazer carinho na barriga peluda da minha gata e ouvir o roronar prazeroso que saía daquela garganta cheia de mistérios indecifráveis dos gatos. Antes de você, eu tinha nojo de beijo, não subia em bicicletas e passava tardes entediantes com um livro nas mãos e uma arvore na bunda. Ou com a bunda em uma árvore, se você preferir.

Antes de você eu me apaixonei por um bando de caras impossíveis, perfeitos, sobrenaturais e até louros. Sim, eu já amei louros. Você sabe, eu prefiro os morenos barbudos com aquela cara de incompreendidos e aquele cheiro de suor e desodorante. Mas eu admito, já me apaixonei por louros. Um aconteceu na terceira série e o cara era bem tapado. Na verdade, ele nem era tão bonito. Mas como a minha melhor amiga, que era a menina mais bonita da escola inteira com seu corpo de quinze e cabeça de oito, o achava bonito, eu pensei "hey, até que não é má escolha". E aí eu tive meu primeiro triangulo amoroso. Não que tenha sido bom, por que não foi. É muito triste se ter oito anos e gostar de um menino louro que nem é bonito e não ter coragem de pensar em beijos e não se ter uma bunda sedutora pra chamar a atenção. Quer dizer, a minha amiga tinha. Mas isso não vem ao caso.

O segundo se chamava Shane. Ele era lindo, alto, mais velho, tocava guitarra e tinha sido criado pela Rachel Caine. Shane Collins, se não me engano. Aquele personagem lindo que tira a virgindade da Claie em Morganville Vampires, mas você não faz a mínima ideia de que livros são esses. Aliás, talvez você não tenha entendido ainda, mas já me apaixonei por muitos caras impossíveis. Tipo, impossíveis mesmo. Tipo, inexistentes. Tipo personagens de livros.

Ah, e recentemente, teve um terceiro louro. Mas esse daí era um anjo que eu nem pude me apaixonar muito por que achei que seria melhor se ele ficasse com a Luce. Daniel Grigori, era o nome dele. Tão lindo, tão profundo, tão musculoso. Desculpa, amor, mas quantos anjos tu conhece que teriam a coragem de desafiar – literalmente – a Deus e o mundo por um amor amaldiçoado por Lúcifer através de séculos e séculos de sofrimento? E esse daí, quem criou, foi a Lauren Kate, na sua saga inesquecível, Fallen.

Mas aí acabam meus louros. Eles definitivamente não fazem o meu tipo.

Então eu me apaixonei por uma porrada de morenos.

Tinha aquele lindo do Dimitri Belikov e, me desculpe, mas é muito difícil resistir a um sobretudo cowboy ou um sotaque russo, por favor né. O cara tinha dois metros de altura e aniquilava quinhentos strigois (vampiros mortíferos matadores de vampiros pacíficos) em questão de minutos. Como não me apaixonar? Esse dai quem me apresentou foi aquela ruivinha, Richelle Mead. A Deusa dos caras lindos, só pode.

Daí teve também o Jace. Ahh, aquele cowboy vindo diretamente do faroeste americano para o meu quarto. Mesmo fantasma, mesmo assustador, mesmo fora de tempo, ele era lindo. E, sim, eu me apaixonei por ele também. Aquela tal de Meg Cabbot pegou pesado no quesito fantasma conquistador e acabou fisgando meu coração também.

E então eu fui ficando mais velha, mais louca e mais exigente. Então eu li Orgulho e Preconceito. E não é que me apaixonei pelo tal do Sr. Darcy? Fala sério tá. Só isso que eu digo. Fala Sério. E quem, em plena consciência, não se apaixona por aquele cara? Tão elegante, tão educado, tão profundo, tão alto, tão classudo, tão inglês. Sério, tá. Sério Jane Austen. Que dom mais incrível esse teu, de juntar num homem só, tudo que precisamos para sermos felizes.

Teve o Patch. E esse era bem malandro. Ô anjinho mais galinha, viu. Foi o que mais me deu trabalho. Eu vivia uma relação de amor e ódio com ele. Aliás, que cara idiota. Pelamor. Becca Fitzpatrick se puxou quando quis criar um cara comum e perfeito ao mesmo tempo. Se puxou mesmo. Até me apaixonei. Até tive uma relação de tapas e beijos. E não é como isso fosse muito normal, acredite.

A questão é que, eu não tinha vida social.

Antes de você, meu amor, eu não saía, não usava roupa curta, não passava maquiagem, não bebia. Antes de você, eu não saía de casa num sábado a noite, eu não trocava meus livros pelo Cabaret e nem sentia frios na barriga só de pensar nos beijos de alguém. Eu não sabia como era bom ter tanta liberdade a ponto de se sentir sufocada pelo mundo. Ter tanto amor, a ponto de querer ficar sozinha. Ter tanto tanto, a ponto de querer ter tanto pouco.

