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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

L'Amour

O amor virou algo tão comum que qualquer um pode simplesmente sentar e es-crever sobre ele. Como se fosse um assunto banal, recheado de clichês e senso comum. Acho que, na verdade, o amor é um grande mistério. Por exemplo, você pode até saber que sente amor, mas não consegue descrevê-lo. É invisível como o ar que você respira. Essencial como a água que você bebe. Mas menos físico, menos sensitivo. É quase como a dor, um estímulo enviado pelo cérebro. Essa é a coisa mais triste que eu tenho para dizer a você: O amor é um estímulo enviado pelo cérebro. Talvez uma enganação. Não sei, sou leiga nesses assuntos de cérebros, estímulos nervosos e sentimentos. Não sei explicar direito, mas nossos sentimentos não são palpáveis. Não é algo que você possa escolher ou segurar ou vender ou manipular. Nossos sentimentos são como Deus. Alguns acreditam, outros não. Mas para os que tem fé, não importa a sua crença, ele está lá. Como a lei da atração, a lei da gravidade, a lei da Maria da Penha. Você não pode vê-la, mas ela será aplicada. Eu também tenho uma visão otimista sobre o assunto, ok? O amor, você sentindo ou não, estará lá. Você acreditando ou não, assumindo ou não. Seja por uma pessoa, por um animal, por uma lembrança, por uma crença. O amor é o sentimento mais belo e forte do mundo, já diziam os contos de fadas. É invisível e inquestionável. Impossível e inimaginável. Requerido e o sentenciado. O amor é o culpado e o inocente. O motivo e a escapatória. A dor e o alívio. É fogo que arde sem se ver, já diria o imortal Mário Quintana. Meu primeiro amor nasceu há alguns tantos anos atrás, quando eu ainda nem sabia resolver equações. Não que eu saiba resolver equações agora, mas naquela época eu não fazia ideia do que se tratava. Não que eu faça ideia do que se trata agora, mas enfim. Meu primeiro amor foi pelo menino mais estranho da escola. Eu tinha seis anos, ele sete. Ele brincava de pegar comigo (com a desculpa do trocadilho) e eu brincava de esconder com ele. Um dia, ele me beijou no rosto. Eu nunca mais esqueci. Eu não sei direito se isso é amor, se isso foi amor, se isso continua amor. EU sei que senti alguma coisa, um soco no estômago, um esquentar de bochechas. Nunca mais falei com ele. O amor assusta. Meus amores seguintes não foram muito diferentes. Sem beijos. Existiam apenas na minha cabeça. Existiam apenas a metros de distancia de mim. O amor era assustador demais para ser tocado. O platônico parecia mais bonito. Meu primeiro beijo foi lindo, na minha cabeça. Eu os amava. Perdidamente. Incontrolavelmente. Terrivelmente. Insanamente. Ingenuamente. Mas não era amor. Era paixão. Essa coisinha boba que faz a gente tremer e se es-conder. Amor assusta, mas é mais leve, mais manso, mais discreto. Sei disso por que o amor, o amor de verdade, apareceu de forma quieta, se instalou dentro de mim e nunca mais saiu. Primeiro veio a paixão. Fez todo o estrago que só ela sabe fazer. Todo o vendaval de emoções descontro-ladas. E então, junto com o meu primeiro beijo, veio o amor. Depois de ter me revirado de cabeça para baixo, tapado meus olhos, amarrado minhas pernas, abatido meus pensamentos. Depois de ter me tirado as tripas para fora e colocado de novo, chegou o amor. Como uma ambulância sem sirenes. Pronto para me salvar e me enviar para uma nova fase dessa vida real, com retri-buições e caras que existem. Chegou o amor. E o amor é um cara chato, que não sai do meu pé. Fica aqui, o dia inteiro. Preso no meu coração. Gritando nos meus ouvidos. Apertando o meu estômago. Enchendo minha garganta de borboletas. Colocando um sorriso no rosto, um peso na alma, um choro escondido nos medos do futuro. O amor chegou de braços abertos, mesmo sabendo que eu não estava preparada. Por que a verdade, é que o amor sabe quando você está preparada antes de você saber. Eu enganchei minhas pernas, subi no colo dele e nunca mais saí. O que é meio preocupante, quando se é uma feminista praticante e se tem um princípio de vida de se manter independente. O amor vicia. É uma droga da boa, te faz engordar, te faz emagrecer, puxa os teus cabelos, sussurra no seu ouvido, dá tremeliques na sua bexiga, escorre pelas suas partes intimas. O amor não é bonito e cheiroso. Fede a desejo de homem, tem gosto de batom de morango estragado. É morno sem ser sonso. É borbulhante sem ser exagerado. É colorido, mesmo quando se mantém em preto e branco. É sépia, mesmo com os filtros desligados. O amor não tem cara, não tem coração é como uma doença que se instala dentro da gente e não sai nunca mais. Permanece ali, como quem não quer nada, consumindo sua energia, manipulando suas ações, alegrando seus pensamentos, adoecendo as suas doenças. O amor pode curar quando é retribuído. Pode matar quando é ignorado. Amor sem amor não sobrevive. A indiferença é o oposto. O ódio é a energia. Você não pode fugir, não pode se esconder. Você pode fechar os olhos e fingir que não sabe, mas ele está lá. Quando dói e quando cura. Quando sorri e quando chora. O amor é uma parasita que se alimenta do seu sangue, consome sua energia, ali-menta sua alma. Você se sente atropelado por um vagão de trem europeu e ainda assim quer mais. Você se sente voando acima das nuvens e ainda assim não é o suficiente. É uma energia renovável, como a luz solar. Não se sabe da onde, não se sabe por quem. É quase como um encosto que fica do seu lado. Só que dentro de você. O amor é uma possessão que nenhum exorcista vai conseguir tirar. Parece até coisa que Deus criou para mostrar sua grandiosidade. Para os céticos, parece até coisa que se criou depois do big bang para que os hu-manos pudessem ser mais fortes. Darwin não previu isso. Uma auto sabotagem de nós mesmos. Mais de mil anos de evolução e quase todas as doenças tem cura. Menos o câncer, a aids e o amor. Amor não tem remédio, não tem reza, não tem simpatia, não tem injeção ou vacina certeira. Não tem estaca de prata, nem veneno contado, nem anticoncepcional, nem mágoa maior que acabe. O amor é independente. Começo a pensar que não sou eu quem amo. É o amor que humana.