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segunda-feira, 22 de abril de 2013
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Eu antes de Você
Eu era apaixonada por cinzas, por dores, por lágrimas, por queijos e chocolates. Gostava de deitar numa tarde preguiçosa de quarta-feira e assistir Warner Bros, não importava que filme estivesse passando. Gostava de ir passear às cinco e comprar quindim às sete. Eu tinha uma câmera pequeninha, que nem era minha mas eu gostava de dizer que era pra me sentir mais livre e mais fotógrafa do que de fato era ou sou. Eu gostava de tirar foto das pessoas que eu mais amo no mundo, fazendo as coisas mais vergonhosas do planeta. Eu gostava de fazer carinho na barriga peluda da minha gata e ouvir o roronar prazeroso que saía daquela garganta cheia de mistérios indecifráveis dos gatos. Antes de você, eu tinha nojo de beijo, não subia em bicicletas e passava tardes entediantes com um livro nas mãos e uma arvore na bunda. Ou com a bunda em uma árvore, se você preferir.
Antes de você eu me apaixonei por um bando de caras impossíveis, perfeitos, sobrenaturais e até louros. Sim, eu já amei louros. Você sabe, eu prefiro os morenos barbudos com aquela cara de incompreendidos e aquele cheiro de suor e desodorante. Mas eu admito, já me apaixonei por louros. Um aconteceu na terceira série e o cara era bem tapado. Na verdade, ele nem era tão bonito. Mas como a minha melhor amiga, que era a menina mais bonita da escola inteira com seu corpo de quinze e cabeça de oito, o achava bonito, eu pensei "hey, até que não é má escolha". E aí eu tive meu primeiro triangulo amoroso. Não que tenha sido bom, por que não foi. É muito triste se ter oito anos e gostar de um menino louro que nem é bonito e não ter coragem de pensar em beijos e não se ter uma bunda sedutora pra chamar a atenção. Quer dizer, a minha amiga tinha. Mas isso não vem ao caso.
O segundo se chamava Shane. Ele era lindo, alto, mais velho, tocava guitarra e tinha sido criado pela Rachel Caine. Shane Collins, se não me engano. Aquele personagem lindo que tira a virgindade da Claie em Morganville Vampires, mas você não faz a mínima ideia de que livros são esses. Aliás, talvez você não tenha entendido ainda, mas já me apaixonei por muitos caras impossíveis. Tipo, impossíveis mesmo. Tipo, inexistentes. Tipo personagens de livros.
Ah, e recentemente, teve um terceiro louro. Mas esse daí era um anjo que eu nem pude me apaixonar muito por que achei que seria melhor se ele ficasse com a Luce. Daniel Grigori, era o nome dele. Tão lindo, tão profundo, tão musculoso. Desculpa, amor, mas quantos anjos tu conhece que teriam a coragem de desafiar – literalmente – a Deus e o mundo por um amor amaldiçoado por Lúcifer através de séculos e séculos de sofrimento? E esse daí, quem criou, foi a Lauren Kate, na sua saga inesquecível, Fallen.
Mas aí acabam meus louros. Eles definitivamente não fazem o meu tipo.
Então eu me apaixonei por uma porrada de morenos.
Tinha aquele lindo do Dimitri Belikov e, me desculpe, mas é muito difícil resistir a um sobretudo cowboy ou um sotaque russo, por favor né. O cara tinha dois metros de altura e aniquilava quinhentos strigois (vampiros mortíferos matadores de vampiros pacíficos) em questão de minutos. Como não me apaixonar? Esse dai quem me apresentou foi aquela ruivinha, Richelle Mead. A Deusa dos caras lindos, só pode.
Daí teve também o Jace. Ahh, aquele cowboy vindo diretamente do faroeste americano para o meu quarto. Mesmo fantasma, mesmo assustador, mesmo fora de tempo, ele era lindo. E, sim, eu me apaixonei por ele também. Aquela tal de Meg Cabbot pegou pesado no quesito fantasma conquistador e acabou fisgando meu coração também.
E então eu fui ficando mais velha, mais louca e mais exigente. Então eu li Orgulho e Preconceito. E não é que me apaixonei pelo tal do Sr. Darcy? Fala sério tá. Só isso que eu digo. Fala Sério. E quem, em plena consciência, não se apaixona por aquele cara? Tão elegante, tão educado, tão profundo, tão alto, tão classudo, tão inglês. Sério, tá. Sério Jane Austen. Que dom mais incrível esse teu, de juntar num homem só, tudo que precisamos para sermos felizes.
Teve o Patch. E esse era bem malandro. Ô anjinho mais galinha, viu. Foi o que mais me deu trabalho. Eu vivia uma relação de amor e ódio com ele. Aliás, que cara idiota. Pelamor. Becca Fitzpatrick se puxou quando quis criar um cara comum e perfeito ao mesmo tempo. Se puxou mesmo. Até me apaixonei. Até tive uma relação de tapas e beijos. E não é como isso fosse muito normal, acredite.
A questão é que, eu não tinha vida social.