Antes de você eu era uma menina, uma criança tão distante desse mundo corrosivo que chegava a ser cômico. Vivia colocando a mim mesma atrás de uma muralha, enfeitada com duendes, fadas, vampiros, fantasmas, castelos, livros, sonhos. Eu tinha um brilho inocente, uma voz mais fina, uma barriga maior, um cabelo mais quebradiço, uma pele mais oleosa, um sorriso mais pesado, uma lágrima mais seca, uma boca menos apelativa.

Nunca fiz o tipo feliz, escandalosa, alegre, pulante ou carnavalesca. Antes de você eu gostava de cemitérios e ossos. Gostava de imaginar minha vida solitária, meus gatos companheiros, minha família distante. Antes de você, as tardes pareciam infinitas, as manhãs pareciam enjoativas, as noites pareciam intermináveis.

Eu tinha lá meus quinze anos e ficava olhando para o céu, todas as noites. Eu olhava a lua, assim como quem não quer nada, e pedia pra Deus e os alienígenas habitantes de planetas desconhecidos me mandarem alguém legal pra preencher aquele vazio que me ardia no meio do peito. Eu olhava pra todas aquelas estrelas, tarde da noite e pensava que talvez a vida pudesse ser algo bonito no final. Que talvez, se eu me comportasse e fosse boa aluna e não fumasse e não beijasse e não usasse saia curta eu pudesse um dia ser feliz. Que nem as princesas que sofrem tanto até que um dia ganham um castelo, um amor e um cavalo. Não na mesma ordem, mas tipo isso.

O mais triste foi quando eu me dei conta que a Disney tem esse péssimo costume de alienar mentes em formação. Eu fui alienada, enganada, ofendida, manipulada. E tudo pelo cara que criou o Mickey. Se eu pudesse falar com ele, eu diria "Pô Disney, custava tu criar uma princesa sem os dentes? Custava tu criar uma Negra de Neve? Custava tu criar um Príncipe Gay? Custava tu criar uma Rapunzel aleijada? Custava tu criar um arco e flecha para a Bela Adormecida? Custava tu matar os príncipes e me ensinar a esperar pela vida ao invés de esperar por um cara? Pô Disney, custava?".

Foi triste mesmo, por que agora percebo que as minhas noites e o meu buraco inquietante no peito e a minha esperança quase que violenta em que tudo ia dar um jeito de se encaixar, não passaram de crenças errôneas, não passou de ilusão. Antes de você, as estrelas costumavam ter um outro brilho, os aviões pareciam maiores do que o mundo e as músicas do meu MP3 falavam de poças e lágrimas.

Antes de você eu não tinha crescido em tanta, mas tanta coisa, que talvez você nem me conheça agora, como eu mesma não me conheço também. Sou outra pessoa, com o mesmo nariz. Sim, por que só o nariz não mudou.

Prazer, essa sou eu antes de você. Triste, rechonchuda, jovem e esperançosa. Esperançosa de que, você vai me perguntar. Mas aí é que está a curiosidade. Eu não sabia! Só tinha aquela sensação formigante dentro das minhas costelas. Aquela sensação de que algo grandioso ia me acontecer. Algo forte mesmo, que ia fazer tudo girar e começar a fazer sentido em meio aos meus dias pacatos, aos meus livros repetitivos, à minha mente atrofiada.

Essa sou eu antes de você: Esperando que minha vida girasse milhões de vezes até bater na tua e fazer todo esse redemoinho sem sentido parecer ao menos um pouquinho mais leve. Esperando pelo momento em que as estrelas fossem cair, uma a uma, nessa poça de escuridão que eu tinha me formado.

Essa sou eu agora: Tão você que quase não acho eu mesma dentro de mim mesma. E nem é como se eu pudesse dizer que é algo ruim. Por que, acredite ou não, não é.

Viva la Revolución – Porto Alegre, Parte II

Em um planeta onde o conformismo e a preguiça levaram embora heróis de guerra que dificilmente serão substituídos, como Che Guevara ou Joana D'arc, eis que, das cinzas de uma democracia hipócrita e preconceituosa, surgem os guerreiros do século XXI para mudar os meus velhos conceitos.

Não vou chegar aqui e repetir tudo o que eu tinha escrito no último texto mas, só para recapitular, saibam que os porto alegrenses me enchem de orgulho por sua garra, por sua união, por sua força de vontade. Eu, como porto alegrense apaixonada e patriota (não que não ache o patriotismo uma espécie de fanatismo ideológico que pode ser levado às ultimas e piores consequências....) tive de levar minha imponente presença até a prefeitura e exercer todos os meus poderes de democrata ativa.

É, isso mesmo. Eu, a democrata ativa.

E não é que aquele aguaceiro brabo de quinta-feira não impediu que cerca de duas mil pessoas enchessem as ruas do centro com gritos e atos de inconformismo? Pois saibam, meus amigos, que até a arquitetura imponente da minha Porto Alegre fora violada por aquele bando de anarquistas visionários. Claro que se eu estivesse em situação mais favorável (com galochas e uma capa de chuva bem grande e forte e resistente) teria me unido a eles, mas como eu estava lá, com meus humildes vans sofrendo todas as dores e alegrias de serem feitos de camurça, me mantive segura em terreno plano. Não sem antes ficar extasiada e louca para subir junto e xingar aos Deuses Nórdicos por tirarem de mim o dom do equilíbrio.

