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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Olá, mundo

Quando eu tinha uns doze ou treze anos, lembro de odiar minha vida. Odiava minha casa, meu corpo, meu país, meu computador, meu quarto, meus cabelos, minha bunda. Odiava minha rotina de ócio interminável, minha mania de querer ter sempre mais. Desenvolvi uma teoria de que o universo inteiro conspirava contra a minha felicidade, quase como um sistema cármico hindu que tendia a me foder no sentido mais espetacular da palavra. Exageros hormonais à parte, eu estava certa. O mundo conspira contra você quando você acredita nisso. Que vão para o inferno as comprovações científicas dos céticos mau humorados que zombam da sábia lei da atração. Danem-se os milênios de matemática e lógica e frieza estampadas nos li-vros de ciências da modernidade. Você tem o que você pede. Certo? Certo. Por isso cá estou eu, aos vinte anos de idade, conseguindo ser tão monótona e en-tediante quanto aos doze. Não odeio tanto assim a minha vida. Não odeio tanto assim o meu cabelo. E, honestamente, aprendi a conviver em paz com a minha bunda. Estabeleci um acordo de trégua mútua entre mim e o universo. Nada de tragédias catastróficas por agora. Nada de conquistas grandiosas. Eu emiti para o mundo que queria dar um tempo para me recuperar do ultimo baque e foi exata-mente isso que eu recebi de volta: o tempo. Assim, enquanto a minha fossa vai embora por métodos alternativos, o resto do planeta parece avançar mil anos luz e ainda assim continuar parado. Porto Alegre esquenta, Nova Iorque esfria. Os ônibus param, o trânsito segue, os homens são esquartejados, as mulheres mostram os peitos na Ucrânia. Adolescen-tes morrem em festas universitárias, cachorros morrem em laboratórios, velhos renascem no caixão fechado a sete palmos do chão. Relacionamentos terminam, traições começam, homossexuais casam. A cada dois passos, um retroage. A cada minuto, uma volta pra frente, uma rotação transversal. Nossos minutos são conta-dos em tiques de moedas. O relógio não faz mais tique-taque. O sistema capitalista prospera, o neo-liberalismo ameaça a paz dos sonhadores. O comunismo vira dita-dura, Dilma não fala sobre aborto, mulheres morrem em clínicas clandestinas, a França vem jogar na copa das federações no Brasil. E eu? Fiz uma tatuagem semana passada, cravei na nuca o símbolo russo da batalha. Sou quase uma caçadora de vampiros criada por Richelle Mead, não fosse minha falha em permanecer sendo uma pessoa de carne e osso. Comecei a fazer academia e usar expressões novas como “malhar”, “treino”, “série” e “frutas suculentas”. Fiz algu-mas cirurgias. Ultrapassei a barreira dos doze meses em um relacionamento sério com o primeiro homem que, mesmo quando sente uma vontade gigantesca de fugir de mim, permanece. Derrubei garrafas de vinho, garrafas de Smirnoff, garrafas de Tequila, garrafas de acetona. Vomitei meus sentimentos claustrofóbicos na privada dos pubs da cidade baixa. Diziam que era culpa da gastrite, então comecei a tomar dois comprimidos de omeprazol por dia, pra ver se consigo manter no estômago a minha ansiedade por devorar o mundo. Não funcionou. Os enjôos ainda me abatem, as manhãs ainda são quentes, o pla-neta ainda gira ao contrário, as calotas polares derretem, os cães americanos con-gelam. Meu coração é bipolar, meus olhos tem labirintite. Os dias caem nos meus ombros como uma doença, um peso morto que eu carrego pelas ruas. Não que eu esteja infeliz, só preciso de um tempo. Enquanto a minha covardia não amadurece e vira borboleta. Olá, mundo. Essa sou eu mandando você foder a si mesmo.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Que

E eu, que faço? E eu, que leio? E eu, que espero? E eu, que morro? Eu que sou egoísta. Eu que sou exagerada. Eu que sou extensa. Eu que me escondo em palavras. E tu, que fizestes? E tu, que acreditas? E tu, que esperas? E tu, que excitas? Somos insignificantes. Somos intoleráveis. Quase amantes. Quase intocáves.

Começo do Fim

Taí. Simples e direto. Nosso fim. Ou o começo de um fim que precisa existir para que se faça um novo começo. Não que eu espere que você volte, por que você não vai. Mas eu vou esperar. Eu sempre espero. Esse talvez seja o grande problema de quem ainda tem um pingo de diginidade no coração: Amar para sempre. Não sei apagar, riscar, esquecer, jogar fora. Coleciono amores impossíveis, amores doloridos, amores acabados, amores quase começados. As possibilidades escorrem pelos meus dedos, não vejo saída. Vejo ambulâncias e viaturas. I think we have an emergency. Você está ocupado demais com o nosso futuro para perceber que o presente está em ruínas. Eu estou preocupada demais com o nosso presente para conseguir construir um futuro. Simples e direto. Taí. O nosso fim.