Antes de você, meu amor, eu não saía, não usava roupa curta, não passava maquiagem, não bebia. Antes de você, eu não saía de casa num sábado a noite, eu não trocava meus livros pelo Cabaret e nem sentia frios na barriga só de pensar nos beijos de alguém. Eu não sabia como era bom ter tanta liberdade a ponto de se sentir sufocada pelo mundo. Ter tanto amor, a ponto de querer ficar sozinha. Ter tanto tanto, a ponto de querer ter tanto pouco.
Antes de você eu era uma menina, uma criança tão distante desse mundo corrosivo que chegava a ser cômico. Vivia colocando a mim mesma atrás de uma muralha, enfeitada com duendes, fadas, vampiros, fantasmas, castelos, livros, sonhos. Eu tinha um brilho inocente, uma voz mais fina, uma barriga maior, um cabelo mais quebradiço, uma pele mais oleosa, um sorriso mais pesado, uma lágrima mais seca, uma boca menos apelativa.
Nunca fiz o tipo feliz, escandalosa, alegre, pulante ou carnavalesca. Antes de você eu gostava de cemitérios e ossos. Gostava de imaginar minha vida solitária, meus gatos companheiros, minha família distante. Antes de você, as tardes pareciam infinitas, as manhãs pareciam enjoativas, as noites pareciam intermináveis.
Eu tinha lá meus quinze anos e ficava olhando para o céu, todas as noites. Eu olhava a lua, assim como quem não quer nada, e pedia pra Deus e os alienígenas habitantes de planetas desconhecidos me mandarem alguém legal pra preencher aquele vazio que me ardia no meio do peito. Eu olhava pra todas aquelas estrelas, tarde da noite e pensava que talvez a vida pudesse ser algo bonito no final. Que talvez, se eu me comportasse e fosse boa aluna e não fumasse e não beijasse e não usasse saia curta eu pudesse um dia ser feliz. Que nem as princesas que sofrem tanto até que um dia ganham um castelo, um amor e um cavalo. Não na mesma ordem, mas tipo isso.
O mais triste foi quando eu me dei conta que a Disney tem esse péssimo costume de alienar mentes em formação. Eu fui alienada, enganada, ofendida, manipulada. E tudo pelo cara que criou o Mickey. Se eu pudesse falar com ele, eu diria "Pô Disney, custava tu criar uma princesa sem os dentes? Custava tu criar uma Negra de Neve? Custava tu criar um Príncipe Gay? Custava tu criar uma Rapunzel aleijada? Custava tu criar um arco e flecha para a Bela Adormecida? Custava tu matar os príncipes e me ensinar a esperar pela vida ao invés de esperar por um cara? Pô Disney, custava?".
Foi triste mesmo, por que agora percebo que as minhas noites e o meu buraco inquietante no peito e a minha esperança quase que violenta em que tudo ia dar um jeito de se encaixar, não passaram de crenças errôneas, não passou de ilusão. Antes de você, as estrelas costumavam ter um outro brilho, os aviões pareciam maiores do que o mundo e as músicas do meu MP3 falavam de poças e lágrimas.
Antes de você eu não tinha crescido em tanta, mas tanta coisa, que talvez você nem me conheça agora, como eu mesma não me conheço também. Sou outra pessoa, com o mesmo nariz. Sim, por que só o nariz não mudou.
Prazer, essa sou eu antes de você. Triste, rechonchuda, jovem e esperançosa. Esperançosa de que, você vai me perguntar. Mas aí é que está a curiosidade. Eu não sabia! Só tinha aquela sensação formigante dentro das minhas costelas. Aquela sensação de que algo grandioso ia me acontecer. Algo forte mesmo, que ia fazer tudo girar e começar a fazer sentido em meio aos meus dias pacatos, aos meus livros repetitivos, à minha mente atrofiada.
Essa sou eu antes de você: Esperando que minha vida girasse milhões de vezes até bater na tua e fazer todo esse redemoinho sem sentido parecer ao menos um pouquinho mais leve. Esperando pelo momento em que as estrelas fossem cair, uma a uma, nessa poça de escuridão que eu tinha me formado.
Essa sou eu agora: Tão você que quase não acho eu mesma dentro de mim mesma. E nem é como se eu pudesse dizer que é algo ruim. Por que, acredite ou não, não é.
Viva la Revolución – Porto Alegre, Parte II
Em um planeta onde o conformismo e a preguiça levaram embora heróis de guerra que dificilmente serão substituídos, como Che Guevara ou Joana D'arc, eis que, das cinzas de uma democracia hipócrita e preconceituosa, surgem os guerreiros do século XXI para mudar os meus velhos conceitos.
Não vou chegar aqui e repetir tudo o que eu tinha escrito no último texto mas, só para recapitular, saibam que os porto alegrenses me enchem de orgulho por sua garra, por sua união, por sua força de vontade. Eu, como porto alegrense apaixonada e patriota (não que não ache o patriotismo uma espécie de fanatismo ideológico que pode ser levado às ultimas e piores consequências....) tive de levar minha imponente presença até a prefeitura e exercer todos os meus poderes de democrata ativa.
É, isso mesmo. Eu, a democrata ativa.