Claro, a tempestade INCESSANTE daquele fim de tarde não impediu que bradássemos em prol de um direito violado. Não impediu que pulássemos, dançássemos, pichássemos (veja bem, eu não pichei nada, mas pensemos na coletividade) e vandalizássemos (lembra da história da coletividade? Er) patrimônios públicos. Vou te dizer, com essa minha vasta falta de experiência no mundo, nunca presenciei um pichador em ação. E também nunca cheguei perto de fumadores de maconha. Então bem, (sim, tinham pichadores e maconheiros bradando por uma Porto Alegre mais justa enquanto dezenas de policiais não moviam um mísero dedo para captura-los em flagrante) foi um pouco impactante. Um pouco selvagem também, pra mim, que sou virgem nessas coisas de rebeldia. Ou era. Perdi minha virgindade naquele dia. Em meio à chuva, ao barro, à maconha e ao cheiro forte de Collorgin (acho que é esse o nome do spray que eles usam pra pichação, corrijam-me os entendedores).

Não importava o credo, a cor, a classe social, o partido político. Era uma coisa bonita de se ver, aquela união de corpos massificados em um só. Aquela sensação de "estou movendo minha bunda por algo útil" tomava conta dos meus nervos, veias e tendões. Aquela paz de estar dando minha parcela de comparecimento a um povo demasiadamente explorado pela pseudo liberdade de um sistema baseado na ascensão de poucos, em breve transformou meu cansaço em revitalização. Não importava a agua. Não importava se meu pé era de madeira. Tá, importava sim. Importava tanto que tive de abandonar a batalha antes que tivesse de abandonar a própria perna. Mas a questão não é essa. Devemos nos ater ao decorrer dos fatos, aos resultados. Devemos nos ater à força de milhares de pessoas, independente de suas índoles e condutas, que, por bradarem ou picharem ou vandalizarem uma cidade corroborada por um poderio abstrato (leia-se: governo), salvaram os bolsos da maioria da população de serem, cada vez mais esvaziados.

É isso mesmo que vocês estão pensando.

Esse bando de vândalos, anarquistas sem cérebro, burgueses entediados e até mesmo estudantes alienados, conseguiram.

Nós conseguimos.

O preço da passagem foi, de terríveis três reais e cinco centavos, para nem-tão-terríveis-assim dois reais e oitenta e cinco centavos. É isso aí galera, quero ouvir aplausos e urros de alegria. Quero ouvir um "Iêêê" e agora um "Iôô".

Se tem os contras? Claro, óbvio que tem. O que não faltou nesses protestos, foram partidos políticos tentando bancar os "amiguinhos" do povo, os guerreiros de luz da mudança democrática gaúcha, com suas bandeiras balançando nos ventos que já não andam lá tão favoráveis ao nosso exímio Fortunatti.

Não faltou também uma maneira de a prefeitura driblar essa vitória com uma maneira bem sutil de pagarmos por nossos brados.

Eis que a frota de ônibus que saem das garagens de Porto Alegre, diminui consideravelmente de número, deixando-nos, pobre proletariado, com nada mais e nada menos do que uma tranqueira dos infernos para F#%% com a nossa vida às seis da tarde. O inferno urbano que uma cidade tão "preparada para a Copa" deveria ter superado há muito tempo. Que transito é esse meu Deus? Tá, eu moro longe de tudo quanto é lugar existente nesse cubículo de município. Mas até mesmo o meu ônibus (um dos mais demorados de todos os tempos) já teve seu tempo de gloria, de velocidade, de atendimento às minhas expectativas que sempre anseiam pela minha casa.

Que que é isso, minha gente?

Esse é o nosso Estado, sempre tão preocupado em nos manter satisfeitos e sorridentes. Sempre tão preocupado em honrar uma paulada de artigos que só falam baboseiras não materializadas naquela tal de Constituição Federal de 1988. Aliás, Constituição essa que é reconhecida como Lei Suprema (daquele tipinho brabo que precisa ser seguido à risca). Imagina se fosse uma Constituição flexível e pouco importante? Estaríamos vivendo na Anarquia em sua forma nua e crua.

Como dito anteriormente, é preferível a derrota de uma batalha do que o vencimento sedentário da guerra. Estamos lutando, meus caros. Estamos chegando lá. Devagar, mas estamos. E isso já é um ótimo começo.

Eu acho.

Ou melhor: Eu espero.


 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Viva la Revolución - Porto Alegre, Parte I



Eis que o proletariado juntou seus cartazes, calçou suas havaianas, levou o mate na mochila e foi tacar fogo na prefeitura de uma cidade - até muito pouco tempo atrás - bem acomodada.

Eis que o dia em que a revolta do povo fora maior do que a manipulação das massas chegou, e a Oswaldo-Aranha foi tomada pelos passos gloriosos dos descendentes de uma nação banhada por sangue e tradições. Uma nação que mantém como fonte de orgulho à guerra dos farrapos.

O sangue guerreiro ainda corre nas veias do gaúcho urbano que emoldura a cena moderna do Rio Grande do Sul. Dessa vez, podemos ver as prendas lutando lado a lado com seus direitos adquiridos. As filhas de Anita Garibaldi, hoje, protestam nas ruas em busca dos direitos do povo. As flores e chitas foram substituídas por dreads e jeans. O coque ganhou o glamour arrojado da luta: As prendas do século XXI se descabelam em prol de seus conterrâneos.

Já os rapazes, filhos de Bento Gonçalves, sustentam, sob os músculos de academia, cérebros muito bem nutridos por conhecimento e desenvoltura. Ambos os sexos abraçando juntos, a morte da ignorância juvenil, o alvorecer de uma nova era de inconformados. Desde o século XIX, não se via tamanha força nas ruas sulistas. A herança genética de décadas de luta, finalmente se faz visível: O povo renovou suas forças.

A causa?

O aumento injusto da tarifa cobrada pelo acesso ao transporte público.

É isso. Apenas um impasse de um governo pouco interessado no direito material do município. Uma guerra de valores e normas e erros orçamentários. Impostos e mais impostos sob as cabeças de trabalhadores e estudantes que gastam, aproximadamente, trinta por cento de seus salários em prol do “suposto” direito de ir e vir.

E é aí que a minha passividade acaba.

No momento em que eu, até então muito desinformada da situação toda, simplesmente fiquei chocada e orgulhosa da visão que tive em plena Oswaldo-Aranha, às exatas dezenove horas do dia primeiro de abril (irônico ou não) de 2013.  Depois de uma boa hora esperando pelo meu ônibus – que depois descobri que ficou trancado propositalmente no centro graças à força democrática dos meus heróis – eis que a passeata se findava. Nenhum ônibus atravessava a rua iluminada. Nem mesmo táxis ou vãs. Pois acreditem que até os motoristas autônomos apoiam a causa de corpo e alma. E, enquanto me perguntava por que raios apenas o T7 existia naquele dia – claro, por que o T7 é uma linha que não precisa passar pelo centro, onde as manifestações ocorreram e, portanto, teve livre acesso à parada que eu me encontrava – dezenas de pessoas começaram a surgir no horizonte nebuloso da UFRGS.

Sim, aquela rótula que existe antes de chegar no centro, sabem? Eles surgiram dali. Meus heróis em suas fardas casuais. Com a exceção de alguns anarquistas descarados que acham que destruição de patrimônio vai levar a alguma coisa além de guerras ( Fala sério, quem quer guerra nesse país?) e violência (E quem disse que a violência vai resolver alguma coisa? Não lembro de ter visto paz ou alegria depois do ataque terrorista às torres gêmeas. Me desculpem os radicais, mas o resultado nulo e pessimista me parece bem óbvio).

Surgiam os estudantes. Os trabalhadores. O tio do armazém, que vende balas de dia e se mata estudando empreendedorismo de noite pra sustentar a família que só cresce e precisa ter pão em casa. O motorista de táxi que precisa dar algumas voltas por lugares não muito seguros, pra garantir que o aluguel do apartamento recém comprado seja pago em dia. A estagiária que não pode almoçar direito por que precisa economizar pra passagem.

Surgiram todos os meus heróis do cotidiano, com suas saias compridas, dreads descolados e mochilas personalizadas. Surgiram os donos da minha inspiração de hoje, os donos do mundo de amanhã, o resultado da educação do ontem. A geração dois mil não é mais movida a coca-cola, agora nós temos o Red Bull, caros amigos. Agora, nós estamos com todo o gás. Chegou o momento do povo erguer sua voz e mostrar para esse governo repleto de ervas daninhas corruptas, o significado da palavra democracia.

Surgiram, em câmera lenta, como guerreiros da paz, em um horizonte pacífico, com suas rosas e pinturas e cartazes desaforados. Naquela hora pude perceber a beleza do inconformismo, da união, da justiça na vida em si. Senti em mim uma energia tão forte, um impulso tão brusco que tive de me segurar para não sair correndo e fazer parte da revolta. Sério, não posso ver um protesto que já quero me infiltrar e gritar junto. Eu gosto da bagunça, da baderna, do que incomoda o cara conformista. Gosto de lutar. E sei que essa luta apenas começou. E, como eu ainda não pude fazer parte dela, essa é apenas a primeira parte. Amanhã, vai ser maior. E dessa vez, eu vou estar lá. Sentindo na pele o que é um protesto justo, o que é sair à rua e lutar pelos meus direitos.

O importante, guerreiros, não é o resultado. É a luta.

Vejo vocês na prefeitura de Porto Alegre, às 18 horas.

Pra quem não mora aqui, nos vemos em breve, com um texto chamado “Parte II”.

Soon.