E não é que aquele aguaceiro brabo de quinta-feira não impediu que cerca de duas mil pessoas enchessem as ruas do centro com gritos e atos de inconformismo? Pois saibam, meus amigos, que até a arquitetura imponente da minha Porto Alegre fora violada por aquele bando de anarquistas visionários. Claro que se eu estivesse em situação mais favorável (com galochas e uma capa de chuva bem grande e forte e resistente) teria me unido a eles, mas como eu estava lá, com meus humildes vans sofrendo todas as dores e alegrias de serem feitos de camurça, me mantive segura em terreno plano. Não sem antes ficar extasiada e louca para subir junto e xingar aos Deuses Nórdicos por tirarem de mim o dom do equilíbrio.
Claro, a tempestade INCESSANTE daquele fim de tarde não impediu que bradássemos em prol de um direito violado. Não impediu que pulássemos, dançássemos, pichássemos (veja bem, eu não pichei nada, mas pensemos na coletividade) e vandalizássemos (lembra da história da coletividade? Er) patrimônios públicos. Vou te dizer, com essa minha vasta falta de experiência no mundo, nunca presenciei um pichador em ação. E também nunca cheguei perto de fumadores de maconha. Então bem, (sim, tinham pichadores e maconheiros bradando por uma Porto Alegre mais justa enquanto dezenas de policiais não moviam um mísero dedo para captura-los em flagrante) foi um pouco impactante. Um pouco selvagem também, pra mim, que sou virgem nessas coisas de rebeldia. Ou era. Perdi minha virgindade naquele dia. Em meio à chuva, ao barro, à maconha e ao cheiro forte de Collorgin (acho que é esse o nome do spray que eles usam pra pichação, corrijam-me os entendedores).
Não importava o credo, a cor, a classe social, o partido político. Era uma coisa bonita de se ver, aquela união de corpos massificados em um só. Aquela sensação de "estou movendo minha bunda por algo útil" tomava conta dos meus nervos, veias e tendões. Aquela paz de estar dando minha parcela de comparecimento a um povo demasiadamente explorado pela pseudo liberdade de um sistema baseado na ascensão de poucos, em breve transformou meu cansaço em revitalização. Não importava a agua. Não importava se meu pé era de madeira. Tá, importava sim. Importava tanto que tive de abandonar a batalha antes que tivesse de abandonar a própria perna. Mas a questão não é essa. Devemos nos ater ao decorrer dos fatos, aos resultados. Devemos nos ater à força de milhares de pessoas, independente de suas índoles e condutas, que, por bradarem ou picharem ou vandalizarem uma cidade corroborada por um poderio abstrato (leia-se: governo), salvaram os bolsos da maioria da população de serem, cada vez mais esvaziados.
É isso mesmo que vocês estão pensando.
Esse bando de vândalos, anarquistas sem cérebro, burgueses entediados e até mesmo estudantes alienados, conseguiram.
Nós conseguimos.
O preço da passagem foi, de terríveis três reais e cinco centavos, para nem-tão-terríveis-assim dois reais e oitenta e cinco centavos. É isso aí galera, quero ouvir aplausos e urros de alegria. Quero ouvir um "Iêêê" e agora um "Iôô".
Se tem os contras? Claro, óbvio que tem. O que não faltou nesses protestos, foram partidos políticos tentando bancar os "amiguinhos" do povo, os guerreiros de luz da mudança democrática gaúcha, com suas bandeiras balançando nos ventos que já não andam lá tão favoráveis ao nosso exímio Fortunatti.
Não faltou também uma maneira de a prefeitura driblar essa vitória com uma maneira bem sutil de pagarmos por nossos brados.
Eis que a frota de ônibus que saem das garagens de Porto Alegre, diminui consideravelmente de número, deixando-nos, pobre proletariado, com nada mais e nada menos do que uma tranqueira dos infernos para F#%% com a nossa vida às seis da tarde. O inferno urbano que uma cidade tão "preparada para a Copa" deveria ter superado há muito tempo. Que transito é esse meu Deus? Tá, eu moro longe de tudo quanto é lugar existente nesse cubículo de município. Mas até mesmo o meu ônibus (um dos mais demorados de todos os tempos) já teve seu tempo de gloria, de velocidade, de atendimento às minhas expectativas que sempre anseiam pela minha casa.
Que que é isso, minha gente?
Esse é o nosso Estado, sempre tão preocupado em nos manter satisfeitos e sorridentes. Sempre tão preocupado em honrar uma paulada de artigos que só falam baboseiras não materializadas naquela tal de Constituição Federal de 1988. Aliás, Constituição essa que é reconhecida como Lei Suprema (daquele tipinho brabo que precisa ser seguido à risca). Imagina se fosse uma Constituição flexível e pouco importante? Estaríamos vivendo na Anarquia em sua forma nua e crua.
Como dito anteriormente, é preferível a derrota de uma batalha do que o vencimento sedentário da guerra. Estamos lutando, meus caros. Estamos chegando lá. Devagar, mas estamos. E isso já é um ótimo começo.
Eu acho.
Ou melhor: Eu espero.