 

domingo, 31 de março de 2013

O Começo do Futuro

As propagandas da Globo me disseram que o futuro começa agora. Daí apareceu uma cena repleta de felicidade e sorrisos pagos em cachês rechonchudos que somente a publicidade proporciona, mas enfim. Faculdades, intercâmbios, cursos a distância, livros, cultura, shows, empresas, a puta que o pariu de escolhas para o seu futuro.

Claro, isso faz todo o sentido.

Mas daí eu me pergunto: Da onde eu vou tirar a po#@!# do dinheiro, oh dear Lord?

Não que isso seja o mais importante, por que eu sou do tipo de pessoa que acredita na lei da atração e que existe mesmo um gênio da lâmpada dentro da gente, capaz de realizar nossos desejos mais loucos e escondidos. Mas, bem, dinheiro é algo importante. Ainda mais com o rumo que a economia desse país tem tomado. Quer dizer, todo mundo deve saber que a gasolina aumentou, que o feijão tá tão caro quanto um Kinder Ovo e que a minha páscoa foi a coisa mais vergonhosa desde a crise de 29, que, diga-se de passagem, eu ainda não era nascida, mas imagino que seria bem pior naquela época caso tivesse sido assim.

Será mesmo que eu tô tão estupendamente ferrada (e sim, uso a palavra "ferrada", por que acho que usar "fudida" tá meio fora de moda e ia acabar com a minha imagem de "blogueira querida e certinha que é feminista mas acha palavrão uma coisa extremamente grosseira para ambos os sexos usarem, caramba!) quanto acho que estou? Por que, sério, é muito difícil conseguir manter um nível de vida aceitável em uma sociedade tão pobre e exigente quanto essa.

Pois imaginem vocês que tenho lido um livro muito esclarecedor e desilusivo (como se fala quando algo te desilude????) sobre capitalismo, shoppings, dinheiro e burguesia. Tá, eu nunca fui fã da burguesia, dos shoppingis, do capitalismo ou sei lá. Tá, eu admiro o Mc Donalds, eu tomo a casquinha que eles fazem, eu tiro fotos no Iguatemi, eu sonho muito em ter dinheiro e, recentemente, tenho cultivado a ideia de abrir meu próprio negócio. Tá, isso tudo não faz o menor sentido, por que pelo visto eu tenho me tornado uma capitalista bem ativa.

MAS E DAÍ?

Antes de querer me tornar alguma maluca comunista em pleno século XXI, em pleno continente americano, devo ter em mente que Darwin, há um bom tempo atrás, já divagava sobre a lei da adaptação, pela lei da sobrevivência daquele que melhor se adapta às necessidades do meio. Pois bem, aqui estou eu. Com livros que criticam o sistema e tudo. E com as minhas escamas e chifres de adaptação crescendo aceleradamente!

Pra quem não sabe, o nome do livro é "Shopping Center: A Catedral das Mercadorias – Valquíria Padilha". A mulher é simplesmente genial! Um livro que vale mesmo muito a pena de ser lido, uma vez que vocês vão passar a enxergar a vida, o consumo, a economia e o próprio cunho sociológico de um sistema econômico MUNDIAL através de uma ótica totalmente diferente daquela a qual estamos acostumados! Chega dessa ilusão da riqueza e da perfeição e da vida no luxo, chega de tudo! Essa tal de Valquíria nos mostra os bastidores de um sistema construído na base dos segredos do nosso psicológico, acreditem. Pois bem, deixarei isso pra outro post. Nesse aqui, eu quero falar sobre o futuro!

Poxa o futuro, gente!

O futuro começa hoje, vocês tem noção disso? Começa hoje!

Hoje eu tenho de trabalhar, lutar, correr, estudar, amar, fazer, ser, estar. O hoje vai fazer do meu amanhã um lugar mais confortável. E isso me assusta. Não incomoda vocês? Essa pressão toda sobre os ombros. Essa responsabilidade imensa de fazer de si mesmo mais feliz e pleno. É como se, sei lá, como se eu fosse a escritora da minha própria história. Como se eu fosse a diretora do meu próprio filme. E se eu fizer errado? E se eu cair, se amar o cara errado, se ficar gravida antes da hora, se dar meu dinheiro para o lugar errado, se cortar meu cabelo de um jeito ruim, se for atropelada (deuzolivre)?

Daí todo mundo diz que é só levantar e seguir em frente, com se usássemos viseira e tal.

Mas que droga, isso não é fácil.

Ao menos não pra mim.

Imagina só, construir todo um castelo de areia, pra vir um filho da puta e chutar tudo pro alto. Deve dar nos nervos mesmo. E nem precisa ser um filho da puta alheio, pode ser simplesmente a vida fazendo o que ela faz de melhor: nos surpreender (e nem sempre de uma forma boa)

Tá, desisti da história da abstinência de palavrões, por que, porra, eles são necessários quando a gente se acorda meio frustrado! E sim, eu estou frustrada. Primeiro por que não fiquei trinta e um milhões de reais mais rica hoje. E segundo por que amanhã tenho de acordar as seis da manhã para só poder chegar em casa às nove da noite. E não que eu não goste de me manter em plena atividade de suprema e (pseudo)independência financeira e tal, mas é que cansa. Sabe? Construir o futuro num planeta onde o futuro só existe para os corajosos é difícil, cansativo, chato. Tá, é emocionante, mas igualmente chato.

Ser corajoso cansa. Guerrear dói. Persistir machuca. Cair frustra.

O lado bom disso tudo é que existe uma coisa chamada sonhar.

Acho que é nisso que eu me prendo mais do que tudo, ao sonho. Ao gostinho da vitória no final. É isso que me prende na batalha. É isso que me mantém em pé no T1 lotado ao meio dia. Que me mantém na cadeira da faculdade, enquanto o estômago ronca e o cartão de crédito passa por uma dieta rígida que me impede de gastar no lanchinho rápido entre as aulas. É o sonho e o amor. O amor a mim mesma.

Sabe?

Cheguei num level diferente nesse joguinho. Tipo um bônus, um check point, onde tu descobre algo a mais que não teria visto se não quebrasse a rachadura certa da parede certa no momento certo (helloo jogadores de Spyro). Cheguei no level em que descobri que me amo tanto a ponto de lutar pela minha própria felicidade. E não acho que isso seja egoísmo ou egocentrismo ou sei lá. Na verdade isso tem me dado forças.

Lutar por si mesmo, esse é o segredo.

Saber que o futuro depende das tuas ações, das tuas escolhas, das tuas verdades.

Ir ao alto e avante pela única pessoa no mundo que detém o poder verdadeiro e infinito de te fazer feliz.

Você mesmo.

Lembrem-se disso, guerreiros.

A luta continua, sempre e só finda na morte.

E, quando bater aquele aperto no coração, aquela vontade de jogar as armas no chão, de sair correndo pra de baixo das asas seguras da mãe, vamos tentar imaginar daqui cinco anos. O que o agora pode modificar no teu futuro de daqui cinco anos?

O futuro, a gente faz hoje.


 


 


 


 


 

O Palco de Dementes

Estive me abstendo de detalhes previsíveis , de minuciosidades insignificantes, de pequenices do cotidiano. Já não compreendo mais em que rua da saudade meu coração tem andado. OS sentimentos se confundem em um redemoinho confuso de explosões contidas no início da garganta.

Quase não há sentido no amor. Quase não há sentido no ódio. Mas a indiferença? Ahh, essa me deprime, me incomoda, me incita. Sou como um peixe ingênuo que, na sua ânsia por abocanhar o anzol, acaba morrendo na expectativa de sentir-se pleno. Um resultado injusto para tamanha bravura. Aliás, acho que nada se compara à bravura do peixe que, lutando por sua sobrevivência, acaba por morrer em batalha. São soldados de honra, tão louváveis quanto aqueles que dão a vida por sua nação. A inocência do peixe o torna santo, quase glorificado. Glória esta que ferve na água escaldante, que tosta na banha quente, que é brindada ao vinho tinto nas mesas católicas da Sexta-Feira Santa.

Já não acredito mais em louvores, em orgulho, em felicidade. São todos sentimentos que nos saltam aos hormônios como resultado de uma crença mal fundada. Podemos ser o que quisermos e isso não nos é contado na escola ou no desenho da Disney. E não é que, na maioria das vezes, escolhemos ser o nosso pior? Como se já não fosse o suficiente que o mundo em si já faça questão de ser o seu pior. Somos a vergonha da Via Láctea, acredite.

Fomos jogados nesse planeta atrasado e moribundo, com pessoas vazias, com almas corrompidas, com uma existência que se apaga em meio ao furor da alienação, como uma vela que comete suicídio com suas próprias brasas. Pergunto-me se Deus gosta do que vê. Se Ele, na sua sabedoria infinita, sente-se satisfeito com as plantas que a sua própria criação gerou e destruiu. Será que se orgulha? Será que, nas suas reuniões de Deuses inter-galácticos , Ele se gaba de nossas destruições intermináveis, dos nossos corações de pedra?

Sinto que a loucura se aproxima dos meus questionamentos, tornando minhas hipóteses absurdas. Não vejo mais dificuldade na existência humana. Aliás, nada nesse mundo de tormentos é tão fácil quanto existir. Viver é difícil. A vida enfrenta perigos que a alma não teme, que a mente não compreende, que o corpo não suporta. A existência está por um fio. O homem apenas aniquilando sua própria espécie como se essa fosse a coisa mais normal do universo.

Todo humanista prevê respeito e harmonia. Como se a paz fosse tudo o que mais desejamos. Bem, não é. O caos, a guerra, a dor, a luta, a sujeira... Tornaram-se indispensáveis! Todo mundo quer ter uma história de luta para contar a respeito de si mesmo, e isso tem de envolver sofrimento. Caso contrário, que graça há na vitória? Como se não fosse absurdo o suficiente simplesmente conviver com a miséria em si, do modo como convivemos.

Acho mesmo que esse mundo foi criado em um momento de euforia. Com todos esses vales e florestas e mares e animais e flores perfeitinhas. Mas, então, num impulso, Deus criou o homem, seu pior arrependimento. Deu ao homem o poder de controlar uma terra que não o pertencia, de destruir uma nação que não era sua. Deus perdeu-se em sua emoção, em seu amor, em sua ingenuidade. Teve, então, o descuido de dar-lhe liberdade. Assim, o homem, burro como é, fez tudo de errado que podia.

E aqui estamos nós, falando de peixes, desistindo do amor, questionando divindades.

Aqui estou eu, esperando por um milagre que me faça ver algum sentido nesse imenso palco de dementes, como já dizia meu amigo Shakespeare.

domingo, 17 de março de 2013

Quelqu’un M’a Dit – Carla Bruni

Bilhões de pessoas nesse planeta e são os seus beijos que eu sinto quando domingo se despede em uma noite comum de março. É a sua voz que eu ouço, mandando arrepios pelo meu corpo, enquanto as luzinhas azuis do meu quarto embalam esse espaço-tempo infinito chamado pré-sono.

E, agora mesmo, alguém sorri no parque japonês, observando borboletas, amando o passado e sentindo saudade do que ainda não viu. Alguém sorri para você. Seus olhos abaixam. Você pensa em como a menina poderia ficar bonita com uma flor no cabelo. A menina pensa em como suas narinas formam conchinhas perfeitas em cima de uma boca pequena. E então o amor nasce. Vocês não mais são perdidos e inusitados. Vocês agora viram cúmplices de palavras que nunca foram ditas.

Não é engraçado a forma como os quadrados e triângulos tem ângulos perfeitos e tão opostos uns aos outros? Somos isso. Eu e você e os outros. Milhões de formas geométricas em seus cubículos, dividindo um universo perfeito, repleto de ângulos imperfeitos. Somos tão quebrados e ainda assim tão completos. É assim que eu e você nos achamos por entre as teias milenares e impossíveis da via láctea.

Pedaços de poeira de meteoritos. Nós levitamos em meio ao nada, nos encontramos na lua. Eu e você. E os outros também, por que só Deus sabe o que mais pode haver entre os desencontros e destinos e tragédias dessa vida. Alguém toca violão naquele Bistrô charmoso em Paris. Você vê? E então a história começa. Dizem por aí que as pontes infinitas foram reconstruídas, que os meninos são mentirosos e que as mulheres choram demais.

Que pontes? Que meninos? Que mulheres?

A relatividade do universo dança em frente aos seus olhos infantis. Não tenha vergonha, estamos apenas brincando. O amor é lindo, vamos brincar de amor. Vamos brincar de sorrir. Vamos brincar de felicidade. Vamos brincar de escrever, por que é isso que fazemos. Nós nascemos para tentar ajeitar a órbita do planeta, pra tentar marcar a história mundial.

Ele entra pela porta dos fundos, escondido, medroso, ingênuo. Ela sai da cozinha, carregando uma panela com sua mais nova invenção. Chamam aquilo de sopa de legumes da onde ela veio, mas sabe-se lá de que chamariam no outro lado do continente. Ele levanta a cabeça, ela tropeça nos cadarços. O líquido salta. Eles se olham. E é aí que o amor nasce. Como uma criança indesejada. Vocês sabem que não podem, mas querem. E o mundo gira ao contrário, a poeira dos meteoritos começa a fazer sentido, New Armstrong jamais estará sozinho de novo. Vocês estão na lua. Ela gosta da forma como o cabelo dele enrola e espeta na cenoura crua. Ele gosta em como as unhas dela se torcem de nervosismo no avental amarelado.

Somos isso, eu e você. Formas erradas que se encontram no meio do universo, como pesos de medidas iguais em uma balança. Eu, você e os outros. Por que o resto do mundo também está inserido nessa imensa historia de amor.

Eu, você e as borboletas.

domingo, 10 de março de 2013

Esclarecimento

Só estou aqui porque queria te dizer que nunca foi apenas orgulho. Nunca foi apenas sobre o meu egocentrismo, sobre o seu egoísmo ou sobre a nossa inrolerancia. Nunca foi apenas sobre a minha mae, sobre o seu pai, sobre os nossos monstros. Te digo agora, com toda a certeza, que não foi apenas orgulho. Foi medo.

Desculpa ter de ser eu a te desiludir, meu amor. Mas eu não era orgulhosa. Eu era medrosa. 
Não era orgulho, era insegurança, era temor, era carência. Meu coração, aquele que vivia escondido embaixo das minhas milhares de camadas de tecidos protetores, se sentia sozinho e vulnerável. Você foi meu cavalheiro da tábula redonda. Você foi, por um momento, tudo o que eu tinha e mais queria ter nesse mundo. E se eu não era linda, carinhosa, meiga e atenciosa era por medo. Era por preconceito. Por ouvir sempre que quem gruda é esquecido. Que quem demonstra é pisado. Que quem sente demais, é burro e idiota e no final sempre se dá mal mesmo. 

E foi assim que você e seus carinhos e suas mãos e seus beijos e seus olhares foram parar a quilômetros de distância de mim. Foi assim que eu pus fim a um sentimento que nem o inicio ainda tinha conhecido. Você foi embora, levando minhas esperanças de manhãs quentinhas nos seus braços magros. Levando embora tudo que eu tinha medo de querer e, ainda assim, queria. Você foi embora, como uma forma da vida olhar bem pra dentro da minha alma, cruzar os braços e dizer "Tá feliz agora, minha filha?". E eu digo não pra vida, por que ela gosta mesmo de me confundir, de me esfregar na cara o quão eu sou errada e feia e torta e cheia das esquisitices improváveis aos olhos dos mundanos comuns. Você foi embora, deixando pra trás o legado de uma prova viva, um milagre divino de como eu tenho super poderes extra-sensoriais da mente e da física quântica e de milhões de babozeiras tecno-científico-lógicas que me forço a estudar. 

Você foi embora e se deu muito mal, apenas pra comprovar que minha teoria de que quem se entrega por amor se dá mal mesmo nessa vida e só tem a perder. 

Não que eu sina compaixão, saudade, alegria ou amor. 

Não me importo, sério mesmo. Nada que me instigue o interesse. Só gosto de manter coisas escritas por que assim me sinto mais leve e mais humana e mais maluca e mais mulher e mais você e mais menina. Nossas pontas soltas me enlouquecem, nossos dias abortados me deprimem. Tenho andado distraída, e  você não merece um terço dos meus pensamentos. Não que eu seja orgulhosa, mas é que tenho medo. Medo de pensar em você por três terços do meu dia e acabar virando um meio de uma pessoa quando finalmente entender que não ganho nada em troca disso. Medo de ser tão, mas tão humana a ponto de seguir o velho clichê dos errôneos sentimentalistas e incorrigíveis. Sem essa de que "humanos cometem erros". Sem essa de blá blá blá. 

Não gosto de pensar sobre a brevidade da vida, sobre a morte das relações, sobre a saudade dos dias nublados e nem sobre como fazer o futuro ser melhor do que o presente, por que o improvável, o inatingível e o sentimentalismo me assustam. Sou covarde, covarde, covarde até a última partícula das minhas células. Tenho tanto medo de ser humana que chego a querer ser bicho, e, no meu eu selvagem, perco meus pensamentos. Tenho tanto medo do arrependimento, que quase penso em fazer diferente. Quase penso em arriscar, em largar a faculdade, em mudar de terra, em cortar o cabelo. Mas tudo só quase, por que sou covarde e o mundo pertence aos corajosos. É que pensar em mudanças radicais me deixa ansiosa. Pensar em mudanças melhores me deixa assustada.

Como podem todos os outros afirmarem que a vida é linda e só se dá bem quem corre atrás? Longe de mim. Não me importo mesmo. Só queria mesmo esclarecer algumas coisas com alguns moços. Entendeu agora, rapaz?

Não que o problema nunca tenha sido você, por que foi.

Mas é que nem sempre foi apenas o meu orgulho.

Foi meu medo. 

terça-feira, 5 de março de 2013

Milésimo Projeto

Um litro de sorvete de uva passas ao rum, nove temporadas de Gossip Girl, quatro comédias românticas e uma relida em Orgulho e Preconceito depois, Becky Maddison continuava ainda se sentindo como uma porca solitária e espinhenta. Aos vinte e oito anos de idade e nenhuma perspectiva de vida, ela percebe que simplesmente não há uma solução para a existência masculina e muito menos para a dela própria.

Homens. O que eles esperavam, afinal? Que a poligamia fosse aceita como a coisa mais comum do mundo? Que fossem para o inferno todos eles e seus bícepes e suas bocas sedutoras. E seus cabelos curtos, seus dedos fortes, suas lábias enervantes. Não.

Becky agora seria, finalmente, gente grande. Mesmo que o sorvete a tivesse dado uma aparência roliça e a falta de banho tivesse produzido em sua pele umas amigas indesejáveis como espinhas. Mesmo que o idiota do Derek tivesse ido embora com seus músculos bronzeados e seu cabelo enrolado e sua língua aveludada. E que se dane aquele sotaque do sul da Inglaterra. Becky seria muito feliz e independente sozinha. Ela sabia disso. Embora não tivesse certeza de quando ou como.

Becky escreveria livros, daria a volta ao mundo, seduziria homens lindos e depois sairia em câmera lenta enquanto seus saltos prada vermelho prostituta fizessem aquele toc toc sedutor. Sim, Becky seria a mulher fatal dos contos de fada mais maldosos da literatura erótica universal.

Mas não naquele dia.

Naquele dia, ela só queria terminar seu sorvete enquanto um Sr. Darcy lindo e inglês declamava seu amor pela mocinha pobretona.